Vacinação contra a covid-19 nas pessoas com mais de 85 anos  continua a ser superior a 65%.
Vacinação contra a covid-19 nas pessoas com mais de 85 anos continua a ser superior a 65%.

Portugal comprou 2,3 milhões de vacinas contra a covid-19, mas há menos pessoas a vacinarem-se

Campanha sazonal contra a gripe e covid-19 começa esta terça-feira e vai até abril de 2026. A grande novidade é a vacinação gratuita para bebés dos seis aos 24 meses contra a gripe e o facto de os que têm entre dois e cinco anos poderem ser vacinados com prescrição médica. Quanto à covid-19, a DGS deixa um alerta: “Há menos vacinação, mas o vírus continua a provocar doença grave.”
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Na campanha de vacinação sazonal do ano passado (2024-2025), foram vacinadas em Portugal quase 2,5 milhões (2.405.201) de pessoas contra a gripe e quase 1,6 milhões (1.569.092) contra a covid-19. A expectativa para a campanha deste ano (2025-2026), que irá decorrer desde esta terça-feira até abril de 2026, é que atinja os mesmos números do ano passado, embora o subdiretor-geral da Saúde, André Peralta, tenha admitido ao DN que tal possa não acontecer no que respeita à adesão da vacina contra a covid-19.

Para já, na véspera do lançamento da campanha sazonal 2025-2026, cuja cerimónia decorrerá durante a manhã desta terça-feira, na Unidade de Saúde Familiar Novo Sentido, no Bairro do Cerco, no Porto, o subdiretor-geral anuncia que o país já adquiriu o número de doses necessárias para proteger todas as pessoas que integram os grupos elegíveis. “Foram adquiridas 2,1 milhões de vacinas da gripe normal e mais 350 mil de dose elevada para as pessoas com mais de 85 anos. E ainda 2,3 milhões de doses contra a covid-19” - ou seja, um total de cinco milhões de vacinas.

Ao DN, André Peralta salienta mesmo que “às farmácias e aos centros de saúde já chegaram mais de um milhão de vacinas contra a gripe e dois milhões contra a covid-19. Nas próximas semanas, chegará o remanescente do que foi encomendado para esta campanha. O nosso objetivo é conseguir vacinar rapidamente todos os grupos elegíveis antes da época dos vírus respiratórios, que habitualmente começa em dezembro”.

Mas, e apesar de se terem adquirido 2,3 milhões de doses contra a covid-19, e de o objetivo da DGS ser o de vacinar tantas pessoas quantas as do ano passado (quase 1,6 milhões), André Peralta assume recear que, na prática, tal não se concretize. Isto porque, “temos notado que, de ano para ano, após a pandemia, a hesitação vacinal contra a covid-19 tem vindo a aumentar”, constituindo a situação “uma preocupação” para a Direção-Geral da Saúde (DGS). E deixa um alerta: “O vírus continua a provocar doença grave.”

De acordo com os dados registados no relatório final da campanha sazonal de 2024-2025, publicado a 29 de abril de 2025, entre a faixa dos 60 e os 69 anos só foram vacinadas 435 756, o que representa uma taxa de cobertura apenas de 33,58%. No grupo dos 70-79 anos foram vacinadas 517 489 pessoas, equivalente a uma cobertura de 50,84%, enquanto no grupo dos 80 aos 84 anos foram 186 151, 53,48% de cobertura. E a partir dos 85 anos, apenas se atingiu uma cobertura da ordem dos 65%, com 223 mil pessoas vacinadas.

O subdiretor-geral explica que o aumento da hesitação vacinal tem por base vários fatores, como “as pessoas terem deixado de ter medo da covid-19. Acham que já não causa doença grave e, por isso, não se vacinam”. No entanto, sustenta, este fenómeno é mais notório nos grupos elegíveis de idade menos avançada, porque “nas faixas etárias mais avançadas as pessoas continuam a vacinar-se. Sabem que quanto mais idade têm, maior é o risco de doença grave, e acabam por se vacinar”.

Outro fator que tem contribuído para a hesitação vacinal contra a covid-19 e que André Peralta diz não se poder negligenciar é, “obviamente, o fenómeno de uma certa comunicação que tenta promover essa hesitação, sobretudo contra as vacinas de RNA e contra a covid-19”. Segundo afirma, quer se queira quer não, é um fenómeno que “acaba por ter algum impacto”, embora não o consigamos quantificar”, argumentando, contudo, que este “não é um fenómeno português, mas sim global e já homogéneo a nível europeu”.

O subdiretor-geral faz questão de sublinhar que a mensagem importante é que “Portugal continua a estar no topo dos países com maior taxa de cobertura vacinal, quer no que respeita à campanha sazonal (até porque em relação à gripe há uma grande estabilidade na adesão à vacinação, mais de 85% nos grupos de maior risco), quer a nível do Plano Nacional de Vacinação”, destacando: “A DGS tem vindo a monitorizar este fenómeno de hesitação vacinal, que é relevante a nível mundial e que vemos com alguma preocupação o seu crescimento. Mas o nosso trabalho, de todos os profissionais envolvidos no processo da vacinação, é precisamente o de manter a confiança da população portuguesa na vacinação, tanto a dos pais de crianças e bebés como a dos portugueses que já podem tomar a decisão por si”.

André Peralta aproveita até para relembrar alguns números: “Portugal é dos países que tem uma taxa de cobertura vacinal de 95% a 98% no Plano de Vacinação, e de 70% a 85% na vacinação sazonal, contra a Gripe e até 65% contra a covid-19, o que não acontece em outros países da Europa.”

Bebés dos seis aos 24 meses vão poder ser vacinados contra a gripe

A grande novidade da campanha deste ano é a vacinação para crianças dos seis aos 23 meses contra a gripe, de forma gratuita. Uma decisão que, segundo explica o subdiretor-geral, tem por base a recomendação da Comissão Técnica para a Vacinação. “A DGS acompanha desde sempre a evolução da vacinação, quer em termos de vacinas disponíveis, quer em termos de recomendações para grupos de risco. E, este ano, a nossa Comissão Técnica para a Vacinação recomendou a vacinação deste grupo”, precisamente por se ter chegado à conclusão que “muitos bebés dos 6 meses aos 2 anos têm sido internados com gripe - embora, felizmente, com recuperação total - e, depois, com algumas infeções bacterianas, que são resultado da fragilidade causada pela infeção do vírus da gripe”. Ora, havendo “uma vacina segura e eficaz para este grupo populacional e, acompanhando também a recomendação feita já por outros países, como o Reino Unido, a DGS decidiu avançar para a vacinação gratuita contra a gripe das crianças”.

Neste sentido, os pais que pretendam vacinar os seus filhos só têm de contactar o enfermeiro de família da sua unidade de saúde para agendarem a vacinação. Quanto às crianças que estão entre os dois e os cinco anos, o subdiretor-geral explica que estas também poderão ser vacinadas, mas não de forma gratuita. “Os pais necessitam de ter indicação do pediatra para adquirirem a vacina nas farmácias, que custa mais ao menos dez euros, e depois podem contactar o seu centro de saúde para agendar a vacinação da criança, que é um ato gratuito”.

Na campanha para este ano, e tal como aconteceu pela primeira vez no ano passado, a DGS manteve também os 60 anos como limite para a vacinação gratuita contra os dois vírus. “No ano passado, tivemos uma adesão da população desta faixa etária à vacinação de cerca de 70%, o que é significativo e que acreditamos que resultou no período epidémico de gripe relativamente suave e sem grandes períodos de excesso de mortalidade que tivemos”.

Em relação aos restantes grupos de risco, não há mudanças mantendo-se o grupo dos doentes com doença oncológica ou outras doenças crónicas graves, independentemente da idade. A população adulta com mais de 18 e menos de 60 anos, se se quiser vacinar contra a gripe ou covid-19 só o poderá fazer com prescrição médica para adquirir as vacinas nas farmácias.

O lema para este ano é: “Vacine-se e proteja os momentos mais importantes”, o que, sustenta o subdiretor-geral, significa que esta “é a forma mais simples e mais segura de nos protegermos contra a doença grave causada quer pela gripe quer pela covid-19”. André Peralta diz mesmo que esta “é uma das mensagens mais importantes”, porque tanto um vírus como o outro ainda causam doença grave e mortalidade.

Vacinação poderá ser feita em 2600 farmácias

Este ano, quase mais 100 farmácias aderiram ao programa de vacinação contra a gripe e covid-19. Ao todo, são 2600 farmácias que a partir desta terça-feira, dia 23 de setembro e até abril de 2026, estão disponíveis para vacinar a população em Portugal durante a campanha sazonal de 2025-2026.

Em termos de organização do processo, a presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), Ema Paulino, garantiu ao DN que está tudo pronto, não se esperando sequer constrangimentos como os que ocorreram no ano passado, como falta de vacinas. “Este ano, não se esperam constrangimentos em relação à disponibilidade de vacinas. Neste momento, as farmácias já têm as vacinas necessárias para começar a vacinação”.

Ema Paulino explicou ainda que o processo organizativo é idêntico ao do ano passado, em que, pela primeira vez, as farmácias passaram a poder vacinar contra a gripe e covid-19. “As pessoas que integram grupos de risco elegíveis para a vacinação poderão agendar a toma das vacinas na nossa plataforma online ou, então, podem dirigir-se diretamente à farmácia, sendo esta a forma que a maioria das pessoas prefere para fazer o agendamento”.

De qualquer forma, esclarece ainda, “teremos farmácias em regime de porta aberta - ou seja, que administram a vacina no momento sem ser necessário agendar”.

Para Ema Paulino, a adesão da vacinação nas farmácias registada em 2024 (mais de um milhão de pessoas) só prova que há capacidade para realizar estes atos. “Temos profissionais, horários de funcionamento mais alargados e estamos mais próximos das pessoas, embora o nosso objetivo seja complementar a ação dos centros de saúde”.

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