Apoiantes de Paulo Rangel esperam que Rui Rio faça "limpeza grande" nas listas a deputados

Conselho Nacional do partido reúne dia 7 dezembro para discutir e aprovar listas às eleições legislativas. Rio tem de negociar nomes com dirigentes que estiveram contra ele nas diretas.
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As contas já devem estar feitas na cabeça de Rui Rio. Quem vai manter e deixar entrar nas listas de candidatos à Assembleia da República e quem vai deixar cair. Curiosamente, mesmo os apoiantes de Paulo Rangel, que perdeu as eleições internas, reconhecem ao líder eleito o direito de "fazer uma limpeza a sério" nos nomes que não o apoiaram nesta corrida interna e a contra-relógio para as eleições legislativas. As listas vão ser já conhecidas no Conselho Nacional (CN) marcado para 7 de dezembro, em Évora.

E apesar da ideia de que é preciso unidade no partido a tão pouco tempo das legislativas (dois escassos meses), alguns apoiantes de Rangel esperam que Rio acabe mesmo por afastar alguns dirigentes que estiveram com ele em 2019 e agora passaram para o lado do adversário.

"Deverá fazer uma limpeza muito grande", diz um dos apoiantes de Rangel, lembrando que restavam poucos deputados na bancada parlamentar que foram resgatados às hostes de Luís Montenegro. "O pior agora é que Rio vai ter, muito provavelmente, que afastar indivíduos que ele tinha escolhido." Outro dos apoiantes de Rangel é ainda mais taxativo sobre o que o líder eleito devia fazer: "Rio tem, neste momento, condições para correr com uma parte dos presidentes das distritais do Parlamento", diz esta fonte ao DN, acrescentando que apenas o do Porto (Alberto Machado) e o do Algarve (Cristóvão Norte) "têm trabalho jeitoso na Assembleia da República".

A que acresce a ideia de que se estes dirigentes distritais do PSD - a que se juntam, por exemplos os líderes daquelas estruturas de Coimbra (Paulo Leitão), Viseu (Pedro Alves) e Santarém (João Moura)- "levaram uma coça" depois de terem apoiado a corrida do eurodeputado à presidência do partido e se viram as bases do PSD preferirem Rui Rio "é porque não estão em sintonia com os militantes e muito menos com os eleitores que deviam representar".

No discurso de vitória, Rio sinalizou precisamente esta ideia de que "os dirigentes de concelhia e distritais têm de se ligar mais aos militantes, pois foram num determinado sentido e o povo disse não". E ainda reiterou que esteve sempre disponível para fazer a unidade: "Agora só se consegue fazer unidade com que está disponível. Já aprendi que muitos dizem que querem unidade e depois não querem unidade nenhuma."

Mas ele é "pragmático", afirma outro dos apoiantes de Rangel, e "não dispensa quem precisar para o ajudar a ganhar as legislativas".

Riscar alguns presidentes das distritais, com as quais ainda a direção nacional vai negociar as listas, não é, no entanto, provável. Estas listas terão de ser aprovadas em Conselho Nacional, onde estes militantes de topo têm lugar e direito de voto. Mas o mesmo apoiante de Rangel insiste que "Rio saiu reforçado desta eleição porque teve muitas destas figuras contra ele e nem precisa deles para fazer campanha mesmo junto do país. Há outras figuras intermédias nas estruturas que podem fazer esse papel e para as quais até poderá já existir algumas promessas de lugares. Temos de esperar pelas listas para perceber".

O tempo é muito curto e as conversas entre a direção e as distritais têm de decorrer à velocidade da luz. O Conselho Nacional é já no dia 7 de dezembro, em Évora, para votar e aprovar as listas de deputados. Nesta reunião, Rio deverá voltar a colocar sobre a mesa a hipótese de uma coligação pré-eleitoral com o CDS (ver pág.9), a que uma maioria de conselheiros não era favorável mas que, agora, depois da estratégia do líder ter saído vitoriosa da contenda interna, pode acabar por vingar. Se assim acontecer, as listas também terão de ser negociadas com o partido de Francisco Rodrigues dos Santos.

Do lado de Rio as vozes são mais calmas e até mais apaziguadoras. Um dirigente nacional do partido admite que há deputados que devem saltar das listas, sobretudo alguns sem cargos dirigentes, mas sublinha que "Rio terá sempre em atenção quem fez um bom trabalho e teve mérito no Parlamento, independentemente de o ter apoiado ou não".

"Fazer listas [de deputados] é sempre difícil em qualquer partido. No nosso partido sempre foi e continuará a ser", disse Rui Rio na noite da vitória. E quando desafiado a dizer se será fácil fazer campanha de costas voltadas para as estruturas que apoiaram Rangel, afirmou: "Para ganhar legislativas aquilo que mais preciso é dos militantes do PSD. Esses eu tenho."

O prazo limite para a entrega da lista de deputados para as legislativas de 30 de janeiro termina em 20 de dezembro, um dia depois de encerrar o congresso do partido, que decorrerá entre 17 e 19 de dezembro, na FIL, em Lisboa.

Segundo o calendário já aprovado pela direção, o prazo para as distritais aprovarem as suas escolhas termina já hoje, abrindo-se depois, até 6 de dezembro, um período de negociações com a Comissão Política. O CN para aprovar as listas, marcado para 7 de dezembro, tem uma segunda data para dia 10, caso "chumbem" na primeira tentativa.

paulasa@dn.pt

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