Os lugares e as palavras
O escritor francês Georges Perec, muito dado à experimentação literária, publicou em 1975 um livro estranho, heteróclito, mas cujo título é autoexplicativo: Tentativa de Esgotamento de Um Local Parisiense. Em 60 páginas o autor tenta descrever com o máximo de minúcia a praça parisiense de Saint-Sulpice, enumerando os edifícios, os sinais de trânsito, os letreiros e até os transeuntes e os automóveis que ali circulavam.
Quando o li, há alguns anos, fiquei fascinado pelo exercício, pela ambição que representava mas também pelo falhanço em que redunda. Não é possível esgotar um lugar recorrendo a uma mera descrição, seja uma praça de Paris ou o Bairro dos Anjos em Lisboa.
Os lugares são as histórias presentes e antigas que se escondem atrás do que vemos, são as rotinas e as memórias e os sonhos de quem lá mora. Os lugares não se esgotam nas palavras, e talvez por isso valha a pena escrever sobre eles.