Vamos começar pelo grande evento que se aproxima, que é a Jornada Mundial da Juventude e que vai obrigar à definição de quatro zonas de exclusão aérea. Quais são e que implicações poderão ter para Portugal, porque há alguma preocupação do ponto de vista económico. Poderá ter impacto nesse aspeto?.Não. As quatro zonas de exclusão aérea são na região de Lisboa e na região de Fátima, são zonas de interdição e condicionamento de uso de drones e de voos não-autorizados, que depois têm umas especificações próprias que são descritas para as autoridades aeronáuticas, que escrevem isto em notas internas e de comunicação para a aviação civil internacional, nacional, etc. Portanto, isto está definido e Portugal tem a Força Aérea, a Autoridade Aeronáutica Nacional, e define quais são os meios que estão alocados para se houver alguma transgressão, alguma violação do espaço aéreo, reagir de imediato. Além do mais, com as novas tecnologias, também há zonas de intercessão de drones não-autorizados. Haverá, certamente, nessas áreas, também alguns drones autorizados, incluindo das próprias Forças dos Serviços de Segurança. Mas essas zonas não vão interferir com a aviação comercial, isto é, os aviões que vão aterrar na Portela, ou em Tires, vão ter um circuito muito bem definido. Esse circuito já foi comunicado às autoridades aeronáuticas internacionais, há um circuito definido para aterragem e descolagem..Portanto, sendo agosto um mês de turismo, não deverão os agentes estar preocupados com essas condições? Não, não. Quer nas interdições aéreas, quer na interdição marítima, quer em todas as outras questões que têm a ver com o condicionamento - porque nós vamos ter um evento com uma magnitude nunca vista e é óbvio que o equilíbrio é sempre uma operação difícil, uma equação difícil de fazer -, nós aplicámos uma máxima que é: máxima segurança com o mínimo transtorno possível. Este é o princípio que temos desde o início, o nosso mantra, precisamente porque todas as forças e Serviços de Segurança, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o INEM, as Forças Armadas, de alguma forma seguiram este princípio operativo, que consta quer no Plano Global de Segurança, que foi apresentado no dia 14, quer nos planos setoriais, que são de natureza operacional e de natureza classificada e reservada. Tivemos 14 planos setoriais. O SIS, a PSP, a GNR, o SEF, a Autoridade Marítima Nacional, Polícia Judiciária, o SIED, o Centro Nacional de Cibersegurança, a Autoridade Nacional de Aviação Civil, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o INEM, o Siresp, o Estado-Maior General das Forças Armadas, todos estes elaboraram planos setoriais que são bastante detalhados e que foram apresentados e aprovados no Gabinete do Coordenador de Segurança, com a participação do ministro da Administração Interna e da ministra da Justiça, que são os titulares do despacho que ativou a função do secretário-geral para assumir a coordenação e controlo estratégico. Obviamente, depois tem a dependência estratégica do primeiro-ministro. É uma megaoperação para nós também em termos de articulação e de competências..Ia recordar a frase que acabou de dizer e que foi da sua apresentação no Plano de Segurança, em que referia elevados padrões de segurança com o mínimo impacto possível na população e nos peregrinos. Ainda assim, e só pegando na primeira questão, sendo agosto o mês das férias, devem os portugueses que vão viajar ficar preocupados com filas nos aeroportos, no controlo de fronteiras terrestres? O que se pode prever nesta altura? Acho que os portugueses têm de preparar obviamente a sua gestão de férias de forma sensata e razoável. Sabemos que à medida que vão chegando os peregrinos e os participantes, obviamente que vamos ter muito mais gente a circular na cidade, na Área Metropolitana de Lisboa, nos acessos, em Fátima e nas estradas portuguesas, nas fronteiras. É óbvio que vai haver uma maior aglomeração de pessoas e movimento de autocarros e de automóveis e, sobretudo, à medida que se vão aproximando os dias 5 e 6 - são os dias de grande aglomeração. Esses serão dias em que haverá um fluxo muito intenso, provavelmente sem precedentes e, portanto, as pessoas devem acautelar as suas deslocações de forma a precaver-se, porque pode haver constrangimentos. Não seria sensato se dissesse que não vai haver constrangimentos. Neste momento, temos aproximadamente 340 mil inscritos, de acordo com a fundação da JMJ e devo dizer também que nesta nossa articulação do Plano Global de Segurança, trabalhamos com mais de 33 entidades à cabeça, com o grupo-projeto de José Sá Fernandes e temos também trabalhado sob a coordenação da ministra-Adjunta e dos Assuntos Parlamentares..Essas 33 entidades representam quantas pessoas envolvidas? Nesta fase, o que digo é que a fita do tempo dos eventos da Jornada começam uma semana antes. Já haverá aí um certo movimento, mas penso que é, relativamente, menos perturbador. Mas haverá momentos de fluxos grandes de entradas e saídas, quer na área metropolitana de Lisboa, quer dentro de Lisboa. Lisboa tem aproximadamente 350 mil pessoas que vivem na cidade propriamente dita - não estou a considerar a área metropolitana e nem a Grande Lisboa, mas, nessa perspetiva da extrapolação que estamos a fazer, poderemos ter um milhão, um milhão e 200 mil, um milhão e 300 mil, até um milhão e meio. Isto são várias Lisboas, portanto, temos de estar preparados. Os planos e os dispositivos da PSP, que tem aqui a parte principal, permitem alguma plasticidade, isto é, proteção máxima dos recintos, com certeza, e haverá perímetros de segurança em várias cores - o vermelho, o amarelo e o azul - que vão apertando ou libertando a malha de segurança e de fluxos e circulação de automóveis. O perímetro vermelho é pedonal tirando, obviamente, os carros de emergência, as pessoas com mobilidade reduzida, os serviços essenciais. Mas tudo isto está muito estudado e a razão por que acho que temos as condições adequadas para que as pessoas mesmo assim possam circular, é a experiência que tem a nossa PSP e a nossa Guarda Nacional Republicana, a experiência que tem o SEF, a Polícia Judiciária. Somos, talvez, dos países com mais festivais e romarias por km² no mundo e, particularmente, em agosto, porque temos também o fluxo dos nossos emigrantes. É também uma época que é sempre complicada, do ponto de vista atmosférico, com incêndios, etc. Mas a nossa polícia, a nossa PSP, a nossa GNR, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, têm dispositivos no âmbito do DECIR, que é o programa de incêndios e fogos rurais, que tem uma plasticidade muito grande da afetação de meios e de recursos e a nossa experiência. Fizemos a Cimeira da NATO, tivemos no ano passado a Conferência das Nações Unidas - as pessoas não têm a noção do que foi organizar este evento, deixando a Polícia das Nações Unidas, pela primeira vez, com soberania própria sobre o Altice Arena e quando estava a decorrer o Fórum Económico Europeu, portanto com o BCE e altas entidades a circular em Sintra, com a FIL a decorrer ao lado do Altice Arena, com o maior exercício militar da NATO nessa altura, que ninguém reparou, mas que era um grande exercício da Força Aérea. No espaço de uma semana organizámos isso e foi considerado um modelo. As Nações Unidas consideravam que a organização portuguesa foi um modelo a seguir..Esse foi um evento de alto risco, neste momento vai ser um evento de ainda maior alto risco e com mais pessoas a circular. Os cidadãos vão assistir a um Estado mais armado para receber o Papa? Vamos ver mais polícia na rua? Qual a realidade com que nos vamos confrontar? Mais polícia, sim, mais armado, não digo. Aliás, a preocupação da PSP e da Guarda Nacional Republicana é precisamente evitar a ostensividade. Aumentar a visibilidade, sim, o policiamento de proximidade, sim, também é preciso dizer que vamos trabalhar dentro do Sistema de Segurança Interna (SSI). Vamos ter a Sala de Situação de todas as salas de situação - a articulação do controlo e coordenação estratégica com todos os Comandos Operacionais e Comandos Táticos da PSP e da GNR, particularmente, mas também da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o INEM, etc. A preocupação não é pôr armas no terreno, é ter este policiamento de proximidade, de visibilidade e, sobretudo, de utilidade de informação para os cidadãos, para os participantes, para os peregrinos. Contamos também com os protocolos de cooperação bilateral da PSP e da GNR com as suas congéneres de Espanha, Itália, França, Polónia, Canadá. A acompanhar as perto de 200 nacionalidades, vamos ter algumas fardas que os portugueses e os lisboetas não estão habituados a ver nas ruas. Não é muita gente, mas são os oficiais de polícia da Polícia Judiciária..Até porque há a colaboração das Forças Armadas com as polícias espanholas, a Europol e a Interpol. Portanto, todas estas forças estarão representadas nesta semana? Estarão representadas, sim. Também teremos o Centro de Comunicações de Informação Policial e Cooperação Policial, através do PUC, que é o Ponto Unido de Contacto. Temos ainda o Gabinete Nacional da Interpol, a Unidade Nacional da Europol. Vamos ter uma Interpol Mobile e uma Europol Mobile, portanto, vai haver um reforço, uma presença. Também da Comissão Europeia, curiosamente, teremos uma equipa de verificação de segurança. Já estamos a acionar todos esses sistemas. E, obviamente, a cooperação bilateral das polícias é muito importante para a informação que chega. Temos também no Sistema de Segurança Interna, que estará também no Centro de Coordenação, o CAT, a Unidade de Coordenação Antiterrorista. Em tudo o que é troca de informações nesta área do terrorismo temos a Polícia Judiciária, que tem aqui uma competência muito específica, o SIS, mas também a PSP, a GNR, o SEF, o SIED..Esta interação internacional, no fundo, tem como grande preocupação o terrorismo, por causa da figura do Papa estar em Portugal? Quem faz a avaliação das ameaças e dos riscos é o Serviço de Informações de Segurança, o SIS, que tem vindo a fazer um trabalho extraordinário desde há mais de um ano. O SIS produz regularmente informações sobre o posicionamento das Forças de Segurança e do Estado em geral, e é com base nessas informações que as próprias Forças de Segurança, a PSP, a GNR, fazem a avaliação de risco estático. Toda esta avaliação é dinâmica. E nessa avaliação dinâmica das ameaças e dos riscos consta uma panóplia de coisas, obviamente o terrorismo, o terrorismo de matriz islâmica, o terrorismo de matriz ideológica, os extremismos violentos, toda essa matriz é analisada minuciosamente. E depois, obviamente, os riscos que temos, porque há muita gente a circular e, portanto, temos de estar atentos a que não haja disrupções..Disse numa entrevista televisiva que houve duas situações que foram sinalizadas, mas nada de muito grave. Isso foi há cerca de uma semana, de lá para cá houve novas situações sinalizadas?.Não, as situações sinalizadas foram tratadas e são tratadas até ao último momento, isto é, incluindo durante a Jornada. O que posso dizer é que teremos muitos olhos e muitos ouvidos, mas não vamos ter um polícia em cada esquina, nem vamos ter um militar. Queria também aqui saudar e fazer uma referência às Forças Armadas, porque o chefe do Estado-Maior e todo o Comando Operacional estão a trabalhar de forma muito estreita connosco no Sistema de Segurança Interna e com o Centro de Coordenação, e vão estar também ligados ao Centro de Coordenação Estratégica, por determinação superior. Este é o nosso maior stress test, estamos a pôr todos os meios. Fizemos no dia 13 um grande exercício da Jornada Mundial da Juventude com todas as Forças e Serviços de Segurança, com a Proteção Civil, com as Forças Armadas..Ao todo, quantas pessoas estiveram envolvidas nessa operação? Era um exercício estratégico, tivemos perto de 70 jogadores, com várias entidades envolvidas, vários departamentos, várias unidades distritais, etc. Jogando, precisamente, o jogo das ameaças, fazendo simulação para a decisão. Se houver uma situação de ameaça grave, há um Gabinete de Crise que se reúne..Qual foi a simulação mais difícil? Terrorismo? Temos feito simulações em várias áreas que competem ao abrigo da Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo. Foi, aliás, aprovada há uns meses nova revisão em profundidade, desta estratégia e estamos com todos os últimos dados que há, tendências e padrões do terrorismo, e fazemos exercícios com alguma regularidade, incluindo com as Forças Armadas. É claro que o terrorismo é uma preocupação, mas diria que as principais preocupações que temos são de nível intermédio. Muitas vezes, o que tenho notado, é que as preocupações têm muito a ver com o impacto da pandemia, que agravou alguns padrões de comportamento psicótico, desequilíbrios mentais, que são muitas vezes aproveitados por redes, nas redes sociais, para fomentar o discurso de ódio, a xenofobia, o discurso de violência, o antissistema e às vezes o extremismo também de caráter ambiental, que pode ser disruptivo. Todo esse padrão de ameaças e riscos é avaliado permanentemente. Mas se me perguntar se não durmo à noite, claro que durmo, estou descansado, continuo a dormir sossegado. Os meios estão todos a postos, ativados e disponibilizados, estão em prontidão para toda a panóplia de riscos..Com todas essas entidades que referiu há pouco, quantas pessoas vão estar no terreno exatamente? Temos, num dispositivo geral, que envolve as Forças de Segurança, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, a Emergência Médica, temos um número já de predisposição, de pré-colocação e de ativação na ordem dos 16 mil efetivos. Só no quadro da PSP estamos a falar de 10 mil efetivos. Se me perguntar se esse poderá ser o máximo, diria que este número tem de ser visto com alguma plasticidade, porque pode ir até aos 20 mil se se contar com os sistemas de contingência e de reserva potencial. Portanto, poderemos mobilizar até 20 mil, mas estou convencido de que não vai ser necessário. Estou convencido de que, com os 16 mil efetivos que temos aqui nestas áreas, temos mais que suficientes para preparar e gerir com segurança esta grande festa que será a JMJ, que esperamos que seja, de facto, um motivo de celebração, de reconciliação, como o Papa tem falado, de encontro ecuménico em torno da fé, em torno da vida. A nossa função é criar as condições para que as pessoas possam participar com segurança. Quem não quer participar, não participe, mas que tenha o mínimo de transtorno possível..Além do terrorismo, a imigração ilegal e o tráfico de seres humanos têm sido uma preocupação. Essas situações também fizeram parte do planeamento, das simulações, como é que estão acauteladas? Todas fazem parte do planeamento - o terrorismo, a imigração ilegal, o narcotráfico, o contrabando - porque sabemos muitas vezes que quando há grandes aglomerações de pessoas, tende a haver um certo aproveitamento nessas áreas. O SEF, a Polícia Judiciária, o Sistema de Informações têm tido um papel muito importante na filtragem de situações suspeitas. Naturalmente que vamos ter a reposição dos controlos fronteiriços, que será uma reposição de controlos documentais, digamos, seletivos e direcionados, e quero deixar aqui claro que não vai haver um encerramento de fronteiras..Ou seja, o português que quer passar do Algarve para Espanha não tem a fronteira encerrada? Não tem a fronteira encerrada, mas poderão ser parados carros em termos da verificação documental. Mas essa verificação é não-sistemática, no sentido em que é muito seletiva e direcionada em função da análise de risco. A Guarda Nacional Republicana, a PSP, o SEF, a Polícia Judiciária, todos partilhamos a informação entre nós e, portanto, quando há alguns algoritmos de risco, quando há essas avaliações de risco, nós paramos as viaturas que forem necessárias. Para-se uma viatura ou faz-se o controlo de um avião num voo Schengen, portanto, vai ser muito direcionado, muito seletivo, com base na máxima declaração de informação policial, de acordo com a análise do risco que é feita para aquela determinada inspeção..No entanto, quem vem de fora do Espaço Schengen terá uma verificação mais apertada? Quem vem de fora do Espaço Schengen terá necessariamente de ter um visto para entrar em Portugal. E essa verificação está a ser feita de acordo com os padrões Schengen, com as indicações Schengen e também com a informação que recebemos. Temos um gabinete de informações passageiras que também está no Sistema de Segurança Interna e nesta Resolução do Conselho de Ministros sobre a reposição do controlo fronteiriço há uma indicação de que as companhias aéreas devem colaborar com as autoridades nacionais na partilha de dados antes de embarcar e, portanto, contamos com esses dados também, o que ajudará muito o SEF e a PSP, que estão no aeroporto, e o SEF e a Guarda Nacional Republicana, que estão nas vias terrestres, nas fronteiras terrestres e nas marítimas..A Jornada Mundial da Juventude é uma festa dos jovens e há, sobretudo em Lisboa, a preocupação relativamente aos crimes com gangues juvenis na noite, que tem sido bastante noticiada. Ora, tendo o público jovem aqui uma presença mais forte em Lisboa nesta altura, de que modo é que se pode acautelar que a noite, com a chegada de tantos jovens, será tranquila e segura? O que é que está a ser feito nesse sentido? Isso é uma matéria mais da autonomia operacional e tática da PSP, mas sei que da parte da Direção Nacional e do Comando Metropolitano de Lisboa, que tem responsabilidades especiais, têm sido tomadas medidas. Aliás, tem havido uma série de operações, desde a recolha de armas brancas e armas de fogo, ao combate ao narcotráfico que também fazem parte da Jornada, no sentido de que preparam as condições. Nós vamos ter muitos jovens aqui, são jovens que vêm celebrar a sua fé, que vêm estar com o Papa, que vêm num ambiente de festejo e oração. O padrão do jovem participante é um padrão positivo, não tenho nenhuma indicação que me cause preocupação excecional quanto à questão dos gangues. Os gangues, aliás, estão bastante bem estudados, acompanhados e monitorizados. Nós, no Sistema de Segurança Interna, também temos um dashboard, um sistema de indicação de indivíduos criminais, em que, quer na Polícia Judiciária, quer da GNR, quer da PSP, os gangues estão devidamente sinalizados e bastante detalhados: os seus cabecilhas, os seus componentes, as suas características principais. Portanto, penso que da parte da PSP tem havido um trabalho extraordinário, precisamente também na área preventiva, e depois, obviamente, na área da vigilância permanente. Por isso é que vamos ter um policiamento de saturação..Isso quer dizer exatamente o quê? É uma gíria policial, que também não sabia quando entrei para estas funções, mas o Diretor Nacional dizia-me que vamos ter um policiamento de saturação, não só de visibilidade, não de ostensividade, com armamentos, etc., mas é de saturação. Vamos ter as áreas verdadeiramente sob vigilância. E saturação significa, com um grande número de efetivos - estamos a falar perto de 10 mil efetivos policiais, só da PSP..Outro tema que pode aqui atrapalhar são as greves várias, polícias, médicos, tem havido um anúncio de greves para esta altura também ao nível dos transportes públicos. De que modo é que estas greves são equacionadas no plano de risco? Podem prejudicar aqui também a segurança? Tenho defendido a mesma linha, as manifestações e as greves são um direito constitucional estabelecido e fazem parte dos direitos, liberdades e garantias fundamentais, e isso obviamente tem de ser garantido. Por outro lado, garantir que essas mesmas manifestações, protestos e greves decorram de acordo com o que está previsto na lei e, portanto, que haja aqui um ordenamento com os promotores, com as autarquias, com as Forças de Segurança, por forma que não se impeça a livre circulação dos peregrinos e de quem quer participar na Jornada. Portanto, há aqui uma posição de equilíbrio e de respeito mútuo. Numa grande concentração de pessoas é importante ver que os sítios onde haverá manifestações e protestos têm de ser previamente estudados, por forma a que não haja um risco..Mas não lhe parece que acrescente risco ao risco? Não, vai depender muito do planeamento que será feito e tenho a certeza de que será feito um planeamento muito certeiro e prudente, por forma a que todos possam fazer o que querem no quadro dos seus direitos constitucionais, incluindo os direitos dos participantes na Jornada Mundial da Juventude. As áreas tuteladas ministeriais, essas depois farão a gestão da questão das greves. Mas penso que, na parte da segurança, não temos identificado neste momento nenhum risco grande, vamos ver como é que as coisas evoluem, mas tenho a impressão de que há aqui uma grande responsabilidade de todos. Incluindo dos sindicatos e das forças, das associações, que têm denotado um sentido de grande responsabilidade, por forma a que o direito de manifestação e de opinião não contenda e não ponha em causa os outros direitos, como é a participação livre numa Jornada Mundial da Juventude..Antes de passarmos a outros temas, que mensagem gostaria de deixar a quem vai participar na Jornada Mundial da Juventude? Primeiro que vá com um sentido pragmático, de festejo numa peregrinação. O que é que faz um peregrino? Anda, vai ter de andar bastante, tem de se preparar para as condições climáticas, nomeadamente. Aliás, penso que a JMJ tem feito isso, a Fundação e o Comité de Organizadores já passaram muita informação. Há também uma app que tem esses dados, que é importante, para além do kit peregrino. Há todo um conjunto de indicações que têm a ver com levar água, com, se possível, levar um chapéu, porque há umas zonas que têm sombras, outras não. Parte destas tem uma zona relvada, mas é importante preparar-se para uma jornada no sentido de caminhada. E há também uma caminhada às horas pedonais, que são vários quilómetros, portanto. Até nesse aspeto é engraçada a Jornada, porque na ligação entre as saídas e recolhas, os passageiros, os autocarros, os carros, etc., haverá sempre um caminho a fazer. E esse caminho é um bocadinho simbólico e acho que é também a ideia da jornada, que é aquilo que o Papa quer fazer, é uma caminhada. Uma caminhada de fé, uma caminhada de oração, uma caminhada de aceitação do diverso, da aceitação do outro, do respeito pelo outro, é uma caminhada nas nossas próprias vidas. E, portanto, haverá também uma caminhada física para os peregrinos em Lisboa, na área metropolitana, em Algés, em Oeiras, em Loures e no Parque Tejo. Portanto, nesta celebração será feita, verdadeiramente, uma jornada, é uma jornada composta por várias jornadas..Há também uma jornada que é a da segurança. Gostaria de deixar alguma mensagem específica para essa componente? A jornada da segurança, penso que é a que estamos a percorrer neste momento e costumo dizer que dá muito trabalho a preparar. E foi por isso que, só agora, no dia 14, fizemos o anúncio e a aprovação do plano, porque tivemos de juntar todos estes 14 planos setoriais e aprová-los com os dados mais próximos da realidade. Eu deixo a minha gratidão e reconhecimento pelo trabalho extraordinário que todos fizeram, um trabalho de que não há memória. E este trabalho que já foi feito, já foi uma caminhada, estamos nesta caminhada difícil. Nós, diplomatas, dizemos que dá muito mais trabalho preparar uma cimeira, com os acordos que vão ser negociados, os tratados que vão ser assinados, os programas de cooperação. Dá um imenso trabalho até chegar à execução, à realização da cimeira, e depois quando chega à cimeira, a alegria do diplomata é ver o avião partir com um chefe de Estado satisfeito, com um primeiro-ministro satisfeito, com vários primeiros-ministros satisfeitos. Fui conselheiro diplomático de Durão Barroso na Comissão Europeia e organizava as cimeiras dos parceiros estratégicos da União Europeia, e era um trabalho doido, louco, intenso, até chegarmos à cimeira e depois, quando a cimeira era executada, eu, de alguma forma, não estava a descansar, mas sentia que estávamos com alívio. E depois, a satisfação de ver a parte final, os sorrisos, as palavras dos nossos parceiros estratégicos da União Europeia. Aqui é a mesma coisa. Gostaria muito de ver o Papa Francisco partir com um sorriso grande, dizendo que esta Jornada foi a melhor..Vai estar com o Papa em algum momento? Espero estar, com certeza hei de estar, pelo menos vou acompanhá-lo na área da segurança, vou acompanhá-lo à distância no Comando e Controlo Estratégico, irei andar também na rua, com os meus companheiros da PSP e da GNR. Conto estar com ele pessoalmente a dada altura..Teve grandes missões na Rússia, em Bruxelas, já o dissemos no Diário de Notícias noutros artigos, mas esta será, porventura, a missão da sua vida? Em termos de magnitude, é certamente a missão da minha vida, no sentido de organizar todo este planeamento estratégico, operacional, a articulação com tantas entidades de natureza diferente, autarquias, o grupo-projeto, a empresa de mobilidade, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Forças Armadas. Trabalhar com tantas entidades de natureza diferente é um grande desafio. É uma diplomacia, aliás, é mais que uma diplomacia, é uma gestão de uma agenda de articulação interna bastante complexa..Sendo Portugal um país de quintinhas, em que muitas vezes é difícil pôr as entidades a colaborar umas com as outras, o que é que se pode aprender daqui para o futuro? Com a Jornada demos um passo muito importante. Temos vindo a fazer reformas que foram, aliás, recomendadas por Schengen. No SSI temos feito a coordenação da avaliação Schengen em Portugal, nas suas diversas dimensões, fronteiras, cooperação policial, retorno, política de comando de vistos, entre outras áreas. Mas o que acho é que já demos passos muito importantes e a Jornada é uma capacitação para o futuro. Assim como os lisboetas e os munícipes de Loures vão ter uma instalação futura, um parque, um jardim, equipamentos para desfrutar da zona do Tejo, que até há pouco tempo eram um aterro e uma zona de contentores, penso que vamos ter até a possibilidade de haver uma ciclovia que vem de Vila Franca de Xira até ao Guincho. Nas Forças de Segurança, o legado é este legado de articulação Há uma cultura mais próxima, nova, de articulação no respeito das competências próprias de cada um, no respeito das atribuições, mas uma cultura em que estamos a trabalhar todos com o mesmo propósito..Mas espera que fique para o futuro essa mensagem ou vai evaporar-se depois da partida do Papa? Eu costumava dizer muitas vezes que não me importo que haja capelinhas, só quero é garantir que a capelinha é da mesma igreja, as capelinhas pertencem à mesma catedral. Devemos todos fazer parte do mesmo edifício comum, com o mesmo propósito. Acho que é isto que vai ficar instalado, esta nova cultura de articulação, de coordenação, de agirmos em comum, em que todos ganham. Há um valor acrescentado em que todos são mais quando trabalhamos juntos. E portanto, podemos e vamos mais além.