"Three, two, one. Ignition. Liftoff." A contagem decrescente vai voltar a ouvir-se no Centro Espacial Kennedy, na Florida, quase nove anos depois de os últimos astronautas terem partido de solo norte-americano para chegar à órbita da Terra. A 27 de maio, Doug Hurley e Robert Behnken vão partir para a Estação Espacial Internacional (EEI) a bordo de uma cápsula Dragon lançada pelo foguetão Falcon 9, da SpaceX, a empresa de Elon Musk..Desde 8 de julho de 2011, naquele que foi o último lançamento do Atlantis e o fim do programa de vaivéns espaciais da NASA, que a agência espacial norte-americana depende dos Soyuz russos para colocar os seus astronautas em órbita. O último foi Chris Cassidy, que no passado 9 de abril chegou com os russos Anatoli Ivanichin e Ivan Vagner à EEI. Os Soyuz são lançados a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Casaquistão -- de onde partiu também Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço, a 12 de abril de 1961.."A 27 de maio a NASA vai mais uma vez lançar um astronauta norte-americano num foguetão norte-americano a partir de solo norte-americano", escreveu o administrador da NASA, JIm Bridenstine, junto a um vídeo que mostra a história da corrida espacial dos EUA, que em 1969 conseguiu pôr Neil Armstrong e Buzz Aldrin na Lua..Explosão do Columbia abriu porta a privados.O programa do vaivém espacial, que durante mais de três décadas pôs norte-americanos no espaço, terminou em 2011. Apesar de ter sobrevivido ao acidente do Challenger durante o lançamento em 1986, nunca recuperou totalmente da explosão do Columbia na reentrada em 2003. Sete astronautas morreram em cada uma dessas missões. O então presidente norte-americano, George W. Bush, deu início à contagem decrescente do programa logo em 2004..Depois disso, a NASA decidiu mudar o modelo de funcionamento e confiar à industria privada o desenvolvimento dos próximos veículos, ajudando a financiar amplamente a construção e mantendo uma supervisão rigorosa. Além dos EUA e da Rússia, a China é o único outro país a ter conseguido levar o homem ao espaço..Voltar a colocar um ser humano na EEI a partir dos EUA não seria por isso possível sem as empresas privadas, que têm liderado a nova corrida ao espaço. A SpaceX tem sido, desde 2012, a responsável pelas entregas de carga da NASA na estação espacial, graças ao seu foguetão Falcon 9 e às cápsulas Dragon..A Boeing também está interessada em participar no Programa Comercial Tripulado da NASA, mas um teste sem tripulação em dezembro à cápsula Starliner falhou -- esta não chegou à EEI e esteve por duas vezes à beira da destruição devido a erros de software. O teste deverá ser repetido no outono..Já a SpaceX do multimilionário Elon Musk (que fundou também a Tesla) realizou com sucesso o seu primeiro voo de teste de uma Dragon adaptada para uma tripulação (Crew Dragon) em março de 2019, enviando a cápsula (menos a tripulação) com sucesso para a estação espacial. A cápsula que regressou foi contudo acidentalmente destruída durante testes no solo, no Cabo Canaveral, atrasando o lançamento dos primeiros astronautas..Primeiro estação espacial, depois a Lua.O lançamento está previsto para o dia 27 de maio às 16.32 (21.32 em Lisboa), do complexo de lançamento 39 do Centro Espacial Kennedy, na Florida. Os dois astronautas, Hurley e Behnken, vão para uma "estadia alargada" a bordo da Estação Espacial Internacional, não tendo ainda sido indicada a duração da missão..Doug Hurley, de 53 anos, foi o piloto do último voo da Atlantis, em julho de 2011, e será o comandante desta nova missão. Bob Behnken, de 49 anos, já esteve em duas missões, em 2003 e 2010. Cada um deles já passou quase um mês no espaço e ambos são casados com outras astronautas..Esta missão "será o grande passo final antes de o Programa Comercial Tripulado da NASA certificar a Crew Dragon para missões operacionais, de longa duração, para a estação espacial", segundo o site da NASA.."Esta certificação e operação regular da Crew Dragon vai permitir à NASA continuar a importante pesquisa e investigação tecnológica que estão a ser feitas a bordo da estação, que beneficia as pessoas na Terra e serve de base para a futura exploração da Lua e de Marte, começando com o programa Artemis da agência, que vai colocar a primeira mulher e o próximo homem na superfície lunar em 2024", acrescenta..O presidente norte-americano, Donald Trump, assinou a 11 de dezembro de 2017 a sua diretiva em relação ao espaço e à NASA. "A diretiva que estou a assinar hoje vai voltar a focar o programa espacial dos EUA na exploração humana e descoberta", disse então. "Marca o primeiro passo em voltar a pôr um astronauta norte-americano na Lua pela primeira vez desde 1972, para a exploração a longo prazo. Desta vez, não vamos colocar a nossa bandeira ou deixar a nossa pegada -- vamos estabelecer as bases para uma eventual missão a Marte e talvez, algum dia, para muitos mundos mais longe", acrescentou.