Quem olha para a gestão das empresas com um certo distanciamento percebe facilmente que o cunho pessoal de qualquer gestor é fundamental para a obtenção do tão almejado sucesso profissional. Muitas vezes mais do que a formação académica, os títulos universitários ou mesmo a experiência adquirida há algo que marca a diferença e que é difícil de explicar por palavras. Uns chamam-lhe capacidade de liderança, outros, estilo próprio ou cunho pessoal..O estilo imposto por quem dirige influencia sobremaneira a forma como a empresa vive o dia-a-dia, não só face ao meio exterior, mas também, e quase diria sobretudo, face à dinâmica interna dos recursos humanos..Durante muitos anos esteve em prática aquilo que ficou conhecido pelo paternalismo na gestão. Era uma forma de as empresas de sucesso suprirem as dificuldades de transporte, de comunicação e as lacunas sociais existentes nas sociedades da altura. Foram mesmo criadas nos meados do século XX infraestruturas enormes que envolviam as próprias empresas numa substituição quer do papel do Estado quer até da própria iniciativa do trabalhador. Eram creches, refeitórios, serviços médicos e tantos outros chegando até a dar-se habitação que em certos casos abarcava os próprios técnicos e gestores. Dava-se em "géneros" o que não se dava em dinheiro num preenchimento da vida privada em torno daquilo que era a empresa..Como todos os pêndulos andam de um lado para o outro também na gestão isso acontece. Como sucessor do paternalismo temos agora o que eu chamo de maternalismo a invadir a gestão das nossas empresas. Sai de cena a orientação de vida do pai para entrar em cena o sentimentalismo e a proteção total da mãe..Hoje vive-se nas empresas o primado do sentimentalismo nas relações, o elogio permanente e tantas vezes gratuito porque excessivo a tudo o que se faz, um intimismo excessivo e forçado nas relações, a mistura do pessoal com o laboral, o forçar das festas, das celebrações e dos encontros. Tudo isto tornou-se prática comum nas empresas abrindo um espaço de intimidade e de convivência muitas vezes forçado porque externo ao que é a empresa e, pior ainda, completamente exógeno ao que deve ser o mundo do trabalho..Esta invasão maternalista é na sua essência contrária aos processos de melhoria contínua pois valoriza sobretudo (e às vezes unicamente) o pouco que se fez de bom em vez de reconhecer o erro procurando corrigi-lo. Engrandece unicamente o esforço e não o resultado. Premeia o espetáculo em vez de relevar o trabalho. Quer elevar permanentemente o grupo elogiando o pouco que se consegue e esquecendo as múltiplas falhas existentes. O simples resultado óbvio é supervalorizado como se de uma grande conquista se tratasse. É toda uma forma de ver o outro como filho que precisa de uma mãe que o proteja e que o valorize..São as empresas em que está sempre tudo bem, tudo se elogia e parece que tudo o que acontece (às vezes até pelo próprio acaso) é matéria de celebração. Da mesma forma que o excesso de paternalismo é mau e desmotivador, o excesso de maternalismo é perigoso porque impede reconhecer e assumir o erro procurando a melhoria. Os dois lados do pêndulo são claramente perigosos pelo que têm de excesso..Precisamos que sem paternalismos nem maternalismos tenhamos uma gestão preocupada com o desenvolvimento de cada homem e de cada mulher sem intromissões excessivas no âmbito pessoal e sem invasões de privacidade lesivas da liberdade do ser humano. E nós e a nossa empresa de que lado do pêndulo estamos? O sucesso do gestor está na capacidade de encontrar também aqui o seu cunho pessoal.. Professor da AESE Business School e diretor do programa para empresas familiares. Autor do livro Manual de como Construir o Futuro nas Empresas Familiares