O "novo começo" das relações entre Reino Unido e França, celebrado ontem na primeira cimeira entre os líderes dos dois países desde 2018, inclui um reforço dos pagamentos de Londres a Paris para ajudar a travar a imigração ilegal no Canal da Mancha. Os britânicos vão pagar, nos próximos três anos, 541 milhões de euros aos franceses para permitir a abertura de um "novo centro de detenção" e a mobilização de mais "500 agentes" das forças de segurança para a patrulha das praias francesas. Segundo o Reino Unido, França vai contribuir significativamente mais para aplicar este novo acordo migratório.."É um momento de reencontro, reconexão e recomeço", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, na conferência de imprensa no palácio do Eliseu depois de reunir com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. "É uma cimeira de uma nova ambição", acrescentou. "Se formos honestos, a relação entre os nossos dois países teve desafios nos últimos anos", admitiu Sunak, falando de "um novo começo e de uma entente renovada", numa referência à "entente cordiale" - os acordos assinados há mais de um século que marcam a relação entre os dois países, que se deteriorou com o Brexit..A relação entre Sunak e Macron, dois antigos banqueiros de investimento, é bastante diferente da relação que o presidente francês tinha com os anteriores inquilinos de Downing Street: Boris Johnson e Liz Truss. Com o primeiro houve discussões por causa do Brexit ou dos direitos pesqueiros no Canal da Mancha, por exemplo. Já a última chegou a dizer, na campanha para a liderança dos conservadores, não saber se podia considerar Macron um amigo ou um inimigo. Essa dúvida não existe com Sunak.."Vizinhos próximos. Grandes amigos. Aliados históricos", escreveu o primeiro-ministro britânico no Twitter, publicando uma foto de Macron a recebê-lo à entrada do Eliseu. No final do dia, uma nova mensagem com mais fotos: "Da nossa nova parceria energética a enfrentar a migração ilegal, o Reino Unido e a França estão ansiosos pelo futuro - unidos pelos laços de família, amizade e solidariedade." Sunak agradeceu também ao presidente francês a "amável receção" e mostrou-se "desejoso de ver" o que podem alcançar juntos..Uma das decisões concretas que sai da cimeira é precisamente o reforço da cooperação na luta contra a imigração ilegal, que Sunak transformou numa das bandeiras de governo - tendo apresentado uma nova proposta de lei que visa deter e expulsar os migrantes que cheguem em pequenos barcos às costas britânicas, privando-os na prática do direito ao asilo, segundo os críticos..Londres e Paris já tinham assinado no ano passado um acordo para o reforço das patrulhas do lado francês, que previa o pagamento por parte dos britânicos de cerca de 71 milhões de euros só este ano. O novo acordo quase duplica esse valor, para os 141 milhões de euros só em 2023-2024, passando a 191 milhões em 2024-2025 e 209 milhões em 2025 e 2026. Com este investimento, Londres espera pôr um travão nas chegadas: 45 mil só no ano passado e a previsão de 60 mil este ano, se nada mudar..A nível da Defesa, Reino Unido e França reiteraram estar ao lado da Ucrânia. "O nosso apoio compartilhado e contínuo à Ucrânia permanece inabalável. Continuaremos a fornecer esse apoio pelo tempo que for necessário", indicou o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, um dos que viajou com Sunak até Paris. Na área de energia, o acordo visa reforçar a cooperação no nuclear, com o desejo de ambos os países de virar as costas aos combustíveis fósseis, e reforçar as ligações elétricas mútuas..susana.f.salvador@dn.pt