Antes e depois de reunir os amigos em Monserrate, já em modo e traje de férias grandes, António Costa fez o favor de se dirigir aos portugueses. Falou e disse, como quem sabe o que vai na cabeça de cada um deles, alimentando a estratégia mais recente de desvalorização das broncas que continuam a rebentar no seu governo, que não há nada a assinalar na saída do 13.º membro do seu executivo em ano e meio, após ter sido apanhado na Tempestade Perfeita.."O que preocupa as pessoas são temas diferentes", assegurou com convicção para os microfones que lhe estenderam, cortando a existência à multidão que diariamente se insurge contra tamanha pouca-vergonha, aos que se revoltam porque não têm condições para viver, aos que saem à rua porque se sentem ignorados, desrespeitados ou enganados, aos que opõem factos concretos à ideia de que atirar euros para cima do SNS vai resolver o caos em que a sempre sorridente (e recém-eleita líder da concelhia de Lisboa do PS) Marta Temido deixou a saúde em Portugal..Mas este é um primeiro-ministro que observa os problemas, que escuta as reivindicações e sabe o que vai na cabeça dos portugueses. E garante que é para eles que governa, ainda que muitas vezes os portugueses acreditem que governa contra eles..Foram três os recados ao povo. E cada um deles afligiu mais do que descansou quem os recebeu do lado de cá. Disse Costa que "há uma mudança estrutural em curso na nossa economia" e que, "com a estabilidade das políticas, vamos conseguir manter". Entre um PRR que não chega às empresas, o confisco dos sucessivos recordes de receita fiscal, as tabelas de IRS que a meio do ano já levam três versões, os subsídios concedidos e depois ajustados que deixam uma larga fatia dos putativos beneficiários sem chão, uma lei da habitação que não vai abrir uma só casa mas irá acabar com o rendimento dos pequenos proprietários de AL (só para citar as medidas mais recentes), soa mais a ameaça do que a promessa..Escreveu ainda o primeiro-ministro, no fim do encontro: "Discutimos as respostas que procuramos dar às preocupações do dia-a-dia dos portugueses como o impacto da inflação, a melhoria dos rendimentos ou o reforço do SNS." E rematou: "Estamos focados em governar para as pessoas." Assustador, não é?.Tudo isto mandou por recado, fazendo do passarinho azul portador - o mesmo que alimenta a tal bolha que Costa diz ser pouco representativa da realidade, mas à qual recorre para difundir as suas mensagens. E dá que pensar se, à falta de conseguir que os portugueses entendam o benemérito que é, estará porventura a tentar convencer os tais comentadores que vivem num mundo longínquo da sua bonomia, para que passem eles a ser fiéis depositários e transmissores da boa-nova.