A taxa de desemprego calculada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) terá estabilizado em 6,6% em novembro do ano passado. A confirmar-se, porque ainda se trata de uma estimativa, será o terceiro mês consecutivo em que a taxa de desemprego não mexe, o que pode indiciar que Portugal está a aproximar-se da chamada taxa "natural" ou estrutural de desemprego. Isto significa que a partir deste patamar será mais difícil reduzir a taxa de desemprego, uma vez que a economia está a funcionar no seu potencial..Para o economista João Cerejeira, da Universidade do Minho, esta estagnação poderá dever-se à conjugação de dois fatores, que estão interligados: a passagem dos inativos a ativos e a "melhoria" nos salários que funciona como "travão às novas contratações"..Desde o pico do desemprego, em janeiro de 2013, quando atingiu os 17,5%, que a taxa tem vindo a reduzir-se a um ritmo entre 0,1 e 0,3 décimas. Entre setembro e outubro não registou alteração, elevando para 34 meses o período que Portugal já soma sem o agravamento deste indicador.. InfografiaDN.João Cerejeira acredita que o país está prestes a atingir o tal patamar em que dificilmente a taxa de desemprego vai descer muito mais. "As projeções apontam para valores a rondar os 6% e chegaremos lá no final deste ano. O ritmo de crescimento do emprego também será muito menor", antevê o economista da Universidade do Minho..Os valores agora conhecidos reforçam também a ideia de que as previsões do governo para 2018 (6,9%) podem revelar-se demasiado conservadoras, dando à equipa do ministro das Finanças mais uma oportunidade para fazer um brilharete com as previsões..Turismo e salários podem explicar.Para o economista João Cerejeira, aliada à passagem de inativos para ativos e à melhoria nos salários, há que ter ainda em conta um setor que tende também a abrandar o ritmo de expansão. O turismo tem tido taxas de crescimento de 10% ao ano desde 2014 e, de acordo com o Banco de Portugal, o seu peso na economia nacional deverá ter ultrapassado os 8% em 2018..Este setor vai continuar a crescer, lembra João Cerejeira, mas a ritmos mais baixos, o que também vai afetar a criação de emprego. "A manutenção da taxa de desemprego tem que ver com o facto de, depois daquele boom de criação de empresas, termos chegado ao momento em que já não cresce tanto", sublinha..O professor universitário lembra ainda que, no final de 2018, "deve ter havido uma aceleração do crescimento dos salários, que funciona como um travão às novas contratações." Em resultado, e assumindo que estamos a entrar no desemprego estrutural, os salários tenderão a aumentar para atrair os mais qualificados.