A Samsung Electronics, outrora o exemplo perfeito de integração vertical no mundo tecnológico, vive um momento sem precedentes de crise de fornecimento. A Divisão de Telemóveis (Mobile eXperience - MX) está, na prática, incapaz de comprar componentes cruciais à sua “empresa-irmã”, a divisão de semicondutores (Device Solutions - DS), devido a uma combinação letal de incapacidade na produção e de posicionamento comercial.O primeiro momento nesta crise é o fracasso do processador Exynos 2500. A Samsung Foundry não conseguiu estabilizar o seu processo de fabrico de 3 nanómetros (3nm), com relatórios da indústria a indicarem taxas de rendimento (yield) muito baixas - em alguns casos, inferiores a 20% ou 50%. Isto significa que a fábrica não consegue entregar chips funcionais em volume suficiente. Como resultado, a divisão móvel foi forçada a cancelar a compra interna e a encomendar a totalidade dos processadores para o Galaxy S25 à rival Qualcomm. Ao pagar cerca de 190 a 200 dólares (aprox. 162 a 170 euros) por cada Snapdragon 8 Elite, a Samsung Mobile perde a sua maior vantagem competitiva: o custo baixo do hardware proprietário, segundo a publicação especializada PhoneArena.Para piorar este cenário, o bloqueio estende-se agora à memória, o “pão com manteiga” da gigante sul-coreana, fornecedora do mundo em RAM. Dados publicados pela imprensa internacional revelam que a Divisão de Semicondutores recusou renovar os contratos anuais de fornecimento de memória DRAM com a divisão de telemóveis, motivada pela explosão da procura de memória para Inteligência Artificial (HBM), que oferece margens de lucro muito superiores. A consequência? A divisão móvel foi obrigada a aceitar renegociações trimestrais, ficando exposta à volatilidade e aos preços premium do mercado aberto, tal como qualquer cliente externo.O cenário é de “tempestade perfeita” para a gestão da Samsung Mobile: não conseguem comprar o “cérebro” do telemóvel em casa porque a fábrica não o consegue produzir, e não conseguem comprar a “memória” a preços estáveis porque a divisão vizinha prefere lucrar com a NVIDIA e centros de dados.Uma crise de abastecimento interno que coloca uma pressão imensa sobre o preço final dos dispositivos.