Setembro é sinónimo de regresso às aulas e, inevitavelmente, de um peso acrescido nos bolsos dos agregados que têm filhos em idade escolar. As famílias estimam gastar, este ano, uma média de 604 euros por educando, o que representa um ligeiro aumento de seis euros face a 2024, revelam os dados do estudo Regresso às aulas 2025 do Observador Cetelem cedidos ao DN. As despesas analisadas são subdivididas em 14 categorias sendo que o material escolar, os artigos de vestuário e calçado e o material de apoio didático extra se apresentam no top três da lista das prioridades. No que respeita ao material escolar, a fatura com itens como mochilas, canetas ou cadernos situa-se, em média, nos 164 euros. Contudo, são os encargos com tecnologia que fazem disparar o orçamento traçado para o novo ano letivo e elevam o montante a despender. Os inquiridos admitem investir em computadores fixos ou portáteis, tablets, telemóveis e até meios de mobilidade como bicicletas ou trotinetas. A maioria dos tutores, 57%, diz optar por comprar um computador novo para os educandos sendo que 11% adquiriu este dispositivo em segunda-mão. Já 34% dos participantes do estudo revela que utiliza o computador cedido pela escola por considerar que este é suficiente para as necessidades. As conclusões do Observador Cetelem, que entrevistou 1.300 famílias, adiantam que o preço elevado se configura na principal dificuldade que os encarregados de educação enfrentam aquando da compra de dispositivos tecnológicos, com 83% a admitirem constrangimentos nesta área.A lista de gastos é extensa e é preciso somar ainda outros custos como os pacotes com internet, material e roupa específica para as atividades como educação física ou desporto, atividades extracurriculares e até mobiliário. No que respeita às intenções de compra, a maioria pretende adquirir o material escolar em lojas físicas como livrarias, lojas especializadas e em hiper e supermercados..Perto de metade não tem poupanças e um em cada três encarregados de educação irá recorrer a crédito.As contas nem sempre são fáceis de fazer e as despesas extra com o regresso às aulas assumem-se, para muitas famílias, numa dor de cabeça acrescida. Para 43% dos inquiridos “o custo da educação representa uma uma fonte de stress e temem não conseguir financiar a mesma”, detalha a análise. Ainda assim, e por outro lado, o estudo indica que o número dos agregados que considera ter total capacidade para financiar a educação subiu face a 2024, para 46% (42% em 2024) e dá conta de uma perceção mais positiva por parte de algumas famílias portuguesas. “Esta melhoria resulta de uma combinação de fatores que reforçam a sua confiança na capacidade para enfrentar as despesas escolares, como, por exemplo, a redução das taxas Euribor, que se refletem em mensalidades menores na habitação, e os salários serem nos meses de agosto e setembro deste ano maiores, por terem menos descontos em IRS, resultando em maior rendimento disponível”, explica ao DN o diretor de marketing do Observador Cetelem, Hugo Lousada. Contudo, o responsável alerta que quase metade dos inquiridos se encontra numa situação de stress financeiro. “Apesar de uma perceção global de melhoria financeira, 43% dos encarregados de educação continuam a ver os custos da educação como uma fonte de stress ou receiam não conseguir financiá-los. Esta aparente contradição explica-se pelo peso significativo das despesas É importante notar ainda que a melhoria no global não apaga as desigualdades: algumas famílias estão, de facto, numa situação mais confortável, mas 50% consideram que a sua situação se manteve igual, enquanto outras continuam a enfrentar dificuldades. Estas disparidades ajudam a compreender porque, apesar de um panorama global ligeiramente mais positivo, uma parte relevante das famílias continua a associar a educação a stress financeiro”, refere.Face às dificuldades, o crédito apresenta-se como a solução possível para um em cada três encarregados de educação que estima cobrir parte das despesas por esta via, com um gasto médio de 367 euros, um valor 23 euros abaixo do período homólogo. Pedir um financiamento ou um crédito pessoal tem sido uma das vias para garantir que os educandos asseguram as necessidades escolares. A aquisição de equipamentos tecnológicos e o pagamento de cursos e propinas é a principal finalidade dos créditos para 40% das famílias. A ausência de poupanças específicas para a educação com os filhos é outro dos fatores que pesa na realidade de 44% dos encarregados de educação enquanto que uma franja de 34% assume ter dinheiro de parte que irá utilizar para o regresso às aulas. “A intenção do recurso ao crédito para despesas escolares demonstra uma variação ligeira face a 2024, de menos dois pontos percentuais. No entanto, o estudo Observador Cetelem Regresso às Aulas 2025 mostra um maior recurso às poupanças: 34% das famílias recorrem às que já tinham acumulado e 27% planeiam criar reservas para esta época. Estes dados apontam para um planeamento financeiro estruturado”, enquadra o responsável. .Valor real das bolsas no Superior caiu na última década e só chega para 20% das despesas .Considerando o atual contexto económico e o aumento das despesas no início de setembro, é imperativo traçar estratégias para minimizar o impacto no orçamento familiar. Comprar apenas o necessário, procurar mais promoções e reutilizar o material escolar são as três ações que mais pessoas tencionam fazer para poupar. A maioria dos inquiridos garante que irá adotar mecanismos para que as compras no regresso às aulas sejam menos dispendiosas. “A gestão de consumo parece ser mais prudente: as famílias estão a priorizar o essencial, a aproveitar promoções e a reutilizar material escolar. O facto de 96% afirmarem que pretendem adotar estratégias para reduzir custos demonstra escolhas mais ponderadas e planeadas”, justifica Hugo Lousada. Num retrato mais lato, os dados indicam que 43% dos portugueses têm estudantes a seu cargo, um número em linha com os últimos dois anos - e 4% acima de 2020. Afinado o perfil, estes encarregados de educação têm idades entre os 35 e 54 anos e apresentam uma “tendência para serem de classe mais elevada com um rendimento do agregado superior a 1650 euros”. Na amostra, apenas 14% aufere uma remuneração entre os 750 euros e 1200 euros. Olhando para o número de estudantes a cargo, 67% dos encarregados de educação têm um estudante a cargo - sendo que a maioria frequenta o ensino básico e público - 27% têm dois e 6% tem três ou mais estudantes sob a sua responsabilidade. .Três em cada cinco portugueses diz não ter dinheiro para as necessidades básicas .Milhares de alunos voltarão a começar as aulas sem ter todos os professores