O Governo pretende avançar com a privatização da TAP nas próximas semanas, mas a posição do Partido Socialista (PS) a respeito da operação promete dificultar o processo, de acordo com fontes ligadas aos grupos concorrentes. Mais do que o facto de o PS se opor à venda de uma posição superior a 49% do capital, está em causa a exigência, formulada por Pedro Nuno Santos, de assegurar ao Estado uma capacidade efetiva de intervenção na companhia de aviação, o que pressupõe um papel ativo na administração.Questionada pelo Dinheiro Vivo, fonte oficial do PS respondeu que o partido não está disponível para entrar em negociações prévias com o Governo a respeito da privatização da TAP. Desta forma, a haver algum entendimento sobre a privatização, será alcançado no Parlamento, quando Miguel Pinto Luz apresentar a proposta do Executivo. O PS é contra a venda de uma participação maioritária no capital da TAP e coloca outras condições para que possa aprovar o negócio, como a manutenção do hub da companhia em Lisboa, uma exigência que está também contemplada no projeto do Governo. Mas o PS exige, para além disso, que a posição maioritária que o Estado irá conservar no capital da empresa corresponda, de facto, a uma capacidade efetiva de se fazer ouvir na definição dos seus destinos, ao invés de simplesmente se entregar a gestão aos privados, como se fez na anterior tentativa de privatização, com David Neeleman.Para os potenciais candidatos à privatização, como a Air France-KLM, a IAG e a Lufthansa, este cenário criará incerteza adicional, pois será necessário definir o que significa exatamente essa capacidade efetiva por parte do Estado. “Será nomear a maior parte dos administradores? Será a maior parte dos membros da comissão executiva? Não sabemos”, disse uma fonte próxima do processo, que pediu para não ser identificada. Outra fonte próxima da operação sinalizou que os grupos interessados na TAP querem ter perspetivas de mais tarde poderem adquirir o controlo da companhia aérea. Um cenário em que o Estado permaneça como principal acionista no longo prazo e tenha um peso significativo na gestão deverá inviabilizar o interesse por parte de um grande grupo internacional, frisou.Apoio do PS é fundamentalUma certeza é que, no atual quadro parlamentar, a privatização da TAP apenas poderá avançar com o apoio do PS ou do Chega. Dos dois, os socialistas são considerados decisivos, dada a sua tradicional alternância no poder e à possibilidade de regressar ao Governo nos próximos anos.Por esta razão, o ministro das Infraestruturas tem-se mostrado interessado em chegar a acordo com o PS em relação ao tema da TAP, uma vez que esse entendimento entre os dois maiores partidos é considerado fundamental para assegurar a estabilidade da companhia após a privatização. Na anterior tentativa de venda, conduzida pelo Governo de Pedro Passos Coelho, este consenso não existia, o que levou a que posteriormente António Costa procedesse a uma reversão da privatização e, mais tarde, à sua renacionalização. “Este cenário será menos provável se o comprador for um grande grupo europeu do sector”, defendeu uma das fontes do mercado ouvidas pelo Dinheiro Vivo. Porém, acrescentou, é necessário assegurar previsibilidade para quem investir na TAP.Chega alinhado com o PS?Quanto ao partido liderado por André Ventura, a sua posição em relação à privatização da TAP tem semelhanças com a do PS. O Chega defende que o Estado deve ter pelo menos um lugar no conselho de administração da TAP, algo que não será possível em caso de privatização total da empresa. Nos últimos anos, por mais de uma vez o Chega votou contra a privatização da TAP, pelo que o Governo dificilmente contará com o seu apoio, no Parlamento, para fazer avançar a operação contra a vontade do PS. O Dinheiro Vivo tentou obter esclarecimentos de fonte oficial do Executivo, bem como de André Ventura sobre o tema da TAP, mas até ao fecho da edição tal não foi possível..Caderno de encargos da privatização da TAP obrigará a manter ligações ao Brasil .Pinto Luz nega fim da paz social e garante que Governo "não vacilará" com a privatização da TAP