As empresas portuguesas esperam contratar mais pessoas do que as que vão dispensar no próximo trimestre, mas são das que se apresentam mais cautelosas a nível global. No panorama nacional, 34% das empresas antecipam aumentar o pessoal, enquanto 21% esperam reduzir. São as grandes, com mais de 5 mil trabalhadores que mais vão admitir, enquanto as microempresas prevêm cortar 11% no emprego.“Os empregadores reportam uma projeção para a criação líquida de emprego de +14% para o quarto trimestre de 2025”, revela o inquérito ao emprego da Manpower para o quarto trimestre do ano, a que o DN teve acesso.Apesar daquele indicador ser positivo, Portugal fica nove pontos percentuais abaixo da média global na intenção de contratações, analisada pela Manpower, num estudo que é divulgado esta terça-feira internacionalmente. Enquanto ao nível global, os empregadores apontam projeções de um aumento de 23%, no espaço EMEA (Europa, Médio Oriente e África), a expectativa de novas admissões estabilizou nos 18% e Portugal fica-se pelos 14%.A explicação para esta maior retração dos empresários portugueses face aos seus congéneres pode estar na incerteza que paira sobre o mundo num cenário de abrandamento económico. “Tendo em conta que mais de 90% do tecido empresarial português é composto por pequenas, médias ou micro-empresas, é natural que se sintam mais receosas com a conjuntura económica global, porque são, em regra, mais vulneráveis”, disse ao DN Rui Teixeira, admistrador da Manpower Portugal. “As guerras comerciais e o agravamento das tarifas comerciais não ajudaram a melhorar a confiança”, acrscentou.Rui Teixeira prefere, no entanto, destacar o facto de a projeção de criação líquida ser positiva. “Estes indicadores denotam um otimismo moderado pelos agentes económicos”, observa. O “otimismo moderado” dos empresários está dois pontos percentuais abaixo do trimestre anterior, mas isso poderá explicar-se pelo fim do período de verão, sempre relacionado com um aumento de contratações, por efeito do turismo.“Esta é uma tendência habitual no último trimestre do ano, por causa da sazonalidade dos empregos de verão”, assevera o responsável. E prova disso mesmo é o facto da região sul do país ser aquela para a qual é prevista uma maior quebra nas contratações, menos 4%. Inversamente, a região centro – menos exposta às flutuações do turismo _ é aquela que apresenta uma projeção mais dinâmica, com mais 29%. A Grande Lisboa também apresenta um sentimento positivo com a expetativa de mais 19% de contratações.Por setores e profissões, o inquérito da Manpower conclui que são os setores de Serviços de Comunicação e de Energia & Utilities que apresentam as intenções mais otimistas, com uma projeção de +38%. Estamos a falar de trabalhos nas áreas das telcomunicações, mas não só. Igualmente num lugar cimeiro situam-se as tecnologias de informação, com os empregadores a estimarem mais 22% de admissões.No seu conjunto, aqueles dois setores são os têm apresentado índices mais elevados de procura de trabalhadores nos últimos tempos, pagando também melhores salários.“Neste momento já se verifica uma certa estabilização na procura por especialistas em tecnologias de informação (TI), após o grande boom dos anos 2020 e 2021, até porque em alguns setores a robotização e a utilização de IA (Inteligência Artificial) já é uma realidade, dispensando pessoal”, considera Rui Teixeira.Quanto aos setores da energia & utilities, o administrador da Manpower Portugal atribui as elevadas estimativas de admissões de pessoal à era de transição energética que estamos a viver, desde os painéis solares, às baterias e aos veículos elétricos e toda a estrutura necessária para a sua circulação, como as estações de carregamento, por exemplo.No sentido oposto, “os empregadores do setor de Bens e Serviços de Consumo revelam uma quebra significativa no sentimento de contratação, avançando uma projeção para criação líquida de emprego negativa, de -9%, traduzindo assim diminuição do emprego neste setor”.Adotada internacionalmente como um indicador de tendências económicas e do mercado de trabalho, a Projeção para a Criação Líquida de Emprego é calculada pela diferença entre a percentagem de empregadores que planeiam contratar e aqueles que antecipam reduções nos níveis de pessoal.