“Estamos numa posição mais segura”, considera Fernando Medina, ministro das Finanças.
“Estamos numa posição mais segura”, considera Fernando Medina, ministro das Finanças.Gerardo Santos / Global Imagens

Doze anos depois, Portugal sai do pódio dos endividados da Europa

País passa de terceiro lugar dos mais endividados da Europa para sexto em 2023. Dívida ficou abaixo de 100% do PIB, mas ainda falta muito para chegar à meta dos 60%.
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Doze anos depois da bancarrota que levou Portugal a pedir um resgate financeiro à Europa e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no início de 2011, a República consegue sair do pódio das três maiores dívidas públicas da Europa (em percentagem do PIB - Produto Interno Bruto) e começar a descer no ranking do FMI das maiores dívidas do mundo desenvolvido.

De acordo com dados ontem avançados pelo Banco de Portugal (BdP) para o fecho da dívida pública portuguesa em 2023 e as mais recentes estimativas da Comissão Europeia (também para o ano passado), Portugal deve, facilmente, descer do lugar de terceiro mais endividado da Europa (em primeiro está e continuará a Grécia e em segundo a Itália), passando a ser o sexto mais endividado, sendo ultrapassado nesta lista por França e Espanha em 2023, por esta ordem.

“O peso da dívida pública no PIB reduziu-se de 112,4% em 2022 para 98,7% em 2023”, anunciou o BdP, a instituição responsável pelo apuramento deste indicador fundamental na avaliação do cumprimento das regras do Pacto de Estabilidade. Ainda assim, a dívida tem de continuar a descer (quase 40% do PIB) para chegar à meta de 60% imposta pelo Pacto de Estabilidade.

Foi em 2010 que começou a sério a longa e dura ascensão do peso da dívida, que ainda hoje exige aos contribuintes uma fatura muito elevada de juros a pagar aos credores (6,8 mil milhões de euros em 2023, segundo revelou o Ministério das Finanças), confrontando-os com maiores restrições na despesa ou mesmo cortes e aumentos de impostos e demoras no alívio fiscal.

Até 2002, Portugal respeitou o critério da dívida (esteve perto dos 60% do PIB). Mas a partir da grave crise financeira e bancária de 2008 e da recessão de 2009 o quadro degradou-se. Confrontado com a derrocada de bancos (caso do BPN) e com a necessidade de amparar o sistema financeiro, foram usados abundantes fundos públicos, muitos deles através ou supridos por emissões de dívida. 2009, já com o rácio da dívida a cavalgar, foi o último ano com dívida abaixo de 100%, estava o PS de José Sócrates ao comando.

Devido a várias decisões tomadas pelo seu executivo socialista (a nacionalização do BPN é uma das mais onerosas, até hoje), a situação viria a apertar ainda mais com o resgate e a austeridade, tendo o rácio atingido um máximo histórico de 132,9% do PIB em 2014, último ano do ajustamento da troika e do governo PSD-CDS. 

Até 2016, a dívida continuou persistentemente acima de 131% do PIB, o que levou os sucessivos governos de António Costa (e os seus três ministros das Finanças, Mário Centeno, João Leão e Fernando Medina) a terem sempre rédea curta na despesa e a manter a receita a andar bem.

Objetivo: parar de alimentar a dívida, impedindo o país de ter grandes défices. Mais: forçando as contas públicas a darem excedente. Aconteceu, pela primeira vez em 2019 e vai acontecer de novo em 2023, segundo sinalizou a tutela de Medina, também anteontem.

Centeno e Medina aparecem

Ontem, umas horas antes do BdP anunciar o valor oficial da dívida em 2023, no evento Fórum Banca, organizado pelo Jornal Económico, em Lisboa, o governador fez questão de lançar um teaser sobre o tema. “Vamos ficar a saber que está abaixo de 100%, o que há muitos anos que não acontecia”, acenou. Centeno também pode colher louros, porque foi ministro das Finanças entre final de 2015 e meados de 2020.

Fernando Medina, o terceiro ministro das Finanças de António Costa, também quis falar e convocou uma conferência de imprensa à última da hora. “Estamos numa posição mais segura”, que “permite a libertação de juros para apoiar as políticas públicas do país”, disse.

Estamos a falar de uma redução real da dívida em 9,4 mil milhões de euros entre 2022 em 2023 - algo que “só aconteceu duas vezes nos últimos 50 anos” - e que pode dar uma “poupança em juros de 3,3 mil milhões de euros de 2024 a 2034”.

A grande compressão

A grande compressão da dívida em 2023 resultou de um conjunto de operações de larga escala para pagar antecipadamente aos credores e da utilização de valores em depósitos, embora o BdP dê a entender que os valores em numerário (liquidez pura) possam ter aumentado. Ou seja, o Governo pode ter aqui um instrumento para, a qualquer momento, usar estes fundos e fazer esvaziar mais o saco da dívida.

Segundo o banco central português, “em 2023, a dívida pública na ótica de Maastricht diminuiu 9,4 mil milhões de euros” face a 2022. “Esta variação resultou, em grande medida, da redução de títulos de dívida de curto e de longo prazo (-4,2 mil milhões de euros e -11 mil milhões de euros, respetivamente), de certificados do Tesouro (-4,2 mil milhões de euros) e de empréstimos (-3,1 mil milhões de euros)”. “Em sentido contrário, destacaram-se as emissões líquidas positivas de certificados de aforro (14,4 mil milhões de euros)”, diz o BdP.

Os ativos em depósitos das administrações públicas que, juntamente com o numerário, formam a almofada de liquidez da República, “reduziram-se em 2,5 mil milhões de euros em 2023”.

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