Apple faz acordo com OpenAI e leva ChatGPT para o iPhone
A Apple chegou finalmente à nova era da Inteligência Artificial, com novidades relevantes que vão mudar a experiência dos seus utilizadores a partir de setembro. No arranque do evento anual para programadores WWDC, que decorre esta semana em Cupertino, a empresa anunciou o lançamento da Apple Intelligence: uma camada de serviços de IA e IA generativa que será visível no iPhone, iPad e computadores Macintosh. Também anunciou um acordo com a OpenAI, que vai integrar o ChatGPT diretamente no iPhone.
“Este é o início de um entusiasmante novo capítulo de inteligência pessoal”, declarou o vice-presidente de engenharia de software da Apple, Craig Federighi. “É inteligência fundamentada nas coisas que nos definem.”
A personalização é o grande foco da Apple, que pretende diferenciar-se da competição depois de ter sido uma das últimas a chegar à festa da IA generativa. Segundo explicou Federighi, as ferramentas atuais “sabem muito pouco” sobre os utilizadores e as suas necessidades, e por isso a Apple Intelligence é um sistema pessoal que entende ao nível individual. Tudo será processado no próprio aparelho - o que significa que só os iPhones a partir do 15 Pro e os iPads e Macs a partir do chip M1 poderão beneficiar da novidade.
As capacidades vão desde a reescrita automática de emails e verificação de gramática até à geração instantânea de imagens dentro da aplicação iMessages, Notas e outras. “O sistema compreende o seu contexto pessoal”, frisou Federighi. Por exemplo, o utilizador pode perguntar “mostra-me o podcast que a minha mãe enviou no outro dia” ou “procura as fotografias onde a minha filha está de cor de rosa”.
O assistente pessoal por voz Siri - que foi o primeiro a chegar, mas dos mais lentos a evoluir - dará um salto ao nível de capacidade de compreensão e ação, podendo entender conversas em contexto e agir de forma transversal nas aplicações. Um exemplo é ir buscar uma foto do cartão de identificação, extrair o número e inseri-lo num documento.
“Podemos tornar o Siri mais natural, contextualmente relevante e personalizado”, disse a diretora de Machine Learning e IA da Apple, Kelsey Peterson. “Este ano marca o início de uma nova era para o Siri.”
As aplicações de escrita também receberão uma grande injeção de IA generativa - seja no Mail, Pages, Notas, publicações de blogue ou outras. No Mail, a caixa de entrada será reorganizada por prioridades e o utilizador poderá carregar num botão para obter sumários do conteúdo dos emails no topo. Também pode reescrever, analisar o tom e gerar um resumo dos emails que o utilizador escreve antes de enviar. A app Notas passará a poder gravar e transcrever áudio de forma automática, gerando um resumo no final.
Nas Mensagens, surgem várias novidades. Uma delas é o Genmoji, emojis criados por IA generativa a partir de um pedido do utilizador. Por exemplo, um sketch da mãe como se fosse uma heroína ou a melhor amiga com um chapéu de parabéns em desenho animado. Será ainda possível criar efeitos visuais e de texto nas mensagens, tais como sublinhar ou colocar em negrito. E na aplicação de Fotos, além da reorganização e pesquisa inteligente, será possível “apagar” elementos indesejados em pano de fundo.
“A Apple Intelligence é verdadeiramente única na forma como compreende o utilizador e vai ao seu encontro onde ele está”, disse Craig Federighi, referindo que a disponibilização será para os próximos sistemas operativos que chegam no outono.
Mas o salto da empresa para esta era da IA também se faz com a ajuda da OpenAI, que desencadeou a revolução da IA generativa com o ChatGPT. O bot será integrado no Siri e noutras partes do sistema da Apple. Se o utilizador fizer um pedido em que o ChatGPT pode ser útil, o Siri vai perguntar se pode pedir ajuda ao bot da OpenAI - seja para dar uma resposta ou para gerar uma imagem.
“Poderá aceder [ao ChatGPT] de forma gratuita e sem criar conta”, frisou Federighi. Quem tem o serviço pago do ChatGPT terá a opção de conectar a sua conta com a Apple Intelligence. Esta integração estará disponível “mais para o final do ano” e a empresa pretende integrar também “outros modelos IA no futuro”, embora sem dar detalhes.
Numa apresentação que durou quase duas horas, a Apple fez um resumo de tudo o que vai chegar ao nível de software na segunda metade de 2024: o visionOS 2, o sistema operativo dos óculos de realidade mista Vision Pro; o iOS 18, sistema que alimenta o iPhone; iPadOS 18, para o seu tablet; watchOS 11, para o relógio inteligente; e MacOS Sequoia, para os seus computadores. Neste último, foi dado um grande destaque às funcionalidades de privacidade e segurança, além da maior integração com o iPhone: passará a ser possível aceder a tudo o que está dentro do iPhone a partir do Mac sem tocar no telefone e sem que este tenha de ser desbloqueado.
O evento da Apple acontece numa altura em que a pressão sobre a empresa para recuperar terreno na IA vinha em crescendo. O CEO Tim Cook salientou que a gigante “usa machine learning e IA há anos” com o objetivo de desenhar “produtos poderosos que melhoram a vida das pessoas”.
O executivo disse que a empresa quer garantir que a inteligência contribui para os princípios que fundamentam os seus produtos. “Construída de uma forma única, acreditamos que a Apple Intelligence será indispensável para os produtos que já têm um papel tão central nas nossas vidas.”
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