Volocopter. O táxi aéreo está pronto a levantar voo

Entrámos no híbrido entre carro e avião que irá chegar ao mercado em 2020 e falámos com o cofundador da empresa, Alexander Zosel, no CES 2018, em Las Vegas.
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No filme O Quinto Elemento há tantos carros voadores que não se consegue ver o céu. O táxi que Bruce Willis conduz é amarelo, metade carro metade nave, faz um barulho ensurdecedor quando acelera e é controlado como um avião. Não é nada disto que a Volocopter quer trazer para o mercado dentro de dois anos. Na verdade, o cofundador da empresa que criou o primeiro táxi aéreo autónomo do mundo, Alexander Zosel, nem sequer gosta do conceito de "carro voador".

"Não fazemos um carro voador e não estamos a imitar os Jetsons, o Volocopter é uma nave que levanta e poisa na vertical, tal como um helicóptero", diz o cofundador ao DN/Dinheiro Vivo. "Isso é uma fantasia das pessoas."

Zosel beberica um café americano enquanto assiste ao fascínio da audiência no exterior do centro de convenções de Las Vegas, onde o Volocopter esteve a ser mostrado esta semana. O mais importante evento tecnológico do ano serviu para a estreia americana do aparelho, que parece um drone gigante com 18 pás de rotor e voou dentro do hotel Monte Carlo durante a conferência de imprensa da Intel. Foi uma surpresa que deixou toda a gente de queixo caído. Percebe o fascínio, mas a sua visão é pragmática e realista. Afinal, são todos alemães: perfeccionistas, rigorosos, pouco dados a deslumbramentos.

"A ideia não é que as pessoas se divirtam a usar o Volocopter, isto não é uma montanha-russa", explica. O modelo de negócio é este: em 2020, serão iniciados serviços de táxi aéreo num par de cidades ainda por determinar, com trajetória definida entre dois hubs de partida e chegada. O objetivo é escolher uma zona muito afetada por congestionamento terrestre, tal como o trajeto entre um aeroporto e o centro de uma grande metrópole. Uma vez provado o conceito, será necessário alargar o ecossistema.

"Haverá hubs onde se podem estacionar e chamar os Volocopters. Teremos pequenas plataformas, por exemplo, em frente a hotéis. É um misto entre infraestrutura, onde temos carregamento, e estacionamento, tal como uma estação de comboios. Teremos estações com 20 ou 30 modelos e depois haverá pequenos spots."

Um dos motivos pelos quais a empresa não gosta da expressão "carro voador", apesar de esta se ter disseminado em relação ao Volocopter, é que o serviço está a ser desenhado para servir os cidadãos comuns, com um preço semelhante ao que se paga por uma viagem em Uber Black. "Um carro voador é um brinquedo para pessoas ricas, e isto é uma coisa completamente diferente." Um híbrido entre um avião e um carro, destaca.

O principal desafio da empresa é conseguir as autorizações para voar e colaborar com as autoridades na elaboração de um novo enquadramento regulatório, tal como foi necessário para acomodar o surgimento dos drones e de serviços de economia partilhada como o Uber. A diferença, aqui, é que o Volocopter será totalmente elétrico e totalmente autónomo.

O Volocopter 2X tem um painel de bordo simples: dois ecrãs azuis, dois botões e nenhum joystick. O voo é controlado remotamente ou processado inteiramente pelo aparelho, de forma autónoma. Tem lugar para duas pessoas, com bastante espaço para esticar as pernas e assentos acolchoados.

Os vidros frontal e laterais permitem uma visão clara de tudo o que está à volta. O funcionamento é silencioso e completamente estável, sem turbulência nem pressão nos ouvidos. Alexander Zosel explica que o objetivo é cumprir distâncias curtas, não levar pessoas de Lisboa ao Porto, por exemplo. "Primeiro por causa da bateria, depois pela velocidade", resume.

O Volocopter vai voar a um máximo de 100 km/hora, porque precisaria de muito mais energia para voar mais rápido. Em termos de altitude, será algo entre 50 e 150 metros, dependendo da arquitetura da cidade e da presença de arranha-céus. Los Angeles tem edifícios muito baixos, mas Nova Iorque é uma selva urbana. "E porque não Lisboa, que tem sete colinas?", aventa Zosel. Quanto aos locais de partida e aterragem, "as cidades já têm muito espaço onde se pode estacionar, tais como parques de estacionamento para carros e terraços".

Há dois anos, a empresa calculava que cada Volocopter custaria algo como 250 mil euros. Agora não fala de preços. E não pretende pôr estes híbridos à venda para consumidores finais. Serão usados como frotas de táxis operados comercialmente.

A startup tem a Daimler e a Intel como investidoras estratégicas, cada uma com 10% do capital e envolvidas nas especificações técnicas. "Somos alemães e nunca estamos satisfeitos com o que temos", indica Zosel, referindo as constantes melhorias no software e hardware que estão a ser feitas.

Há ano e meio, eram apenas seis funcionários num escritório no Sul da Alemanha, perto de Stuttgart. Há seis meses eram dez. Agora, sentado num hangar improvisado no CES de Las Vegas, Zosel conta que já são 50 e vão contratar mais 70 a 80 pessoas nos próximos meses. É um crescimento agressivo que prepara a contagem decrescente para o lançamento do serviço comercial.

Neste momento, estão a trabalhar com as autoridades reguladoras no Dubai, onde fizeram o primeiro teste de voo autónomo há quatro meses, e levantam voo todos os dias na Alemanha, onde têm uma licença comercial de aviação para o aparelho. Não é uma visão futurista, é algo que vai mesmo acontecer. "Estaremos prontos quando os reguladores estiverem prontos."

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