As taxas de juro têm impacto no seu dinheiro. A Associação Portuguesa de Bancos diz-lhe como

Como é que as taxas de juro afetam o nosso dinheiro, de que forma são definidas e para que serve o BCE? No <em>saberdecontas.pt</em>, o site especializado em literacia financeira da APB, há respostas para todas estas perguntas e mais ainda.
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O Banco Central Europeu (BCE) acaba de aumentar a taxa de juro de referência para a Zona Euro, a que Portugal pertence, para 0,5%, um valor que é o dobro do que se previa. É a primeira subida de juros em 11 anos. Que impactos vai isto ter para o bolso dos portugueses?

Se a literacia financeira da população portuguesa fosse medianamente boa, aquela primeira afirmação bastaria para que os consumidores percebessem que muito provavelmente teriam de apertar os cordões à bolsa. Mas a maioria ouvirá esta notícia com alguma indiferença, sem saber o quanto a medida lhes vai tocar. É para inverter esta situação que a Associação Portuguesa de Bancos (APB), na sua missão de aumentar a literacia financeira dos portugueses, explica os efeitos desta questão e outras no seu site especializado saberdecontas.pt.

"É importante que os portugueses compreendam como é que as taxas de juro afetam o seu dinheiro, quer tenham um crédito à habitação ou um depósito aplicado junto de uma instituição financeira", diz a APB num briefing, em que depois convida a consultar os conteúdos mais informativos do seu site. Ora, a taxa de juro do BCE diz-se "de referência" porque é aquela pela qual os bancos nacionais se regem para a concessão de empréstimos, nomeadamente os créditos para habitação, que quase todos nós temos.

CitaçãocitacaoPara os agregados familiares esta notícia deveria sempre sinalizar a necessidade de sentar à mesa e refazer contas para ver o que é preciso cortar nos gastos.esquerda

Isto, porque, como explica a APB, "o BCE é o banco central dos 19 países da União Europeia que usam o euro como moeda, logo, que constituem a Zona Euro. Portanto, é o BCE que define as taxas de juro oficiais do Eurossistema, isto é, as taxas de juro a que o BCE e os bancos centrais nacionais conferem liquidez à Zona Euro. São estas que vão decidir as taxas de juro interbancárias, ou seja, as que os bancos praticam entre si, e uma das taxas interbancárias mais conhecidas é a Euribor, a tal que é aplicada nos créditos à habitação.

Assim, se os juros do BCE sobem, também a prestação da casa aumenta, deixando menos dinheiro para as famílias ao fim do mês.

Em sentido contrário, se temos contas-poupança ou depósitos a prazo, ao subirem as taxas de juro, será provável que o dinheiro passasse a render mais.

Em suma, "ao aumentar a taxa de juro diretora, o banco central torna o dinheiro mais caro, logo o poder de compra das pessoas diminui, as decisões de consumo são adiadas, o recurso ao crédito é desincentivado e a poupança renderá juros maiores. No cenário inverso, quando há uma descida da taxa de juro diretora, o dinheiro fica mais barato e, consequentemente, reduz-se também o custo de pedir um empréstimo, estimulando assim os gastos das famílias, o investimento das empresas e a expansão económica".

Independentemente do esforço que este aumento represente para as famílias, o presidente da APB defende que a subida da taxa de juro é o regresso à normalidade. Numa entrevista recente ao DN/TSF, Vítor Bento, que esteve na administração de vários banco nacionais e pertenceu ao Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, afirmou "que o que não é normal é existirem taxas de juros negativas", lembrando que depois da criação do euro, a média da Euribor a seis meses foi de 3,6%, um valor do qual mesmo agora estamos muito afastados.

O presidente da APB disse ainda que é expectável que as subidas que se perspetivam no horizonte sejam acomodadas pelas famílias, podendo haver casos de maior dificuldade ou carência que deverão ser apoiados pelo Estado.

Para além de ser o banco central dos países da Zona Euro, o BCE tem por missão manter os preços estáveis. Porquê? Porque a constante subida e descida dos mesmos causa instabilidade, desconfiança nos agentes económicos e afeta a economia.

E como é que o BCE mantém a estabilidade dos preços? Como explica a APB, "garantindo que a inflação permanece baixa, estável e previsível, de preferência nos 2% a médio prazo". Algo que no atual contexto global - na sequência de dois anos de pandemia e com a guerra da Rússia na Ucrânia - se tem demonstrado impossível, com a taxa de inflação na Zona Euro a fixar-se nos 8,6% em junho, o máximo desde 1993.

O objetivo será que a médio prazo a inflação regresse aos 2% e, para isso, diz a APB, o BCE tem vários instrumentos ao seu dispor: as taxas de juro (as tais que Christine Lagarde, presidente do BCE, já subiu para 0,5%), as reservas mínimas do Banco Central (que pode aumentar ou reduzir, injetando mais dinheiro no mercado) e a aquisição de ativos (Quantitative Easing), em que mais uma vez, ao comprar títulos, aumenta a quantidade de moeda em circulação e incentiva empréstimos e investimento.

Por fim, é também função do BCE a "supervisão dos bancos da Zona Euro, em articulação com os respetivos bancos centrais nacionais", garantindo a segurança dos depósitos e depositantes e a solidez dos bancos. Compete-lhe ainda a emissão de notas e o bom funcionamento dos sistemas de pagamento - cartões de débito, crédito, transferências, etc. - e a estabilidade e resistência do sistema financeiro para resistir a choques.

A propósito da Euribor, já se falou da taxa de juro que, no caso da Zona Euro, esta acaba por ser é definida através da taxa de referência do Banco Central Europeu. O que não se disse, e a APB explica, é como é que esta taxa é concretamente definida.

"De seis em seis semanas, o Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) define as taxas de juro oficiais do Eurossistema", as tais a que já se fez referência e que são usadas para injetar ou absorver dinheiro do sistema bancário.

Quando a taxa de juro do BCE aumenta, a casa fica mais cara, o dinheiro também, logo os produtos fabricados e vendidos pelas empresas também, portanto, o custo de vida em geral aumenta. Para os agregados familiares esta notícia deveria sempre sinalizar a necessidade de sentar à mesa e refazer contas para ver o que é preciso cortar nos gastos.

E nos investimentos, como é? "É expectável que se verifique uma queda no mercado acionista, uma vez que as famílias e empresas irão retrair os seus consumos (...). As ações tornam-se menos apetecíveis, uma vez que o retorno esperado pode não compensar o risco."

Estes temas encontram-se ainda mais desenvolvidos nos artigos "Como é que as taxas de juro afetam o nosso dinheiro?" e "Para que serve o Banco Central Europeu?" disponíveis no site www.saberdecontas.pt, promovido pela APB. Na secção "Crédito" do site poderá encontrar ainda mais informações sobre taxas de juros.

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