Com candidatura à presidência do Benfica anunciada, Luís Filipe Vieira poderá tornar-se o sexto presidente a ser eleito para um segundo período de gerência na Luz, o primeiro desde o longínquo ano de 1977.Os tempos eram outros, é verdade, mas a história, de uma forma geral, contraria o ditado “não se deve voltar ao lugar onde se foi feliz”. Afinal, todos os cinco homens que voltaram a dirigir os destinos das águias apresentaram títulos e/ou obras.O primeiro nestas circunstâncias foi Alberto Lima, sétimo presidente do Benfica. Depois de um primeiro mandato de oito meses (ver caixa), desceu à vice-presidência, mas voltou à liderança para fundar o primeiro jornal de um clube, o Sport Lisboa, inaugurar o campo de Sete Rios, implementar a modalidade de ginástica e, no que concerne ao futebol, conquistar o primeiro tricampeonato regional de Lisboa (1912, 1913 e 1914).O segundo repetente foi Félix Bermudes, escritor, atleta em vários modalidades e 10.º presidente da história do Benfica. Depois de protagonizar em 1916 aquele que é, ainda hoje, o mandato mais curto de um presidente dos encarnados (83 dias), voltou à presidência quase três décadas depois, em 1945. Campeão Nacional de futebol em 1944-45, conseguiu comprar a sede, que estava alugada ao clube desde… o seu primeiro período de gerência.Se a lista de presidentes com um segundo período de gerência já é curta, Manuel da Conceição Afonso, operário linotipista da Imprensa Nacional, está na história por ser o único com três passagens pela liderança do clube. 14.º a ocupar a presidência, venceu um então inédito bicampeonato português (1930 e 1931), um Campeonato de Lisboa (1933) e implementou o andebol durante o primeiro período. No segundo, completou o primeiro tricampeonato da história encarnada (1936 a 1938). E, no último, conseguiu o regresso do campo de jogos a Benfica.Após quase duas décadas sem repetentes, o 23.º líder das águias, Adolfo Vieira de Brito, saiu e voltou à presidência nos anos 1960. Numa altura em que o Benfica já tinha conquistado o bicampeonato europeu, inaugurou o pavilhão, situado no interior do Estádio da Luz, e viu a equipa de futebol atingir a quarta final da Taça dos Campeões Europeus em cinco anos, perdida para o Inter em Milão em 1965. Na segunda gerência, os encarnados chegaram pela quinta vez a uma final europeia, tendo sido derrotados pelo Manchester United, em Wembley (1968).O último com duas passagens pela presidência benfiquista foi José Ferreira Queimado, que no 1.º período de gerência venceu um Campeonato Nacional (1966-67), mas viu a eliminação prematura nas competições europeias criar algumas dificuldades financeiras. Dez anos depois, regressou à liderança para fazer obra, com a inauguração da piscina (1978), a aquisição da secretaria (1981) e a construção do pavilhão n.º 2 (1982); propor a possibilidade de o clube contratar futebolistas estrangeiros, aprovada em Assembleia-Geral em 1978; e vencer um Campeonato Nacional (1980-81).Um “legado” de 18 anosAgora, é o sexto candidato anunciado às eleições de 25 de outubro, Luís Filipe Vieira, que vai tentar tornar-se o sexto presidente a regressar à presidência do clube. Vai a votos contra o seu ex-diretor Desportivo e atual presidente, Rui Costa; o candidato que derrotou em 2020, João Noronha Lopes; o neto do ex-presidente Borges Coutinho (1969 a 1977), Martim Mayer; e os advogados João Diogo Manteigas e Cristóvão Carvalho.A candidatura de Vieira, que se demitiu da presidência do Benfica e da Benfica SAD em 2021 devido às acusações na Operação Cartão Vermelho, relativa à compra ou venda de 55 jogadores que geraram comissões de 10 milhões de euros a quatro empresários (Bruno Macedo, Ulisses Santos, Isidoro Gímenez e Giuliano Bertolucci), está relacionada com o “legado” que diz ter deixado.Em causa os 18 anos que fizeram da sua a presidência mais longa da história encarnada. Nesse período devolveu o Benfica aos títulos nacionais de futebol (2004-05) após onze anos de jejum, com destaque para o tetracampeonato de 2013-14 a 2016-17 entre os 22 troféus conquistados, e às finais europeias, com a presença nos jogos decisivos da Liga Europa em 2012-13 e 2013-14. Também fez do Benfica o clube com mais sócios no mundo, construiu o centro de estágios no Seixal, dois pavilhões, piscina e o museu, tendo ainda implementado o voto eletrónico.Os seus últimos anos de presidência, porém, ficaram marcados pelo envolvimento em processos judiciais. Além da Operação Cartão Vermelho, foi acusado do crime de recebimento indevido de vantagem no âmbito da Operação Lex, chegou a ser constituído arguido num processo que envolvia o BPN e foi arguido na Operação Saco Azul enquanto representante legal da SAD do Benfica. Paralelamente, durante os seus mandatos as águias foram investigadas nos processos E-toupeira, E-mails, Vouchers, Jogos Viciados e Mala Ciao.Para as eleições de outubro, apresentará como bandeiras o aumento do património, a expansão do centro de estágios do Seixal, a aposta no scouting para conseguir contratações de jogadores de baixo custo, o regresso de João Gabriel como diretor de comunicação e a continuidade de Bruno Lage no comando técnico. No mesmo mês… começará a ser julgado na Operação Lex.Presidentes do Benfica com duas ou mais passagens pelo cargo Alberto Lima09/07/1911 a 31/03/191205/12/1912 a 29/08/1915Félix Bermudes15/07/1916 a 7/10/191618/01/1945 a 19/01/1946Manuel da Conceição Afonso15/08/1930 a 28/08/193304/11/1936 a 31/07/193819/01/1946 a 25/01/1947Adolfo Vieira de Brito26/03/1964 - 08/05/196503/07/1967 - 12/04/1969José Ferreira Queimado17/06/1966 - 03/07/196726/05/1977 - 29/05/1981 Candidatos declarados às eleições de outubro Rui Costa (atual presidente) João Diogo Manteigas Cristóvão Carvalho João Noronha Lopes Martim Mayer Luís Filipe Vieira