José Mourinho aceitou no início da época o convite do Fenerbahçe e mudou-se para a liga turca, menos mediática do que outros grandes palcos que frequentou, mas continua a ser notícia em todo o mundo. Não pelos resultados, mas pela guerra que abriu ao que diz ser um sistema montado para prejudicar o clube que orienta e que beneficia outros adversários. Os ataques à arbitragem e as polémicas têm sido uma constante.O treinador português, de 62 anos, campeão em Portugal, Espanha, Itália e Inglaterra, e vencedor de duas Ligas dos Campeões, está agora no olho do furacão. E desta vez com um processo que pode ter contornos criminais e que já seguiu para a UEFA e para a FIFA, acusado de racismo. Tudo porque na segunda-feira, no empate a zero com o rival Galatasaray, num jogo apitado por um árbitro estrangeiro (uma decisão da federação para acabar com o ruído em relação aos juízes locais), disse que o banco do clube rival “saltou como macacos” com a intenção de pressionar a equipa de arbitragem.Mourinho sempre foi conhecido pelos mind games e por declarações fortes e polémicas. Mas na Turquia os seus comentários estão a atingir proporções nunca antes vistas. Críticas que agora levaram o Galatasaray a queixar-se de que o português usa termos depreciativos quando se refere ao povo turco.O treinador, além de já ter sido defendido pelo clube nesta acusação de racismo, também foi apoiado por dois seus antigos jogadores - Didier Drogba e Mickael Essien. De acordo com os regulamentos da FIFA, jogadores ou treinadores envolvidos em atos racistas podem apanhar 10 jogos de suspensão, além de um multa pesada.Os recados e avisos do técnico português são sempre contra o que diz ser “um sistema montado”, do qual “os árbitros têm medo”, e que tem impedido o Fenerbahçe de se sagrar campeão nos últimos 10 anos, num campeonato que tem sido essencialmente dominado por Galatasaray e BesiktasMourinho fala numa “selva” e num “circo” onde só os árbitros estrangeiros convidados para dirigir jogos conseguem ficar à margem. “Se os árbitros turcos olharem para o desempenho de um árbitro estrangeiro, fizerem uma autocrítica e disserem que querem arbitrar jogos limpos e honestos como ele, a época terminará bem”, avisou.Para português, o Fenerbahçe, atual segundo classificado com menos seis pontos do que o Galatasaray, joga contra bons rivais, “mas também contra o sistema”. “Isso é o mais difícil. Jogamos contra o VAR, contra o sistema. Vencemos pessoas muito, muito fortes. Estou irritado com os dirigentes do Fenerbahçe, só me contaram metade da história. Se tivessem contado tudo, eu não teria vindo”, atirou. Numa outra ocasião, chegou a considerar a liga turca inferior à portuguesa e neerlandesa: “É muito cinza, é muito escura, cheira mal.”Miguel Lopes, atual jogador do Estrela da Amadora que jogou cinco temporadas na Turquia, no Akhisar e no Kayserispor, entre 2016 e 2021, compreende as críticas de Mourinho. “Entendo porque vivi o mesmo. Os árbitros turcos são maus, são fracos. Parece que são controlados e isso notava-se sobretudo nos jogos com os grandes, como o Galatasaray. Havia ali alguma coisa, dava a sensação que alguns clubes controlavam os árbitros”, disse ao DN. Por isso, é totalmente a favor que os jogos de maior risco sejam apitados por estrangeiros. “Tive vários casos em que senti na pele erros grosseiros de arbitragem. Uma vez num jogo contra o Galatasaray estávamos a ganhar 1-0 e fui expulso, houve um penálti completamente inventado pelo VAR. Uma coisa lamentável. Foi mais uma demonstração de como são controlados”, acusa.Miguel Lopes ri-se da acusação do Galatasaray sobre o alegado racismo de Mourinho. “É mais um coisa inventada, claro que Mourinho não é racista. Aquilo foi só um desabafo no final de um jogo quente. Aliás, o povo turco é top, são loucos por futebol, não há aqui nada de racismo. O problema do Mourinho é unicamente sentir-se prejudicado e por isso não cala a sua revolta”, concluiu.Frases fortes de Mourinho:“O banco deles saltava como macacos para cima do miúdo [Yusuf Akcicek]. Com um árbitro turco, teria um amarelo no primeiro minuto e, cinco minutos depois, teria de substituí-lo.”“O homem do jogo foi Atilla Karaoglan [VAR]. Não o vimos no campo, mas foi. Esteve um jovem árbitro no campo, mas ele é que foi o árbitro, o homem do jogo, e conseguiu ser o mais importante, apesar de ser invisível.” “Quem quer assistir a esta liga turca no exterior? Têm a liga inglesa, francesa, alemã, portuguesa e holandesa. Eu não via. É muito cinza, é muito escura, cheira mal. Mas este é o meu trabalho e darei tudo ao meu clube.”“Jogamos contra bons rivais, mas também contra o sistema. Isso é o mais difícil. Jogamos contra o VAR, contra o sistema. Vencemos pessoas muito, muito fortes. Estou irritado com os dirigentes do Fenerbahçe, só me contaram metade da história. Se tivessem contado tudo, eu não teria vindo.” .Galatasaray vai apresentar queixa contra Mourinho por "declarações racistas"