Costinha e Maniche a celebrarem o golo do FC Porto em Old Trafford, que valeu a passagem às meias da Champions em 2004.
Costinha e Maniche a celebrarem o golo do FC Porto em Old Trafford, que valeu a passagem às meias da Champions em 2004.Foto: Jorge Monteiro

O jogo com o Manchester United que valeu a Mourinho a alcunha de Tom Sawyer

Dragões voltam a medir forças esta noite com o clube inglês. Maniche recorda ao DN jogo épico de 2004, conta episódios inéditos e acredita que o que José Mourinho pediu ao intervalo nesse duelo de há 20 anos pode voltar a funcionar desta vez no Dragão.
Publicado a
Atualizado a

Sempre que houver um jogo entre o FC Porto e o Manchester United, como hoje no Dragão (20.00, Sport TV5), desta feita para a Liga Europa, é impossível não recordar o duelo de 9 de março de 2004, em Old Trafford, no qual os dragões estavam impedidos de perder para passarem às meias-finais da Liga dos Campeões - acabariam por conquistar o troféu nessa época, ao bater o Mónaco, na final, por 3-0.

A caminhada rumo a essa final ficou marcada por esse embate em Manchester. Os ingleses marcaram primeiro, por Paul Scholes, ao minuto 32, mas o FC Porto empatou perto do fim, numa recarga vitoriosa de Costinha, um empate que apurou os dragões.

Ficou célebre a imagem de José Mourinho a correr para ir festejar com os jogadores mais uma página fantástica da história portista. “Nós até costumávamos dizer ‘lá vai o Tom Sawyer...’ (risos) Sabíamos que se ganhássemos ficávamos perto de fazer história e ninguém se segurou. Esse momento ficou para a história”, lembrou Maniche ao DN, ele que foi dos motores da equipa nessa época.

“Não lhe dizíamos, porque podia levar a mal, mas entre nós comentávamos que o mister Mourinho, a correr daquela forma, parecia o Tom Sawyer. Mas de certeza que não levava a mal. Ficou conhecido como o Zé das Medalhas e isso é sinal de que ganhou muita coisa e nós tivemos o privilégio de conquistar com ele”, acrescentou.

O antigo médio revelou ainda momentos curiosos dessa partida: “Sofremos até ao fim. Houve para aí três ou quatro cantos depois do 1-1, já nos descontos, com o Van Nistelrooy a mexer-se para tentar cabecear... Foi uma loucura, valia tudo dentro da área. Não vou dizer onde é que os jogadores se agarravam (risos...), o Pedro Emanuel a movimentar-se para não deixar o avançado sozinho. Foi sofrer até à última, mas valeu a pena.”

O antigo jogador recorda também as palavras decisivas do técnico no intervalo do jogo: “Retificou alguns pontos ao intervalo, com a sua forma de motivar a equipa, disse-nos para termos bola e paciência, e que iríamos encontrar forma de chegar ao golo. E nós libertámo-nos...”.

Esta noite, o segredo pode mesmo voltar a estar nessas duas palavras: posse e paciência. “O FC Porto gosta de fazer pressão alta e intensa, escolhendo o lado ideal para condicionar a primeira fase de construção, mas deve convidar o United a subir. Os adeptos querem um FC Porto autoritário, mas a estratégia pode passar por outra solução”, disse, encontrando algumas imperfeições nos ingleses: “Muitas vezes  deixam o adversário jogar entrelinhas e há que aproveitar. Têm jogadores que assumem ofensivamente, mas depois a defender... Se o FC Porto encontrar ali um espaço, pode ferir este United.”

“Jogo equilibrado e intenso”

Maniche considera que “vai ser um jogo equilibrado, competitivo e intenso, onde pequenos detalhes podem fazer a diferença”, pedindo um FC Porto ambicioso: “O United continua a ter bons jogadores, mas continua sem ganhar. Constroem um plantel com qualidade individual, mas falta alguma qualidade coletiva. É uma equipa cínica, que sofre e depois, em transições ofensivas, poder fazer a diferença.”

O antigo internacional português defende ainda que “o FC Porto não é favorito a ganhar a Liga Europa, mas sim a dar o máximo para chegar longe devido ao seu historial”. E aplaude a aposta na formação... com critério: “A ser aposta, tem de ser firme e convicta. Fazem bem em aposta, sabendo que tem os seus riscos, pois nunca vi uma equipa ganhar o campeonato com 10 jovens. Tem de haver simbiose entre experiência e juventude.” 

Maniche lembra que “o FC Porto tem agora uma filosofia de jogo diferente, com uma ideia nova”, e que “isso leva algum tempo”, embora reconheça que “numa equipa grande o tempo é escasso, pois os adeptos querem é vitórias, independentemente do contexto”. “Mas é um ano de mudança, também para arrumar a casa, e as vitórias ajudam”, realça.

Mas o futebol já lá vai e a prioridade agora do antigo jogador são vinhas e o vinho: “Preparei-me para isto. Vi, analisei, e em 2016 surgiu a parceria com a Quinta da Pacheca para fazer o meu próprio vinho. Fiz um estágio de dois anos e meio, percebi o perfil de vinho que queria, e a partir de 2019 comecei a comercializar. E não tem parado, tem corrido muitíssimo bem...”.

E talvez abra hoje uma garrafa caso o FC Porto consiga a vitória...

dnot@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt