Mamba leonina morde águias duas vezes e dá vitória no dérbi
Foi até ao último segundo. O dérbi lisboeta começou com um golo, teve outro a meio e um no fim. E acabou por ser o improvável Geny Catamo, internacional moçambicano (conhecidos por “mambas”, serpente veloz e venenosa), a resolver uma partida não muito bem jogada mas sempre emocionante, tornando-se no novo herói leonino. O Sporting sai da jornada com menos um jogo e quatro pontos de vantagem sobre o rival Benfica, que não merecia sair derrotado, e agora só depende de si para chegar ao final da Liga em primeiro.
Para o dérbi do “tira-teimas” - os três jogos anteriores esta época entre ambos resultaram numa vitória para cada um e um empate -, as grandes novidades nos onzes titulares surgiram do lado leonino, com Rúben Amorim a apostar na defesa da segunda parte na Luz (com Geny e Matheus Reis a alas e St. Juste como central direito), em Morita a acompanhar Hjulmand na vez de Daniel Bragança e no regresso de Pedro Gonçalves, que se tinha lesionado em Bergamo, à equipa, em detrimento de Paulinho. Já Roger Schmidt escalou exatamente a mesma formação que na terça-feira se superiorizou de forma clara ao rival verde e branco, com Tengstedt na frente, comprovando a sua satisfação com o rendimento atingido sobretudo na primeira parte dessa partida.
Com o estádio lotado - e no dia em que os anfitriões celebravam o 187.º aniversário do nascimento de Alfredo Holtreman, Visconde de Alvalade e primeiro presidente do clube -, coube ao Benfica dar o pontapé de saída para o encontro. E, mesmo assim bastaram 47 segundos para os homens da casa celebrarem o primeiro golo! O inevitável Pote recuperou uma bola na esquerda, entrou pela área e centrou. Depois de tabelar em António Silva e de ser desviada com uma palmada fraca de Trubin, caiu nos pés de Geny Catamo, que em cima da baliza não desperdiçou a ocasião soberana para inaugurar o marcador e levar o recinto à loucura.
Aos quatro minutos, o moçambicano voltou a fugir pela direita mas arriscou uma simulação grosseira e acabou brindado com um justo cartão amarelo. Se o golo madrugador mudou algum dos comportamentos previstos pelos técnicos nunca se saberá mas a partir daí o Benfica lançou-se para a frente. Mostrando, uma vez mais, ter a lição bem estudada na forma de pressionar a saída dos leões, a equipa de Roger Schmidt foi empurrando o Sporting para trás e conseguiu criar várias situações de remate, a mais perigosa delas num lance iniciado em Di María, que deixou Rafa em posição frontal (12’). O remate, todavia, sairia muito por alto, tal como as várias tentativas que a equipa ia experimentando dos flancos, fosse pelo argentino ou por Neres.
Quando conseguiu aliviar um pouco o colete de forças em que estava metida, a equipa de Amorim saía com passes longos, confiando sempre na força e capacidade de Gyökeres para segurar a bola. O sueco ainda serviu Trincão (25’) mas Otamendi chegou a tempo para evitar um desvio perigoso e a bola morreu nas mãos de Trubin.
Nervos e final de emoções fortes
Com as equipas nervosas e vários confrontos entre jogadores - Di María escapou impune num lance em que pareceu acertar na cara de Pote (32’) -, o Benfica tinha mais bola mas, de vez em quando, cometia erros na transição. Com isto, o Sporting ganhou dois livres perigosos, em posição frontal, que desperdiçou, mostrando uma das pechas da equipa: não ter um especialista neste tipo de lances. Ainda assim,o segundo foi bem trabalhado, acabando por ser Coates a falhar um passe fatal ao segundo poste. E seria ao segundo poste que chegaria o empate, já no último minuto da compensação do primeiro tempo: livre escusado cometido por St. Juste, centro de Di María e Bah a aparecer sem marcação, cabeceando para o fundo da baliza de Franco Israel. Mas a igualdade no descanso, mais do que justificada, até podia ter surgido um pouco antes, também na sequência de uma bola parada, em que depois de vários ressaltos, João Neves conseguiu cabecear para as mãos do guarda-redes uruguaio dos homens da casa (39’).
Para a segunda metade, os técnicos não mexeram nas escolhas iniciais e o Benfica entrou melhor, conquistando dois cantos de rajada. Ainda assim, na sequência do segundo, acabou por ser o Sporting a desperdiçar uma transição em vantagem numérica, com Aursnes a evitar o passe de Catamo que deixaria Gyökeres na cara de Trubin. No mesmo minuto, o sueco conseguiria cabecear à figura do ucraniano e quase faria o 2-1 num tiro fortíssimo que esbarrou com estrondo na trave dos encarnados (52’). A resposta pertenceu a Neres, em mais um erro dos leões na saída, mas o brasileiro, depois de passar Israel, viu o seu remate bater em Coates (65’).
Com os técnicos a mexerem nas equipas, o jogo entrou num ritmo de parada e resposta. O Sporting cometendo erros, com vários jogadores absolutamente desinspirados e Israel com grandes dificuldades no jogo com os pés, e dando muitas bolas a um Benfica pouco objetivo no último terço: Di María esteve perto de marcar num belo remate que Israel defendeu para a trave (81’).
Mas o futebol tem muitas surpresas. Depois de desperdiçar vários cantos de forma infantil, seria dessa forma que o Sporting chegaria a uma vitória feliz, já na compensação: a bola foi para o interior da área na sequência de um primeiro desvio de Paulinho e Geny Catamo, com o pé direito, arrancou um remate indefensável (90’+1) levando Alvalade à loucura.
O Benfica ainda poderia ter empatado mas acabaria com dez por expulsão de Aursnes.