14 janeiro 2018 às 02h08

Da campanha Fica Amaral a estrela da televisão brasileira

Antigo internacional canarinho representou o Benfica no final da década de 1990 e deixou saudades nos adeptos. Vestiu a camisola de mais de 20 clubes até arrumar as botas em 2015

Gonçalo Lopes

Decorria a temporada 1996-1997. O Benfica passava por uma grave crise financeira e não tinha dinheiro para contratar Amaral (estava cedido pelo Parma), o pequeno brasileiro que encantava os sócios e adeptos. Os simpatizantes encarnados decidiram então ajudar o clube com a operação Fica Amaral, de forma a arranjarem dinheiro para garantirem a sua contratação. Não foi possível nesse final de época, mas o médio regressaria no ano seguinte. Quase 20 anos depois, e depois de ter pendurado as botas em 2015, brilha agora na televisão brasileira.

Amaral, 44 anos, é uma cara assídua em programas de televisão brasileiros nos últimos anos. Já participou num reality show, mas é como comentador desportivo que se revê, sobretudo como contador de histórias engraçadas, que fazem as delícias de todos. "Cara, eu sou uma estrela na televisão agora. Gosto muito do que faço na telinha. Treinador? Isso não, não conseguiria. Sou uma pessoa que gosta de estar sempre de bem e sendo treinador por vezes isso não pode ser possível. Um treinador tem de ser sério. Agora quem olha para mim alguma vez pode ficar sério? Claro que não. Pode ser que um dia possa trabalhar num clube, mas neste momento só quero trabalhar na televisão", disse ao DN o antigo futebolista.

"Acabei a carreira de jogador com 42 anos, na minha cidade, ao serviço do Capivariano. Ainda consegui que o clube não descesse de divisão no final do campeonato", recordou ao DN, confessando a sua paixão pelo Benfica: "Passei por muitos clubes e até estive pouco tempo em Portugal, mas fiquei tocado por tudo o que fizeram comigo, desde os diretores, colegas e sobretudo os adeptos. Sempre que um jornalista português fala comigo, digo sempre o mesmo: tenho de voltar e quero voltar. O tempo vai passando, mas tenho muitas saudades do país e de voltar a estar com os adeptos", salientou. Uma das grandes razões para o ex-jogador não esquecer o Benfica e os seus simpatizantes foi a operação Fica Amaral, que os adeptos lançaram para tentar garantir a sua permanência em 1996-1997, quando chegou à Luz emprestado pelo Parma. "Fiquei muito emocionado. Sabia que o clube não estava bem financeiramente e não podia pagar o que o Parma pedia. Ainda hoje tenho em casa um cartaz com essa campanha, foi isso também que fez que regressasse depois no ano seguinte. Fui sempre muito bem tratado no Benfica e ainda hoje amo o clube e os seus adeptos", confidenciou, destacando os jogadores que mais o marcaram de águia ao peito.

"O Michel Preud"Homme. Foi o melhor que vi em toda a minha carreira. Todos falavam que era velho, mas era um jogador fantástico, dos que mais e melhor treinavam. Depois tinham lá também o João [Vieira Pinto]. Que talento, nossa! Sempre pensei que iria brilhar mais, que iria ser um grande jogador noutro grande clube. O talento estava lá. Joguei contra muitos grandes jogadores no Brasil, em Portugal, na Itália ou na Turquia, e vi poucos com o talento do João", referiu Amaral.

Em 24 anos de carreira, o ex-internacional brasileiro (jogou 13 vezes pelo escrete canarinho) passou por vários campeonatos - brasileiro, italiano, português, turco, polaco , australiano, árabe e mesmo indonésio - mas não encontrou adeptos tão apaixonados como os benfiquistas.

"Eram impressionantes. O Benfica é desse tamanho, um clube enorme, também pelos adeptos que tem. Onde íamos, tanto em Portugal como no estrangeiro, havia milhares de fãs. Quando saí de Itália sabia que o Benfica era um grande clube, mas nunca pensei que fosse assim. Alguns jogadores na altura diziam: "Amaral, quando vires os adeptos naquele ou no outro campo vais ver o que é o Benfica." E eu não acreditava. Depois quando vi percebi a grandeza do clube. Ainda tenho os adeptos no coração e muitos ainda falam comigo nas redes sociais. São muito amigáveis e sempre manifestaram muito carinho comigo", disse o brasileiro, que guarda a mágoa de nunca ter conseguido ganhar qualquer título em Portugal.

"Ficou essa tristeza, sim. Os adeptos mereciam, mas o Benfica não passava por uma fase positiva e infelizmente não foi possível. Era um dos títulos que mais queria, mas não consegui", salientou.

Afinal nunca foi coveiro

Quando chegou ao Benfica, Amaral ganhou logo uma alcunha: o Coveiro. Tal como habitualmente, quando um jogador chega a um grande e é ainda meio desconhecido para os adeptos, toda a imprensa tenta descobrir algo no seu passado. Pois bem, sobre Amaral, descobriu-se na altura que teria trabalhado num cemitério como coveiro. E essa alcunha nunca mais o largou. Ao DN, no entanto, o antigo jogador desmente tal história.

"Isso tudo foi um engano, nunca trabalhei como coveiro, não era essa a minha função. Quando ainda não era jogador profissional trabalhei, sim, numa agência funerária, onde tratava os mortos, vestia--os e coisas assim, mas nunca fui coveiro de um cemitério. Expliquei essa situação algumas vezes, mas é verdade que esse nome ficou sempre, até hoje. Até mesmo no Brasil sou conhecido como o Coveiro. Se fizerem uma pesquisa na internet é esse termo que aparece associado ao meu nome. Hoje até acho engraçado, mas antes não gostava muito", disse.