Herman "ciclopédia". O "belga algarvio" que respira ciclismo

Pelotão de luxo continua a levar milhares às bermas das estradas do Sul do país. Marcel Kittel venceu com folga em Tavira, Alto do Malhão decide hoje vitória final
Publicado a
Atualizado a

É daquelas histórias de amor que até mesmo à distância continuam a funcionar e que contrariam as teorias fatalistas de que as relações sucumbem com milhares de quilómetros pelo meio. Sim, é de ciclismo que se fala, é certo, mas Herman de Rooker é prova viva de que esta é uma modalidade que quando não se vê, pelo menos, sente-se.

Nascido em Mechelen, na Bélgica, chamava a atenção junto à meta da quarta etapa da 42.ª edição da Volta ao Algarve, instalada em Tavira, devido à grande bandeira da Flandres que exibia com orgulho. Tinha vindo a Portugal para seguir in loco a corrida? Estava em solo luso para contactar com algum ídolo das bicicletas? Procurava sol e/ou golfe? De todo. Herman vive há 23 anos no nosso país, mais concretamente na Fuzeta, mas o coração (pelo menos, no que ao universo velocipédico diz respeito) está em solo belga.

Homem que sabe da poda, fala com brilho nos olhos de glórias como Eddy Merckx (que, tal como tantos outros fãs, considera o melhor de sempre) ou dos classicómanos Johan Museeuw e Peter van Petegem. Tal como não disfarça o esgar de felicidade quando o assunto é a emblemática Volta à Flandres, dos duros e inclinados pavês - ao contrário dos que existem no Paris-Roubaix.

"Quando se nasce na Flandres, nasce-se numa bicicleta", afirma com orgulho, ladeado pela mulher e pelo filho, minutos antes de o pelotão da Volta ao Algarve cruzar a meta. Estava ali para apoiar, a plenos pulmões, os homens da Etixx-Quick Step, a sua equipa, a equipa que, explica, "é como uma família". Tom Boonen, campeão do mundo em 2005, quatro vezes vencedor da Volta a Flandres e três do Paris-Roubaix, é o predileto, mas o entusiasmo é quase o mesmo quando ouve os nomes do holandês Niki Terpstra, do checo Zdenek Stybar ou dos alemães Tony Martin ou Marcel Kittel.

Era por eles que aguardava. E viu ambos os germânicos subirem ao pódio. Martin para voltar a vestir a amarela, após os 194 quilómetros da tirada, que teve início em São Brás de Alportel. E Kittel para ser coroado como o mais rápido do dia.

Já junto ao autocarro da formação liderada por Patrick Lefévère, enquanto alguns dos atletas iniciavam a recuperação em bicicletas colocadas sobre rolos, Herman, satisfeito, atira: "É uma equipa dos diabos!"

À organização da Volta ao Algarve também não regateia elogios. Pela proximidade que os adeptos conseguem ter com os protagonistas, sem beliscar a segurança de todos. E até pela extensa reta, propícia a um sprint maciço como o de ontem, ao jeito do mais rápido: Kittel.

Kittel bisa, Malhão vai decidir

Quanto à etapa, não houve surpresa. Marcel Kittel parece querer confirmar o estatuto que conquistou a pulso em 2014: o de melhor sprinter do planeta. No Algarve, pelo menos, conta por vitórias as duas oportunidades que teve para erguer os braços. Em Tavira voltou a ganhar folgadamente, como já fizera em Albufeira.

"Não tenho palavras para expressar a alegria, o orgulho que sinto", disse o alemão, que neste ano também já ganhou duas tiradas na Volta ao Dubai, depois de um 2015 de lesões, doenças e azares.

Com o seu grande rival, o compatriota André Greipel (Lotto Soudal), afastado da discussão, devido a uma queda que o deixou com bastantes escoriações e ensanguentado, o alemão de 27 anos não deu hipótese à concorrência, superando Wouter Wippert (Cannondale) e Jens Debusschere (Lotto Soudal). Quase como quem avisa que, numa nova equipa, está de volta: ao cuidado de Mark Cavendish, Alexander Kristoff e companhia.

"Podemos sair do Algarve super- orgulhosos", resumiu Kittel, ciente de que hoje a música poderá ser outra. A Etixx-Quick Step quererá defender a amarela de Martin, no Alto do Malhão, em Monchique.

Afinal, o alemão dispõe apenas de três segundos de vantagem sobre o britânico Geraint Thomas (Sky) - vencedor em 2015 - e Ion Izagirre (Movistar), que vai ter de "gerir" nos três quilómetros da subida de segunda categoria. Conseguirá repetir os triunfos de 2011 e 2013?

O espetáculo, esse, está mais do que garantido.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt