De há uns tempos para cá, é impossível ter uma opinião mais afinada sobre Clarice Lispector (1920-1977) sem ter lido a biografia que Benjamin Moser escreveu sobre ela. Não que se substitua à obra de Lispector, mas por permitir descobrir algumas das suas facetas que ajudam na leitura e o leitor poder aproximar-se dos seus livros com outro conhecimento. Logo de início, Moser reproduz o que Hélène Cixous considerou como autores paralelos à autora: “Era o que Kafka teria sido se fosse mulher, se Rilke fosse uma judia brasileira nascida na Ucrânia, se Rimbaud fosse mãe e se Heidegger deixasse de ser alemão.” Cixous sabia o que afirmava pois a intelectual francesa reunia também ela várias facetas, a de poeta, ensaísta, dramaturga e crítica literária.Noutra página, Moser reconhece e comenta a dificuldade em conhecer a escritora: “Um jornalista frustrado, resumiu as respostas que Clarice lhe deu numa entrevista assim: 'Não sei, não conheço, não ouvi dizer, não entendo do assunto, não é do meu domínio, é difícil explicar, não ouvi…'” Apesar de todas as dificuldades, o biógrafo conseguiu escrever 600 páginas sobre a escritora na sua biografia, Clarice [Porquê Este Mundo na edição da Relógio D’Água] e dispersar o seu conhecimento por 45 capítulos e um curto epílogo. Assim sendo, o melhor para o leitor que estiver interessado na edição da obra completa de Clarice Lispector nos próximos meses será passar em revista a biografia antes de entrar nos primeiros quatro volumes que estão a chegar às livrarias: Perto do Coração Selvagem, A Paixão Segundo G.H., Água Viva e Um Sopro de Vida. Ou manter-se distante do que Moser referiu na sua biografia e entrar por si só nestas obras. .Até porque a nova edição contém textos orientadores nas badanas esquerdas, exceto no volume A Paixão, que é mais extenso e está em posfácio, de admiradores portugueses que poderão servir de guia ao leitor. É o caso de Perto do Coração Selvagem, em que Susana Moreira Marques diz: “Foi o seu primeiro livro, mais do que biográfico – com traços da infância e da adolescência da autora – e mais do que um romance de formação, é um livro que biografa o futuro de uma mulher.”.Quanto ao A Paixão Segundo G.H., o ensaísta Carlos Mendes de Sousa é peremptório: “A maior parte das vezes, o que acontece com Clarice é que ela nos dá encontros de vida. A grande fulminação é o impulso vital que as suas palavras contêm. Lendo-a, aproximamo-nos do seu mundo denso e verdadeiro. É por isso que, em espelho, nos estamos sempre a rever nos seus textos.”.Sobre Água Viva, Joana Matos Frias afirma: “Trata-se de um objeto tão dificilmente classificável que a própria autora chegou a qualificá-lo como um anti-livro. Porém, o leitor não terá dificuldade em reconhecê-lo nem em encontrar nele um 'frágil fio condutor' de uma espécie de antologia clariceana.”.O quarto volume, Um Sopro de Vida, conta com um texto de Pedro Mexia: “Um livro deambulante, concreto e ínfimo, abstrato e inexprimível, uma inteligência dos sentidos e das sensações, mais até do que do pensamento. Uma constante surpresa, exigência e ousadia. Mais do que um livro inacabado e póstumo, lembra a nossa condição comum póstuma e inacabada.”Para a editora, este relançamento da obra completa de Clarice Lispector é “um encontro que estava destinado a acontecer” e que pretende “dar a conhecer a todos os leitores uma obra maior do cânone moderno e contemporâneo, que dialoga com o passado e o futuro”. Afinal, Lispector representa uma das vozes mais importantes da sua geração, a de 45, e desde que tinha conhecimento do seu ser que desejava tornar-se escritora. Ao iniciar a vida universitária em 1939, com cursos de Antropologia e de Psicologia, também abraça a literatura de imediato e um ano depois publicou um primeiro conto, Triunfo. Não será por acaso que muitos dos estudiosos da sua obra consideram que é neste género que Lispector mais se destacou. Como Benjamin Moser lembra, Clarice Lispector confessava que o “meu mistério é não ter mistério. (…) A posição de um mito não é muito confortável”. Acrescenta Moser que a “lenda era mais forte do que a escritora”. Não será por acaso que a conhecida como Clarice Lispector nascera Chaya Pinkhasivna Lispector e na sua lápide está o verdadeiro nome: Chaya bat Pinkhas. Para trás ficava a obra e uma comparação frequente: escrevia como Virginia Woolf – opinião também de António Lobo Antunes – e fazia lembrar a atriz Marlene Dietrich..Ficha:PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEMA PAIXÃO SEGUNDO G.H.ÁGUA VIVAUM SOPRO DE VIDAClarice LispectorCompanhia das Letras.LANÇAMENTOS.UMA HIPÓTESE DE FIMO Pentágono já foi tema de um livro de Annie Jacobsen e volta a ser logo na introdução de Guerra Nuclear por ser o primeiro local na mira de um conflito deste género. A partir desta análise, a autora desenvolve todo um cenário próprio de um apocalipse que de vez em quando é equacionado no mundo real, com várias entrevistas e simulações..GUERRA NUCLEARAnnie JacobsenD.Quixote410 páginas .GEOPOLÍTICA INSTÁVELPara a autora deste ensaio existe uma mistura explosiva que coloca em causa a estabilidade e a ordem no planeta: o petróleo, o dinheiro e a democracia. Uma trilogia de causas que pode alterar o percurso das sociedades no século XXI de uma forma catastrófica e que é analisada ao mínimo pormenor, sempre sob a sombra dos desafios atuais..DESORDEMHelen ThompsonClube do Autor447 páginas.A GUERRA EM SUSPENSOO autor tem uma razoável bibliografia sobre a relação entre Israel e a Palestina e atualiza-a com um novo ensaio, com o subtítulo A mais breve história do conflito, em que radiografa uma das tragédias mais graves nesta disputa e a que todos assistiram nos últimos meses em direto a partir do ataque surpresa de 7 de outubro de 2023..ISRAEL VS PALESTINAIlan PappéIdeias de Ler157 páginas