Para lá do seu valor eminentemente histórico, conciliando a investigação com a celebração cinéfila, Lumière - A Aventura Continua!, o novo filme de Thierry Frémaux, resulta de um primoroso trabalho de restauro dos pequenos filmes (com 50 segundos de duração) produzidos e realizados por Auguste (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948). Estamos mesmo perante um belo exemplo dos poderes da tecnologia digital: não se trata apenas de “limpar” as velhas cópias, mas sobretudo de devolver os filmes à sua materialidade expressiva, seja na luminosidade das imagens, seja na preservação da textura das películas originais.De um património de 1408 títulos, podemos ver ou rever 104 desses pequenos filmes. Como Frémaux sublinha, descobrimos também que a oposição maniqueísta entre documentário e ficção está longe de descrever com rigor o legado dos Lumière. Do quotidiano de Paris aos cenários “provincianos”, sem esquecer os muitos registos feitos nos mais variados países (incluindo o Japão) pelos operadores contratados pelos dois irmãos, deparamos com uma antologia em que o puro documento de uma cena social ou política coexiste com as primeiras histórias burlescas ou sobre as atribulações da vida infantil - há muitas e radiosas crianças na filmografia dos Lumière.Para lá da guarda e conservação desse património, o Instituto Lumière mantém uma multifacetada atividade de exibição cujo momento alto é, desde 2009, o Festival Lumière - este ano, de 11 a 19 de outubro, incluindo uma homenagem a Michael Mann (com a atribuição do Prémio Lumière). As instalações do instituto integram a casa da família, Villa Lumière, e o estúdio em que nasceu o cinematógrafo, celebrizado por esse mítico título inaugural que é A Saída da Fábrica Lumière - tudo isto numa artéria de Lyon que passou a ser chamada Rua do Primeiro Filme.