ULTRAMAR. A dificuldade que este quarteto de livros sobre a vida política portuguesa cria ao leitor é responder à pergunta sobre com qual deles começar. Talvez por aquele que refaz o passado colonial do qual resultou o 25 de Abril e que, apesar de ter 300 páginas, se apresenta como A Mais Breve História do Ultramar, de David Moreira. Com um prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa, o historiador cumpre com este livro um projeto de alguns anos, após ter trocado uma investigação sobre o Irão revolucionário devido a uma palestra do professor Jack Hogan sobre a realidade colonialista de uma parte de África. Outras conversas com especialistas no assunto e leituras de muitos ensaios fizeram com que se decidisse por esta Mais Breve História. Que para dar razão ao título não pôde ignorar certos acontecimentos mas não podia perder-se no acessório e entre os temas postos de lado está a história empresarial do Ultramar. Nada que perturbe o espírito do livro nem o afaste demasiado de um trabalho que perca um caráter académico, recheado de depoimentos bibliográficos de protagonistas do império colonial português. .A MAIS BREVE HISTÓRIA DO ULTRAMARDavid MoreiraIdeias de Ler307 páginas GUERRILHA. Há sempre mais “novidades” a acrescentar a qualquer episódio da história e José Matos decidiu reabrir o dossier na investigação da Operação Mar Verde em Conacri sobre uma das maiores operações militares das forças armadas portuguesas na Guiné, ou mais exatamente na República da Guiné. Os objetivos descritos em Ataque Secreto eram vários: libertar militares portugueses presos, destruir equipamento, tentar derrubar o governo de Sékou Touré através de um golpe de estado e deter Amílcar Cabral. O governador, o general Spínola, entregou a organização e a liderança da operação Mar Verde a Alpoim Galvão, uma “invasão” muito complexa e com poucas garantias de um sucesso total. Os grupos de assalto, cerca de três centenas de militares que tinham treinado numa ilha perto o ataque e divididos por vários barcos, desembarcam antes do nascer da lua e avançam com o corte da energia elétrica a Conacri… a progressão é rápida, mas além da libertação dos presos portugueses, poucos são os objetivos atingidos. Está tudo contado pelo historiador José Matos, com um ótimo enquadramento político e o recurso a novas fontes. .ATAQUE SECRETOJosé MatosGuerra & Paz231 páginas OTELO. Também se poderia dar início às leituras com o livro póstumo de Carlos de Matos Gomes (1946-2025), que tem tudo para se compreender duas figuras do 25 de Abril: o do próprio título, Otelo, o Herético, e o do autor. Dois militares, cada um com o seu protagonismo público, que são “peças” importantes para compreender o período revolucionário que seguiu à Revolução de Abril. Matos Gomes encaixa Otelo Saraiva de Carvalho numa história pouco habitual: “O papel de Otelo no processo político português saiu do habitual modo como os EUA, enquanto potência imperial, lidam com os outros estados e os seus dirigentes (por) constituir um elemento perturbador que a administração americana desvalorizou intencionalmente.” A polémica que este ensaio criaria, se o autor estivesse vivo, é uma certeza; basta ler umas poucas linhas: “O slogan MAGA (Make America Great Again) tem raízes muito antigas. Por isso, Otelo foi apagado da versão histórica do processo político adotada como oficial (…) da mesma maneira que Trotsky foi apagado da fotografia da Revolução Russa ao lado de Estaline”. Após as páginas iniciais, não faltam afirmações para poder dar um título ligeiramente diferente: Carlos de Matos Gomes, O Herético. .OTELO, O HERÉTICOCarlos de Matos GomesTinta da China223 páginas PREC. Se a dúvida ainda se mantiver, então pode o leitor começar por O PREC e o Relógio das Revoluções, de Aldo Casas e António Louçã, que tem como ponto de partida a influência das revoluções para os acontecimentos das décadas que se seguem, como o caso da Revolução Francesa que influenciou bastante o século XIX, ou da Revolução Russa que marcou em muito o século XX, bem como cada novo corte revolucionário com o passado que transforma a visão que se tinha desse momento. Como dizem os autores, “cada revolução revisita as anteriores, submete-as a uma nova leitura, encontra nelas ensinamentos que nunca tinham ocorrido a mais ninguém”. Com o aviso inicial de que “a história está sempre em construção”, os dois autores olham através do PREC por não poderem “reavaliar todo o passado com os holofotes de uma grande revolução futura.” Cumprem a intenção por via da “lamparina que é a Revolução dos Cravos, por muito mortiça e bruxuleante que seja a sua luz”. Daí que a revolução portuguesa de 1974 seja o instrumento para “encontrar ângulos inesperados nas revoluções clássicas que a antecederam”. O objetivo dos dois autores trotskistas é ambicioso, tendo uma conclusão demasiado atual no último parágrafo: “Quem quiser salvar a democracia precisará de lutar por uma nova revolução.” .O PREC E O RELÓGIO DAS REVOLUÇÕESAldo Casas e António LouçãParsifal207 páginas Outras novidades literáriasA MORTETudo o que se possa escrever de bom sobre este livro será sempre pouco; começa logo pelo trocadilho do título, continua com as muitas histórias que em 2025 pareceriam ser do foro popular antigo e em muito esquecidas, de milagres e reviravoltas da morte, de cadáveres incorruptos ou em muito mau estado, de boatos e, porque não, vítimas de estudos forenses modernos. A biografia de Rafaela Ferraz (na badana esquerda) dá logo a entender que o leitor vai ser provocado e a mitologia sobre a avó que dá início à narrativa confirma que a criminologista e a escritora andam de braço dado. .PORTUGAL DE MORTE A SULRafaela FerrazQuetzal263 páginas A VIDANão parece um romance, mas a história verdadeira que conta rapidamente se transforma numa narrativa que seduziu os leitores de ficção finlandeses e desse país de origem da autora foi-se espalhando pelo mundo até chegar às livrarias portuguesas. A ação passa por três séculos e começa em 1741, quando um naturalista se junta a uma expedição que quer encurtar a ligação marítima até à América e encontra o esqueleto de uma criatura desaparecida há muito. .A EXISTÊNCIA DA VIDAIida TurpeinenLivros do Brasil221 páginas