Esta é uma evolução significativa, tendo em conta o tamanho do mercado português, e que denota uma realidade incontornável: a era da hiperconectividade traz muitas oportunidades de negócio mas também aumenta a exposição a riscos de segurança. “Percebermos que de 2024 para 2025 temos uma evolução muito maior do que a que tivemos de 2023 para 2024, o que quer dizer que a economia do cibercrime está em clara ascensão”, disse ao Dinheiro Vivo Pedro Soares, diretor nacional de segurança da Microsoft Portugal. “Portugal tem um risco maior no sentido em que temos muitas PME [pequenas e médias empresas]. “Esse é um dos pontos que o estudo acaba por focar.”Os números para Portugal refletem a tendência global, já que a Microsoft verificou um aumento dos padrões analisados de 74 para 100 biliões no último ano. “Se pensarmos em 100 biliões de dados por dia que estamos a analisar, percebemos que esta hiperconectividade está a trazer cada vez mais dispositivos a serem conectados, porque temos mais inteligência, temos mais informação para processar, temos mais pessoas conectadas”, salientou Pedro Soares. Mas o responsável não olha para o panorama de forma pessimista. “A hiperconectividade acaba por ser esta força transformadora que envolve também termos uma nova cultura de segurança”, explicou. “Eu acho que é uma oportunidade.”Ameaça crescenteUm dos pontos mais relevantes do estudo é que 52% dos ataques têm fins lucrativos, por via de extorsão ou ransomware, e em 80% dos incidentes o que os autores querem é roubar dados. Com ferramentas de Inteligência Artificial cada vez mais acessíveis, a ameaça está a crescer de forma exponencial. É não só possível automatizar ataques como criar conteúdos de ‘phishing’ mais realistas, o que obriga as pessoas a estarem mais atentas. Além disso, avisou Pedro Soares, muitos dispositivos podem estar infetados com “infostealers” sem que os utilizadores se apercebam disso. É preciso mais literacia digital.“A cibersegurança atua aqui não como risco, mas como nós protegermos este dispositivo para garantir que não temos este malware instalado”, salientou, “ou quando temos, mitigarmos esse risco.”Soares apontou para o facto de cada pessoa ter um número crescente de dispositivos conectados, desde os aparelhos pessoais como o telemóvel e o portátil a luzes inteligentes e eletrodomésticos. “Normalmente uma pessoa tem, em média, 75 dispositivos ligados”, revelou o diretor de segurança. “Se nos perguntassem nós diríamos dois ou três, mas na realidade são mais de 70 por pessoa”, continuou. Isto reflete o mundo sempre ligado, em que muitos dispositivos são simultaneamente pessoais e profissionais. “A hiperconectividade efetivamente obriga a que nós tenhamos uma cultura de segurança e mais higiene na área de segurança, e isto tem que estar disponível a qualquer um”, referiu Pedro Soares. “Não é só o tema das empresas. É o tema de todos nós como indivíduos.” Um país de PMESegundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), as pequenas e médias empresas representam 99,9% das empresas não financeiras em Portugal, com 96% a integrarem a categoria de microempresas. Isso significa que muitas não têm orçamento ou recursos humanos dedicados a cibersegurança e podem encará-la como não essencial. É um risco que se está a multiplicar no mundo hiperconectado. “Se são microempresas são três ou quatro pessoas e o foco é sobreviver, é pensar em negócio primeiro”, destacou Pedro Soares. “Não está no ‘top of mind’ a segurança.” O especialista considera importante, por isso, que a literacia de segurança seja ensinada nas escolas e se torne integral para cada indivíduo, não apenas no contexto das empresas. “Muitas das vezes nem é pelo custo da tecnologia de proteção, é mesmo porque não há conhecimento”, frisou. Como as empresas podem preparar-seO primeiro passo é analisar a operação e as lacunas da empresa, para perceber onde estão os erros que é preciso corrigir. Para as empresas criadas do zero, o ideal é ter um arquiteto ou conselheiro de cibersegurança que garanta a proteção de raiz. O passo seguinte é ter um ‘feedback loop’, ou seja, analisar regularmente as operações e perceber o que é preciso mudar, porque a tecnologia está a evoluir de forma rápida. “Cada vez temos mais dispositivos ligados. O que quer dizer que temos que olhar para riscos que antes não existiam.”Finalmente, pelo menos uma vez por ano é importante dar formação aos colaboradores, de forma a atualizar os conhecimentos, em especial na era da IA. Pedro Soares reforça que a IA pode ser usada para automatizar e facilitar os ataques, mas ao mesmo tempo é uma arma de defesa. “A tecnologia está aqui claramente para ajudar”, disse. “A inteligência artificial é a nossa melhor aliada na defesa digital, especialmente para quem tem menos recursos. Porque se eu tenho menos recursos, naturalmente vou ganhar ainda mais com ter a inteligência artificial.”