"Voltar a ser o Chapeleiro é um presente do caraças!"

O ator Johnny Depp falou ao DN sobre "Alice do Outro Lado do Espelho" que estreia dia 25.
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Uma conferência de imprensa que não é uma conferência de imprensa. Aconteceu no fim de semana passado em Londres e a culpa foi de Johnny Depp e de Sacha Baron Cohen, o infame Borat. Tudo se pareceu mais com um momento de comédia de improvisação. A ocasião foi o lançamento de Alice do Outro Lado do Espelho, de James Bobin, com estreia marcada para o próximo dia 25.

Depp e Cohen monopolizaram as opiniões e com muita piada interna à mistura deixaram perplexas algumas dezenas de jornalistas convidados pela Disney vindos dos quatro cantos do mundo. James Bobin, Mia Wasikowska, a verdadeira protagonista do filme, e Tim Burton, desta vez apenas produtor, foram deixados para segundo plano.

À saída da primeira projeção do filme, muita desta imprensa estava dividida. O filme conta-nos a história de Alice, de volta ao País das Maravilhas depois de se ter aventurado nos mares asiáticos ao comando de um navio à prova de piratas e temporais. A menina loura acaba por regressar ao País das Maravilhas via mergulho num espelho e percebe que o seu amigo, o Chapeleiro Louco, está a morrer de desgosto por nunca ter feito as pazes com a sua família desaparecida. Então, Alice decide ir ao templo do tempo e viajar para o passado, mesmo com a perseguição do sr. Tempo (criação fantástica de Sacha Baron Cohen, ver caixa) para tentar evitar que o jovem chapeleiro se separe dos pais, mas desde logo percebe que é impossível mudar o passado...

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Reflexão sobre o tempo e os seus paradoxos, este novo Alice tem uma vantagem sobre o primeiro: uma estrutura menos episódica e uma outra unidade narrativa. Em comparação com o original também vence na descrição das personagens: o Chapeleiro Louco está mais bem explorado e a Rainha de Copas de Helena Bonham Carter tem mais piada. Claro que se esvanece a novidade da estética de explosão cromática digital, mas, no geral, Bobin (o homem que pegou ultimamente nos Marretas para a Disney) consegue um filme mais adulto e sólido, só aqui e ali traído pela necessidade de picar o ponto ao compromisso de blockbuster de Hollywood com o habitual martelar de efeitos visuais barulhentos e demasiado elaborados.

Depp responde ao DN

Curiosamente, na atribulada conferência, coube ao DN fazer a primeira pergunta. Quisemos saber se Depp ficou com alguma coisa desta sua personagem cada vez mais excêntrica (o Capitão Jack Sparrow ao lado deste Mad Hatter é um senhor respeitável...) e se quando está no palco com os Hollywood Vampires, que a 27 de maio atuam no Rock in Rio Lisboa, é mesmo ele ou uma personagem. A resposta foi toda para a segunda metade da questão e levou com a sua voz dengosa e arrastada: "Meu, a música é o meu primeiro amor, desde os 12 anos, mas a dada altura na minha suposta carreira as pessoas começaram a reconhecer-me mais como ator. Seja como for, nunca deixei de tocar. Até tocava para os amigos e para mim próprio... Sempre numa de low profile, na boa... Depois, há pouco tempo, o Alice Cooper pediu para eu fazer umas jam sessions com ele no 100 Club, e isso foi uma honra. Tocámos umas canções juntas e, depois, comecei a escrever em Los Angeles algumas canções. Até pensei que seriam canções para o Alice Cooper. De repente, tornámo-nos isto dos Hollywood Vampires! De repente, o meu sonho de miúdo tornou-se realidade sem eu ter de fazer aquela cena ridícula de ser o front man da banda. Posso tocar apenas guitarra e ficar na sombra. Os filmes tornaram-se o meu emprego diário e agora poder voltar a ser o Chapeleiro é mesmo um presente do caraças! Um ator pensa sempre que pode fazer mais ou menos pelas suas personagens e agora tive essa oportunidade." Ouvem-se aplausos.

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Durante a conferência com chá e biscoitos foi o único momento sério do ator, ele que uns minutos antes tinha posto bolos em cima da cabeça e que no final gozava com o episódio do seu pedido de desculpas à Austrália devido ao caso de os seus cães terem entrado ilegalmente no país. "A partir de agora, em todos os locais onde aparecer em público, vou pedir desculpas." "Olha, informo-te que há pouco sentei-me sem querer em cima deles", brinca um Tim Burton algo gago.

Logo após Sacha fazer uma demonstração do seu sotaque germânico (ou será uma imitação ao cineasta Werner Herzog?) no filme (seguida de nova salva de palmas dos jornalistas) e dizer que o seu Tempo é um homem como Donald Trump, Depp sai-se com esta: "É um milagre ainda estar vivo..." Um pouco de rock "n" roll num evento de cinema não faz mal nenhum... Simultaneamente, Sasha começa a comer um bolo que está na mesa e a fazer caretas, até que diz algo como "cuidado com a intoxicação alimentar". Mia Wasikowska quase não abre a boca e apenas sorri.

"Basicamente, este filme leva o Chapeleiro a um estado ainda mais louco e de perdição. Foi desafiante", conta Depp já com o bigode de Jack Sparrow graças às filmagens do próximo Piratas das Caraíbas. No final, despede-se como uma estrela de rock e lembramo-nos que este Chapeleiro aterra em Portugal em 3D na mesma semana do concerto dos Hollywood Vampires no Rock in Rio.

São as muitas dimensões de uma das últimas estrelas rebeldes do cinema americano.

Londres

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