"Recebi a notícia há meia hora [cerca das 20:30 em Lisboa], num telefonema que me fizeram do Brasil. Logo hoje, que é um daqueles dias em que a gente pensa: vou jantar, vou deitar-me e quero me apagar do mundo. De repente, apareceu esta chamada telefónica e, obviamente, fiquei muito feliz", avançou à agência Lusa Mia Couto, sem adiantar as razões que lhe provocavam tal sentimento..Mia Couto disse que "não esperava" ser distinguido com este prémio e acrescentou: "Não espero nunca uma coisa destas. Tenho com os prémios uma relação de distância, não de arrogância, mas pensando que não vale a pena olhar para eles porque a gente trabalha por outra razão, que são outros prémios mais importantes que este"..Mia Couto reforçou que "um escritor ou qualquer outro artista que começa a piscar o olho a um prémio fica cego", brincando com o nome do galardão com que foi hoje distinguido ao acrescentar que, quem o faz, "tem o olho como o Camões"..O escritor concordou que os seus livros têm cada vez maior aceitação fora do universo da língua portuguesa, afirmando que seria "mentira" se o negasse.."Mas vejo isso como alguma coisa que eu alimento como uma missão, como uma espécie de uma responsabilidade minha, embora ninguém me tivesse incumbido dessa coisa", sublinhou..O vencedor da edição deste ano do Prémio Camões destacou que a distinção ajuda a promover a imagem de Moçambique no exterior, frisando que ainda recentemente esteve no Canadá, na Colômbia e nos Estados Unidos [da América] e muita gente ignorava a própria existência daquele país africano, "tão periférico e tão desconhecido", como o classificou.."Tomar conhecimento da realidade de um país através das histórias é a melhor maneira possível e sinto-me muito bem fazendo isso", admitiu..Segundo Mia Couto, este prémio é também um "contributo" para acabar com o pessimismo em torno de tudo o que diz respeito ao continente africano.."Acho que é bom que este continente dê contas de si e sinais de si por via da produção artística", assinalou..Sobre o valor monetário que acompanha o prémio, Mia Couto disse à Lusa que ainda não pensou na utilização que lhe dará.."Não pensei. E, também, se pensar, não digo a ninguém, digo só à minha mulher e aos meus filhos", afirmou..O Prémio Camões foi hoje atribuído a Mia Couto, disse à Lusa a Secretaria de Estado da Cultura. O escritor é o vencedor da 25.ª edição do prémio, que distingue um autor de língua portuguesa..O anúncio do vencedor foi feito hoje, no Rio de Janeiro, onde o júri se reuniu.