De 0 a 10 até quanto conseguimos ser felizes? A pergunta deve ser feita num contexto específico: o Portugal da crise da era da troika. Uma resposta para ser dada por uma família com uma mãe e um pai desempregados e dois filhos na escola..A mãe, Marta, teve de sair de Lisboa e instalar-se em Viana do Castelo, onde ajuda os pais no café da família. O pai, Daniel, partiu para a luta. Não desiste enquanto não arranjar trabalho. Mas o tempo passa e não há empregos nesta crise. A dada altura, perde a casa. Resta-lhe um desafio de um amigo: meter-se numa carrinha de nove lugares e fazer um favor a uma desconhecida em Andorra. Este é o ponto de partida da adaptação ao cinema do romance homónimo de David Machado..O índice referido no título é lançado pelo tal amigo, o depressivo Xavier. Juntos, com a ajuda de um outro amigo, Almodóvar, criaram um site de favores em cadeia. É daí que surge um apelo para conduzir de Andorra a Barcelona uma senhora inválida. A história é sobre como uma certa tristeza portuguesa pode ser combatida através do altruísmo..[youtube:F_Zhy0CsUXI].Joaquim Leitão, depois da adaptação do best-seller Sei Lá, de Margarida Rebelo Pinto, e antes de adaptar O Fim da Inocência, de Francisco Salgueiro, atirou-se de cabeça a esta história, tentando construir um drama com alguma dose de ingredientes emocionais à base de uma certa fórmula feel-good movie à portuguesa. O resultado é tudo menos feliz. Esta viagem terapêutica pode ter muito boa vontade mas não lhe sobram muitas ideias de cinema..Adaptar romances nunca é fácil (e aqui temos o próprio David Machado na adaptação, bem como Tiago R. Santos, habitual argumentista dos filmes de António-Pedro Vasconcelos) e a imensa quantidade de voz off não ajuda. Índice Médio de Felicidade tropeça num ritmo lento, em diálogos sem chama e numa falta de garra gritante. As personagens são todas moles e as explosões dramáticas são sempre mornas..Tão mais frustrante é sentirmos que não houve um interesse verdadeiro em filmar uma certa classe média portuguesa (em breve vamos ver Colo, de Teresa Villaverde, onde aí, sim, vemos uma família portuguesa a ser verdadeiramente engolida pela crise económica). Esse poderia ser um dos trunfos do projeto, mas Leitão não parece tocado pelas personagens nem pelas suas dinâmicas familiares. O tom é de um anonimato total, muito perto da mais desinteressante ficção telenovelesca que por aí se vê. Trata-se seguramente do pior filme assinado por Joaquim Leitão, cineasta que depois de 20,13 (2006) parece andar perdido em encomendas..A própria direção de atores carece de vitalidade, como se os atores estivessem aborrecidos. Marco D"Almeida faz o que pode com uma personagem muito ingrata, Patrícia André demonstra o talento que já conhecíamos dos palcos e António Cordeiro é mais do que competente. Quando a narrativa se converte em "filme de estrada" parece que o filme ainda fica mais lento. As coisas arrebitam um bocadinho quando surge Lia Gama, a interpretar a senhora de cadeira de rodas. É o único raio de sol de um filme tristonho..No fim, a entrar pelo genérico final, aparece a canção dos Xutos & Pontapés, Sementes do Impossível, composta de propósito para o filme. Mais uma vez, a nossa maior banda de rock colabora num filme produzido por Tino Navarro. Sem dúvida um trunfo importante para a promoção de uma obra que quer chegar ao grande público. Será um teste curioso para perceber se o espectador adere a uma adaptação de um romance recente de um escritor que caiu nas boas graças dos leitores e da imprensa. Já era tempo da novíssima literatura portuguesa ter espaço no cinema português....Índice Médio de Felicidade é o primeiro filme de uma leva considerável de cinema português a chegar às salas. Já no próximo dia 14 estreiam três curtas: Farpões Baldios, de Marta Mateus, o Urso de Ouro de Berlim, Cidade Pequena, de Diogo Costa Amarante, e o magnífico Coelho Mau, de Carlos Conceição. Setembro traz-nos ainda Comboio de Sal e Açúcar, de Licínio Azevedo, coprodução entre Portugal e Moçambique.