Xi e MNE lançam duplo aviso aos EUA: ou travam ou há conflito

Líder e chefe da diplomacia da China respondem à "supressão" de Washington e dos aliados. Ucrânia, espionagem, origem da pandemia ou Taiwan são focos de tensão.
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O regime chinês respondeu de viva voz ao aumento, nas últimas semanas, da pressão norte-americana não com um mas com dois avisos. O primeiro pela voz do líder Xi Jinping e o segundo pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Qin Gang durante a sessão anual legislativa, a Assembleia Popular Nacional, que decorre em Pequim.

"Liderados pelos Estados Unidos, os países ocidentais puseram em prática uma contenção total, um bloqueio e uma supressão da China, o que trouxe desafios graves e sem precedentes ao desenvolvimento do nosso país", disse Xi, que irá ver confirmado o seu terceiro mandato pelos quase 3000 deputados.

Horas depois, foi a vez de o ministro dos Negócios Estrangeiros - segundo na hierarquia diplomática do regime comunista a seguir ao diretor da Comissão Central dos Negócios Estrangeiros do Partido Comunista, Wang Yi: "Se os Estados Unidos não acionarem o travão e continuarem a acelerar pelo caminho errado, nenhuma quantidade de barreiras pode impedir o descarrilamento e haverá certamente conflitos e confrontos", advertiu Qin Gang.

Esta tensão entre os Estados Unidos e a China remonta aos tempos da Administração Trump. Ao pôr em prática o protecionismo advogado pelo mote America first, Washington começou por lançar investigações sobre furto de propriedade intelectual e prosseguiu com uma série de restrições comerciais, proibições de investimentos e também ao nível do software e das apps, e culminou com a aplicação de taxas aduaneiras numa série de produtos - além de advertirem os aliados para não deixarem a rede 5G à Huawei. Pequim respondeu na mesma moeda, no que se tornou uma guerra comercial.

A chegada de Joe Biden à Casa Branca, ao contrário do que alguns poderiam esperar, acabou por representar um agravamento das relações. Não só as taxas aduaneiras se mantiveram, como o democrata, no seu primeiro discurso sobre relações internacionais enquanto chefe de Estado, elegeu a China como "o mais sério concorrente". Desde então aprovou legislação a promover a reindustrialização do país, em especial em tecnologias como os semicondutores, e na indústria para a transição energética.

Além da preponderância cada vez maior da China no cenário económico global, os EUA têm-se mostrado cada vez mais preocupados com a afirmação política da República Popular, desde a construção de ilhas artificiais no mar do Sul da China - onde reclama quase todo o território - à reivindicação sobre Taiwan, ainda que ameaçando tomar o território democrático à força para dar corpo à política de "uma só China". Um foco de constante tensão, sobre o qual Biden se comprometeu a agir na defesa de Taipé face a uma hipotética invasão.

Citaçãocitacao"Esta competição é uma aposta irresponsável, na qual estão em jogo os interesses fundamentais dos dois povos e mesmo o futuro da Humanidade." Qin Gang

A juntar a isto, a nova lei de Segurança Nacional extirpou as liberdades cívicas e políticas de Hong Kong e de Macau enquanto Pequim adotou a chamada diplomacia do Lobo Guerreiro - o nome de dois filmes populares chineses para descrever uma atitude combativa.

Depois do episódio do balão abatido em fevereiro quando sobrevoava território norte-americano (outros três objetos foram abatidos sobre o Canadá e EUA, mas não foram recuperados, ao contrário do balão, cujo conteúdo está a ser analisado pelo FBI), o secretário de Estado Antony Blinken cancelou uma visita a Pequim, ao que se seguiu uma troca de acusações.

Em paralelo, vários funcionários norte-americanos começaram a dizer que a "parceria sem limites" entre Pequim - que não condenou as ações de Vladimir Putin - e Moscovo poderia vir a conhecer novo capítulo com a venda de armas e munições chinesas para ajudar a Rússia na invasão à Ucrânia. Este cenário tem sido desmentido pelo regime comunista, embora a Economist assegure que estaria disposto a fazê-lo se a transferência acontecesse de forma secreta. Uma posição difícil de suster quando ao mesmo tempo demonstra a "profunda preocupação" com a guerra na Ucrânia e apresentou um plano de paz.

Por fim, na semana passada, o Departamento de Energia dos EUA reviu a sua posição sobre a origem do novo Coronavírus e concluiu que o mais provável é ter havido uma fuga do laboratório de Wuhan, juntando-se à conclusão do FBI datada de 2021, como o Wall Street Journal noticiou. A China, que não permitiu uma investigação independente sobre a origem da pandemia, respondeu com indignação, tendo acusado os EUA de "politizar a questão" para desacreditar a China.

cesar.avo@dn.pt

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