Uma viragem à direita é o cenário mais provável nas legislativas canadianas, as segundas em 18 meses. Segundo as sondagens, os 23 milhões de eleitores preparam-se para eleger hoje um Executivo conservador, após 12 anos de governação liberal..Apesar das declarações do primeiro-ministro cessante, Paul Martin, que afirmou ainda acreditar numa vitória dos liberais, todas as sondagens apontam para que o líder conservador, Stephen Harper, seja o novo chefe do Governo. A dúvida reside em saber se irá conseguir uma maioria estável. .Uma sondagem do instituto Ekos para os jornais La Presse e Toronto Star dá dez pontos de vantagem aos conservadores (37%) sobre os liberais (27%). Um resultado que daria entre 120 e 130 dos 380 deputados aos conservadores, abaixo do mínimo para obterem a maioria. O Novo Partido Democrático (NDP) obteria 19% dos votos e o Bloco quebequense (que só faz campanha na província francófona do Quebeque) 11%..A confirmar-se este cenário, Harper terá de procurar, caso a caso, o apoio de um dos três outros partidos, num Parlamento onde não tem aliados naturais. Sem margem de manobra, o líder conservador terá dificuldades em impor uma agenda que prevê a redução dos impostos, o aumento do orçamento da Defesa e mais poderes para as províncias. .Num país onde os governos de minoria costumam ter vida curta, os canadianos poderão regressar às urnas antes do previsto. Principalmente se Harper não conseguir ultrapassar os seus dois maiores desafios refrear os desejos soberanistas do Quebeque e recuperar as boas relações com os EUA, marcadas, nos últimos meses, pela tensão..Tendo realizado uma campanha prudente, em que procurou evitar os erros de 2004, no sábado Harper mostrou-se confiante na vitória. "Vamos eleger um Governo que pode dar muito mais ao país do que os liberais", defendeu numa entrevista ao National Post..Dados como vencedores no início da campanha, os liberais tentaram diabolizar Harper, alertando para os perigos de um Governo de direita. Uma "guerra de medo" que teve um "efeito de boomerang", segundo Le Devoir. Aproximando-se do centro, o líder conservador usou a imagem de integridade como alternativa à corrupção dos liberais, mantendo, contudo, a oposição aos casamentos homossexuais e ao Protocolo de Quioto..Em Novembro, uma moção de censura apresentada pela oposição derrubou o Governo de Paul Martin. Apesar de ter sido ilibado por uma comissão parlamentar de inquérito, o primeiro-ministro não conseguiu afastar da polémica causada por um escândalo de desvio de fundos, que remonta a 1995.