Violência em Bissau provoca três mortos entre apoiantes de Kumba

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A calma voltou ontem ao final do dia à capital da Guiné-Bissau, após os violentos confrontos no centro da cidade entre apoiantes de Kumba Ialá e as forças da polícia. Três mortos e cinco feridos é o balanço desses confrontos, que se manifestavam junto à Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Cerca de duas centenas de jovens percorreram as ruas desde a sede do Partido da Renovação Social (PRS) até ao edifício da CNE, onde eram aguardados por forte contingente policial que lançou granadas de gás lacrimogéneo e disparou rajadas de metralhadora para dispersar a manifestação.

Doze pessoas foram detidas. Entre estas encontra-se Artur Sanhá, secretário-geral do PRS, que, segundo a Polícia de Ordem Pública (POP), tinha em seu poder duas pistolas e dois carregadores.

Um dos mortos foi atingido na cabeça, em plena Avenida Amílcar Cabral, e um segundo no peito, tendo o terceiro vindo a falecer no hospital da capital. Desconhece-se ainda a identidade das vítimas. Antero João Correia, comissário-geral da POP, esclareceu que os confrontos tiveram início quando o grupo de jovens lançou pedras sobre os agentes de segurança, que, de seguida, ripostaram com tiros. Um inquérito foi imediatamente instaurado pelas autoridades policiais.

Antes de ser detido, Artur Sanhá manifestou-se "indignado" face à actuação da polícia e acusou o poder político de ter "falseado" os resultados eleitorais das presidenciais do último domingo. "Não compreendo porque é que a polícia não interveio quando, em Maio, vários manifestantes destruíram a sede do meu partido e agora foram tão rápidos a actuar", criticou o ex--primeiro-ministro do Governo de Transição (Setembro de 2003). Sanhá foi levado para a 2.ª Esquadra de Bissau, tendo sido já visitado pelos ministros guineenses do Interior e da Defesa.

Confrontado com as acusações de fraude, Malam Mané, presidente da CNE, considerou infundadas as alegações dos apoiantes de Kumba Ialá e esclareceu que o PRS ainda não apresentou qualquer reclamação por escrito - conforme estipula a lei -, pelo que, defendeu, a manifestação "não faz sentido". Mané lembrou que as urnas e os votos expressos no escrutínio são guardados "durante um ano" na sede da Comissão; por isso, sublinhou, qualquer candidato é livre de reclamar durante esse período.

resultados. Os resultados definitivos das presidenciais de 19 deste mês serão, entretanto, hoje divulgados pela CNE. Na passada quarta-feira, o presidente da Comissão Nacional de Eleições tornou público o número de votos totais em cada uma das nove regiões da Guiné--Bissau. De acordo com os cálculos feitos pelos jornalistas e candidatos presentes, Malam Bacai Sanhá obteve 35,4% e João Bernardo Nino Vieira 28,8% dos votos, passando ambos à segunda volta, que se realizará a 17 ou 24 de Julho.

A missão de observadores da União Europeia em Bissau reagiu poucas horas após os incidentes ocorridos pela manhã e lamentou os confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança. Em comunicado, a missão da UE esclarece que não tolerará violência no exercício da democracia "Os acontecimentos protagonizados por poucos em nada beneficiam o povo da Guiné-Bissau."

Ontem, o centro de Bissau esteve praticamente paralisado, com os estabelecimentos comerciais encerrados. A residência privada do presidente interino, Henrique Rosa, esteve guardada por um forte contigente policial. Por outro lado, a mulher de Nino Vieira foi transferida, por precaução, da sua residência, no Bairro de Angola, em Bissau, para local desconhecido. Nino encontra-se em Conacri.

* Com agências

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