Número de mortes em barragens é desconhecido .A albufeira de Vilar, onde na terça- -feira morreram duas pessoas afogadas, não está classificada pelo Instituto da Água (Inag) como sendo zona balnear - classificação só possível se a água, depois de várias análises por parte do Inag, tiver qualidade. Mais. O Plano de Ordenamento daquela barragem diz que são proibidos "banhos e natação" e que a "prática de banhos e natação está sujeita à classificação da água como balnear nos termos da legislação em vigor". Apesar de tudo isto, a autarquia de Moimenta da Beira concessionou a praia e colocou nadadores-salvadores no local..A lista de irregularidades não acaba aqui. O Plano de Ordenamento proíbe a "navegação recreativa a remos, à vela e a pedal", mas na praia de Vilar estão disponíveis gaivotas. .A história tem contornos caricatos. "O espaço foi inaugurado há quatro anos pelo presidente da câmara como praia fluvial", revela sob anonimato, um dos nadadores da barragem. José Agostinho, autarca de Moimenta da Beira, afasta liminarmente a designação de "praia fluvial". No entanto, a praia está entregue a um concessionário, que de acordo com a lei será o responsável pela segurança e vigilância daquela zona. .O problema deriva sobretudo da falta de classificação, mesmo quando a frente de água está sinalizada como praia fluvial e existem nadadores-salvadores formados pelo Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). . José Luís Teixeira, responsável pelas equipas de mergulho que estiveram envolvidas no resgate de terça-feira na barragem do Vilar não tem contemplações: há perigo em praias fluviais localizadas nos espelhos de água das barragens uma vez que "a grande maioria está construída sobre zonas agrícolas que não foram desmatadas." Acresce ainda "a falta de bom senso de quem frequenta estes espaços sem vigilância que se constituem em espaços perigosos pela falta de fiscalização e assistência. No fundo são espaços sem lei nem roque, que ninguém conhece e onde não são conhecidos os perigos de cada local", conclui.. Rui Leitão, responsável do ISN refere que "a gestão da praia fluvial é obrigação do concessionário", pelo que "abundam as praias fluviais não classificadas e portanto sem fiscalização e segurança". Para se ser confeccionada é necessária uma licença e que essa concessão seja publicada pelo Ministério do Ambiente (MA) em Diário da República. Mas o problema reside na jurisdição com a divisão de competências entre o MA, Comissões de Coordenação e Desenvolvimento (CCDR), ISN e câmaras municipais. .Números são incógnita.É impossível saber o número de vítimas mortais em albufeiras ou praias fluviais. Nas estatísticas, estas mortes chegam sob a forma de acidentes náuticos - classificação atribuída pela Protecção Civil. A responsabilidade da contabilização deveria estar a cargo das autarquias, dos concessionários, da CCDR ou do Inag. No entanto, não há contagem, apenas se sabe, pelas notícias, que os números sobem todos os Verões. .No que toca às praias vigiadas pelo ISN em áreas marítimas, oito pessoas morreram nas praias portuguesas desde o início da época balnear. Segundo dados da Marinha, duas afogaram-se em praias vigiadas e as restantes em praias não vigiadas. Durante os quatro meses deste ano foram realizados 764 salvamentos. Na época balnear passada registaram-se oito acidentes mortais em praias vigiadas e 13 em não vigiadas. * Com SUSANA LEITÃO