Vencedor. Mark Leckey venceu o mais importante prémio para a arte contemporânea com uma instalação em vídeo sobre a animação. Ao contrário de anos anteriores, em que os artistas nomeados para o Turner causaram polémica, desta vez houve quem acusasse a exposição de ser "aborrecida".Em 1997, o prémio Turner foi entregue a Gillian Wearing que apresentou um vídeo onde, durante uma hora, um grupo de actores vestidos como polícias aparecia sem se mexer nem falar. No ano seguinte, Chris Ofili usou excremento de elefante na sua obra de arte. Tracey Eminem manteve a controvérsia com a sua cama por fazer. Em 2003, os Irmãos Chapman transformaram dois bonecos insufláveis e um vibrador numa obra de arte premiada. É isto a arte contemporânea? A discussão acontece todos os anos e, todos os anos, o Turner orgulha-se não só de ser o mais importante prémio para a arte contemporânea como também de ser polémico e de agitar o meio. .Bem, talvez não todos os anos. Mark Leckey, o vencedor deste ano, já foi acusado por alguns críticos de ser demasiado "académico" e até de ser "aborrecido", mas não é propriamente um nome para a polémica. O artista é o primeiro a reconhecê-lo e isso, para ele, não é problema. O problema está nos outros, diz, nomeadamente nos jornalistas, que chegam ali à espera de ver qualquer coisa parecida com Damien Hirst, Gilbert e George ou Banksy. "Eles vêm para o Turner à espera de ficar chocados, mas o mundo em que eu vivo não é assim.".Foi o cantor Nick Cave que anunciou o vencedor do prémio Turner na segunda-feira à noite, numa cerimónia na Tate Britain, em Londres: Mark Leckey, inglês, professor de cinema em part-time na Städelschule de Frankfurt, e artista que costuma trabalhar em vídeo a partir dos conceitos e das imagens da cultura popular, recebeu o cheque no valor de 25 mil libras (quase 30 mil euros). .A exposição de Leckey intitula-se Industrial Light & Magic e é uma instalação que combina cinema, escultura, som e performance. A peça principal, Cinema-in-the-round, é um filme onde Leckey aparece a dar um aula sobre a sua paixão pela animação, abarcando tudo desde Felix the Cat a Homer Simpson, passando por outro gato, Garfield, e até pelo Titanic de James Cameron.."Tudo aqui é sobre ter algo, é sobre coisas que os outros desejam e que eu desejo e a minha tentativa de estabelecer uma relação com elas", explicou o artista. Em relação às críticas, Leckey mostrou-se surpreendido: "Quem é que não percebe isto? Eu não percebo quem não percebe." .Stephen Deuchar, director da Tate Britain, defendeu o artista, que considera "brilhantemente inventivo, espirituoso e idiossincrático". Ou, nas palavras do júri: "Ele celebra a imaginação de cada um e o nosso poder para preencher, reivindicar ou animar uma ideia, um espaço ou um objecto.".Aborrecido? O público não concorda. Desde Setembro, cerca de 60 mil pessoas visitaram a exposição do Turner, apesar de nenhum dos quatro nomeados ser conhecidos do grande público. E, aparentemente, e a acreditar na opinião deixada pelos visitantes da exposição, este ano, o júri está de acordo com a vontade do público..Além de Leckey, havia mais três nomeadas, que vão receber um prémio de 5 mil libras (quase 6 mil euros): Runa Islam, de 37 anos, nasceu no Bangladesh mas trabalha em Londres, e apresentou um trabalho muito ligado ao Islão; Goshika Macuga, de 40 anos, nasceu na Polónia, e é uma artista que produz instalações com objectos muitas vezes "roubados" a outros artistas; e finalmente Cathy Wilkes, de Belfast, que tem 42 anos e que trabalha a partir de objectos do quotidiano - no caso, um conjunto de manequins nus e uma caixa de supermercado, por exemplo..Fosse Wilkes a vencedora e talvez os discursos de hoje fossem bem diferentes. Mark Leckey não é polémico mas está apostado em fazer com que o seu nome passe a ser conhecido e, para isso, já anunciou que está bastante interessado em fazer televisão: "uma sobre artes mas com música e performance." Só falta um canal interessado.|