Estarão de volta as "grandoladas", que tanto incomodaram Passos Coelho e os seus governantes entre 2011 e 2015, perturbando agora as iniciativas públicas dos membros do atual Executivo, começando pelo próprio António Costa?.É o que falta saber. A verdade é que ontem foi divulgado o manifesto fundador de um novo movimento de protestos de rua. E entre os seus dinamizadores estão ativistas que na governação Passos-Portas criaram e dinamizaram o movimento "Que se lixe a troika" (QSLT), responsável, através das tais "grandoladas", por inúmeras situações embaraçosas para os governantes de então e ainda, em setembro de 2012, por uma das maiores manifestações que o país alguma vez viu (um milhão de pessoas nas ruas).."Vida justa" é o nome da plataforma e o manifesto fundador foi divulgado ontem, acompanhado de uma lista de subscritores onde se encontram nomes como os do músico Dino D"Santiago, da jornalista Alexandra Lucas Coelho, da escritora Joana Bértholo e do historiador Manuel Loff, bem como de de dezenas de militantes do ativismo político, social e cultural em bairros como a Cova da Moura, Rego, Arrentela, Marvila ou ainda no Barreiro e em Almada. Os porta-vozes serão o rapper Flávio "LBC" Almada, da Cova da Moura, e Joana Mouta , da associação Passa Sabi (bairro do Rego). A primeira iniciativa será uma manifestação em Lisboa, marcada para dia 25 de fevereiro..Citaçãocitacao"Há uma guerra contra as populações mais pobres que tem de parar.".Segundo fonte da organização, o "Vida Justa" consistirá, em parte, numa "reinterpretação" do "Que se lixe a troika"" mas agora à luz de um novo problema, o da inflação e das suas consequências na degradação das condições de vida dos setores mais desfavorecidos da população..A sua base militante essencial, pelo menos para já, está diretamente ligada ao ativismo social nos bairros mais pobres, designadamente em Lisboa e na Margem Sul. Pretende-se - e ao contrário do que aconteceu com o QSLT - instalar "uma rede de intervenção permanente", ou seja, que perdure para lá dos motivos originais da formação do movimento..Citaçãocitacao"Para inverter esta situação as pessoas têm de ter o poder de exigir um caminho mais justo que distribua igualmente os custos desta crise [porque] não pode ser sempre o povo a pagar tudo, enquanto os mais ricos conseguem ainda ficar mais ricos.".Se no "Que Se Lixe a Troika" o combate se centrava nas medidas de corte dos rendimentos (e de aumento dos impostos) que estavam então a ser desencadeadas, agora o o problema central é a inflação. De acordo com o manifesto fundador, "há uma guerra contra as populações mais pobres que tem de parar" e "para inverter esta situação as pessoas têm de ter o poder de exigir um caminho mais justo que distribua igualmente os custos desta crise" porque "não pode ser sempre o povo a pagar tudo, enquanto os mais ricos conseguem ainda ficar mais ricos"..Ou seja, exige-se um "programa de crise que defenda quem trabalha": "Os preços da energia e dos produtos alimentares essenciais devem ser tabelados; os juros dos empréstimos das casas congelados, impedir as rendas especulativas das casas, os despejos proibidos; deve haver um aumento geral dos salários acima da inflação; medidas para apoiar os comércios, pequenas empresas e os postos de trabalho locais e valorizar económica e socialmente os trabalhos mais invisíveis como o de quem trabalha na limpeza"..E o que se promete, a partir de "gente preocupada dos bairros e militantes de várias causas e movimentos sociais", é "construir uma rede e multiplicar ações que deem mais poder às pessoas e que consigam impor políticas que defendam as populações e quem trabalha"..joao.p.henriques@dn.pt