Vem aí a Arca de Noé para as plantas agrícolas

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O projecto tem todos os ingredientes para dar um filme-catástrofe ao gosto de Hollywood e ser um campeão de bilheteiras. Mas não é um filme. O objectivo é preservar a biodiversidade agrícola para o futuro, por isso já lhe chamaram o "cofre-forte do juízo final". Um dramatismo que o nome oficial, Svalbard International Seed Vault, não tem.

"Cofre-forte do juízo final", ou "Arca de Noé das plantas", a ideia é construir um bunker em cimento armado, no interior de uma montanha numa ilha do arquipélago norueguês de Svalbard (daí o nome) no círculo polar Árctico, numa região hostil e gelada. Aí se guardará tudo o que existe hoje de memória de dez mil anos de agricultura.

O projecto é promovido por uma organização internacional que se dedica à preservação genética de plantas agrícolas, a Global Crop Diversity Trust, e a construção, que custará mais de três milhões de euros e ficará a cargo do governo norueguês, inicia-se já em Março, foi ontem anunciado.

Prevê-se que a obra, que implica a perfuração de uma montanha gelada no Árctico até 120 metros de profundidade, e a mil quilómetros de distância do território continental da Noruega, ficará concluída ainda em Setembro deste ano.

"Depois é montar equipamentos, fazer testes e, por esta altura, em 2008, iniciaremos a sua operação", explica ao DN Cary Fowler, director do Global Crop Diversity Trust e promotor do projecto.

Arquivo perpétuo

Apoiado pela FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a "Arca de Noé das plantas" que vai nascer em Svalbard não é um banco de sementes como os outros.

Actualmente, há pouco mais de mil bancos deste tipo no mundo. São arquivos regionais uns, mais locais ou mais completos outros, mas nenhum como o que aí vem. O de Svalbard pretende ser uma memória universal e contará com uma amostra de cada variedade e de cada espécie agrícola que existe actualmente no mundo (ver entrevista).

"Queremos preservar a biodiversidade agrícola para o futuro", sublinhou Fowler, lembrando que muitas "espécies já se perderam para sempre, como sucedeu aos dinossauros".

Um exemplo é o das maçãs, nos Estados Unidos. No século XVIII, sabe-se pelos registos da época, havia 7100 variedades de maçãs, cada uma com um nome distinto. De então para cá, 6800 extinguiram-se, porque deixaram de ser cultivadas ou porque não tinham interesse comercial. Evitar que estas histórias se repitam é a missão do banco que vai ser construído no Árctico, cuja longevidade "é virtualmente perpétua", garante Fowler. A ideia é ir substituindo as amostras à medida que a sua longevidade se esgota: plantam-se, deixam-se germinar, recolhem-se as sementes assim produzidas e essas são por sua vez armazenadas. A duração de cada amostra varia de espécie para espécie. Para as ervilhas, por exemplo, o máximo são três décadas. Mas as sementes de girassol podem conservar-se intactas durante décadas e até centenas de anos.

As amostras serão guardadas em caixas e armazenadas à temperatura de 18 graus Celsius negativos. Com a operação a rolar, a manutenção não exigirá grandes custos.

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