Enquanto o mundo assistia ao início da crise económica e financeira internacional, Enrique Fenollosa e Jose Carlos Corral, ambos de 44 anos, deixavam a região meridional de Valência, em Espanha, de onde são naturais, para mergulharem na "Aventura Oceânica", o nome do épico que representa o projeto das suas vidas.."Se gosta de velejar e de viajar, fazer a volta ao mundo é o máximo que pode fazer. Como gente que gosta do mar, era um sonho que tínhamos há muitos anos", contou em Maputo à agência Lusa Enrique Fenollosa, engenheiro de telecomunicações..Em novembro de 2009, os dois velejadores soltaram as amarras da "jangada de pedra" que os tem levado à volta do mundo - um veleiro de 47 pés, reconvertido de um barco regata -, mas os preparativos da viagem começaram quatro anos antes.."Não é uma coisa que se faça de um dia para o outro. Nós já tínhamos experiência como velejadores. Não é só a questão do financiamento, mas também as questões técnicas do barco, planificação (percursos, ventos, marés, ciclones) e tudo isso", sublinha o músico Jose Carlos Corral.."Representou muito trabalho. Tivemos de fazer mais de 60 reuniões para conseguir os oito patrocinadores que temos", acrescenta Fenollosa, destacando as dificuldades de acesso a financiamento, aumentadas devido à crise económica espanhola..Das águas mediterrânicas às do Caribe, cruzando o Cabo de Hornos, "o local mais difícil de navegar do planeta", para depois escalar a costa leste da América do Sul e seguir viagem rumo ao exotismo de destinos como as Ilhas Fiji, Filipinas ou Indonésia, o percurso da "Aventura Oceânica" encontra-se, neste momento, ante a dobragem do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul..No entretanto, a certeza da passagem por 42 países, a impossibilidade de nomear um destino de eleição, por serem tão diversos, quanto interessantes, e, alguns sustos, como na Venezuela, onde enfrentaram piratas.."Se temos que lutar contra o mar, é uma coisa inevitável, mas é mais duro quando se encontra conflitos com pessoas: sejam piratas ou autoridades de alguns lugares corruptos, que querem tirar proveito de nós. Isso é a parte mais negativa da viagem", lamenta Corral..Quase na reta final da aventura - tencionam chegar a Espanha em dezembro -,os dois espanhóis não querem, "até cruzar o estreito de Gibraltar", pensar no regresso ao que se pode chamar de "as suas vidas antigas"..Levam, no entanto, a certeza de que um sonho pode ser cumprido, desde que se tomem decisões nesse sentido, e de que "a bondade" do ser humano "é uma questão internacional".."O mais importante é que se tome uma decisão: toda a gente tem sonhos, mas não fazem nada para cumpri-lo. Para mim, o mais importante é que se façam coisas, que se trabalhe para o sonho. As decisões não são fáceis, mas se se quer fazer, tem que se tomá-las", concluiu Fenollosa