O juiz Carlos Alexandre ouviu esta tarde Armando Vara, no Tribunal de Central de Instrução Criminal, em Lisboa. Após a audição, que termintou cerca das 17:30, e ouvido o Ministério Público, o magistrado aplicou ao ex-ministro socialista, arguido no processo conhecido por "Operação Marquês", a medida de coação de prisão domiciliária, com vigilância eletrónica..Vara fica ainda proibido de contactar os restantes arguidos no processo, lê-se em comunicado da Procuradoria-Geral da República..Armando Vara saiu do tribunal cerca das 23:00, indo para já ficar no estabelecimento prisional junto à Polícia Judiciária, em Lisboa, até que os serviços judiciais terem reunidas as condições para concretizar a prisão domiciliária. Um processo que normalmente demora 48 horas..Vara foi detido quinta-feira por suspeitas de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais no financiamento do empreendimento turístico de Vale do Lobo, no Algarve (ler mais abaixo)..Sócrates nega envolvimento.Entretanto, os advogados de José Sócrates emitiram, esta sexta-feira, um "esclarecimento público", afirmando que o ex-primeiro ministro, preso preventivamente no processo "Operação Marquês", "nunca teve qualquer tipo responsabilidade, participação ou contributo em qualquer acto que seja sequer suspeito de ter beneficiado diretamente quaisquer interesses privados, designadamente do empreendimento Vale do Lobo"..No mesmo comunicado, os advogados João Araújo e Pedro Delille dizem ainda ser "absolutamente falso que alguma vez tenha recebido diretamente ou indiretamente alguma vantagem, nomeadamente patrimonial ou financeira, para o efeito". "Não tendo sequer conhecimento do relacionamento entre o referido empreendimento turístico e as indicadas pessoas e quaisquer instituições bancárias", finalizam os advogados..Advogado de Vara pediu para consultar processo.Segundo o Público, o advogado de defesa do ex-ministro - Tiago Rodrigues Bastos que já o tinha defendido no caso Face Oculta - pediu para consultar o processo antes de Armando Vara ser questionado pelo juiz..Segundo o Expresso, o interrogatório esteve interrompido durante uma hora - entre as 13 e as 14 horas - para que o antigo ministro pudesse verificar os indícios que levaram à sua detenção..Armando Vara que foi ontem detido por ordem de um "mandado de detenção fora de flagrante delito para sujeição a interrogatório judicial" passou a noite no Comando Metropolinao de PSP de Lisboa..Eventuais medidas de coacção devem ser conhecidas ainda hoje..As suspeitas.Depois do Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve (PROTAL), o procurador que lidera a investigação a José Sócrates parece estar concentrado no financiamento, em 2006, da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento imobiliário de Vale do Lobo..Ontem, Armando Vara, antigo administrador da CGD, foi detido e será, hoje, ouvido pelo juiz Carlos Alexandre no Tribunal Central de Instrução Criminal. Os investigadores também fizeram buscas na sede da CGD e noutros pontos do país. Segundo um comunicado da Procuradoria-Geral da República, Vara é suspeito de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais..Vara é o segundo ex-governante a ser detido neste processo, depois do ex-primeiro-ministro José Sócrates. São amigos pessoais e foram ambos ministros nos governos de António Guterres. O antigo gestor e ministro - que foi condenado mas recorreu no processo Face Oculta (ver texto nesta página) - foi detido pela PSP, tendo passado a noite na cadeia do Comando Metropolitano de Lisboa desta polícia. Uma vez que será presente a um juiz de instrução, isto quer dizer que o Ministério Público defende a aplicação de uma medida de coação superior ao Termo de Identidade e Residência. Sendo certo que Armando Vara, uma vez que ainda é arguido no processo Face Oculta, está obrigado a comunicar ao Tribunal de Aveiro qualquer ausência do país por um período superior a cinco dias. Resta saber - o que deverá acontecer hoje - qual a medida de coação que será pedida pelo procurador Rosário Teixeira..A "entrada" de Armando Vara na Operação Marquês como arguido indicia que a investigação pretende apurar quais os motivos, em concreto, que levaram a CGD, em 2006, a financiar o negócio de Vale do Lobo, ficando com 25% do ca-pital da empresa que gere o empreendimento de luxo. A CGD, por sua vez, já colocou aquela participação à venda. Porém, várias informações já tornadas públicas revelam que entre os promotores de Vale do Lobo e o banco do Estado existe uma dívida de 300 milhões de euros. A CGD participou na aquisição do empreendimento Vale do Lobo com outros operadores: os restantes 75% do capital do resort de luxo terão sido adquiridos por empresas de Hélder Bataglia, Rui Miguel Oliveira e Costa e Pedro Ferreira Neto. No total, o empreendimento terá custado cerca de 112 milhões de euros, com a CGD a pagar 28 milhões de euros pela sua parte de 25% e a conceder aos restantes parceiros o que faltava do financiamento para a aquisição do resort de luxo..Vale do Lobo e as PPP rodoviárias, o TGV, a Parque Escolar e as casas na Venezuela são negócios em que o Ministério Público suspeita de que tenham gerado "luvas" para José Sócrates, que justificarão os 23 milhões de euros acumulados nas contas do amigo Carlos Santos Silva. A ligação destes movimentos financeiros a José Sócrates surge, segundo o Ministério Público, através de uma transferência de 12 milhões de euros que terá sido feita por Hélder Bataglia para uma conta na Suíça titulada por Carlos Santos Silva, um amigo de Sócrates e também arguido na Operação Marquês. O dinheiro foi, posteriormente, transferido para Portugal ao abrigo do Regime Extraordinário de Regularização Tributária, sendo, a partir de 2012, e de acordo com os dados recolhidos pela investigação, Sócrates praticamente o único beneficiário do dinheiro.