Vamo-nos apaixonar por Soko e Lily-Rose Depp

Lily-Rose Depp, a filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis, e Soko, personagem singular da cena rock de Los Angeles. São as atrizes fora do baralho de A Dançarina, de Stéphanie Di Giusto
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Loïe Fuller, pioneira da dança moderna e da iluminação teatral, pedia uma atriz de raça para a história da sua vida. Isadora Duncan, dançarina e também considerada a precursora da dança moderna, pedia uma atriz de finura extrema. Para A Dançarina, de Stéphanie Di Giusto, o casting era o ou tudo ou nada. Esta produção francesa com os irmãos Dardenne nos créditos como produtores, não poderia ter acertado mais em cheio. Soko é uma incrível Fuller, a criadora da dança serpentine. A cantora francesa com pose punk dá à personagem uma dolência e uma força que são notáveis do começo ao fim. Para o papel de Isadora Duncan, a escolha recaiu em Lily-Rose Depp, que por estes dias é das atrizes mais solicitadas. Uma presença com a leveza que só o cinema pode ter.

Quando as duas enfrentam um grupo de jornalistas internacionais no último festival de Cannes, na memória ainda está a gala de abertura da secção Un Certain Regard, onde A Dançarina teve a sua estreia, na noite anterior. Uma sessão marcada por uma aclamação que envolveu aplausos sentidos de mais de dez minutos. Soko e Lily Rose Depp estão de mãos dadas. "O que se passou ontem é que tínhamos lá todos os nossos amigos", brinca a filha de Johnny Depp num vestido onde se vê, de forma cruel, a sua magreza extrema. "Mas foi surreal ver depois aquelas centenas de pessoas a reagirem com toda aquela excitação. Ficámos muito felizes e foi estranho estar ali a olhar para as pessoas - quantas vénias eu podia fazer?", continua Soko comovida.

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Para Lily, a oportunidade de se tornar Isadora Duncan fazia todo o sentido: toda a sua juventude foi bailarina e é a própria quem confirma semelhanças: "Claro que sou também determinada como ela. Só espero é não ser tão manipuladora..." O novo rosto da Chanel vai também ser visto em 2017 ao lado de Natalie Portman em Planetarium, um filme falhadíssimo de Rebecca Zlotowski, enquanto roda com o pai Moose Jaws para a câmara de Kevin Smith. Ainda sobre a rivalidade entre as duas figuras da dança, Lily não tem dúvidas: "Tinham uma aproximação e conceção da dança bem diferentes uma da outra. Enquanto a Loïe acreditava que tinha de se destruir para levar a sua arte ao público, a Isadora acreditava antes que tudo teria de vir organicamente e que era importante estar-se bem para a arte ser criada."

Para Soko, esta história de Loïe Fuller era importante: "este filme vai trazer para a luz alguém que ficou injustamente esquecida. O tempo encarregou-se de apagar a sua memória mas, na verdade, permanece um ícone. O que a Stéphanie, a realizadora, conseguiu é notável: uma pesquisa justíssima que nos deixa perto daquilo que ela quis transmitir ao mundo, não só a nível de dança mas também de cenografia, escrita, desenhos e iluminação." Neste caso, uma coreografia de luz, sombras e movimentos com enormes tecidos brancos.

Depois, o outro milagre do filme é Soko dançar a sério. Dançar como Fuller. Como foi possível? "meses do treino mais duro que possa imaginar e eu sou a pessoa mais trapalhona do mundo! Foi muito estranho e acabei por ter uma relação com o meu corpo que não foi nada confortável. Para o meu ego foi algo do género: não consigo, mas vou ter de conseguir! Ninguém poderia fazer as cenas por mim, teria mesmo de ser eu... Passei por tudo: dores horríveis que me impediam de andar, feridas, nódoas negras, etc. Além do mais, a minha energia é mais masculina. "

Entre as duas, os métodos foram mesmo diferentes. Lily não se preparou com antecedência, quanto mais não seja porque estava atarefada noutras produções, mas também porque o importante era dançar com a maior normalidade possível: "a realizadora quis que fosse uma experiência libertadora para mim. Limitei-me a trabalhar com a coreógrafa. Tentei não ter nenhuma das minhas emoções, ou seja, perder-me na Isadora. A Isadora fazia exatamente isso: deixava tudo para trás e deixava-se ir."

Numa coisa as atrizes estão de acordo: "isto não é um biopic. A realizadora quis antes fazer um showcase de toda a arte de Loïe Fuller, com todos os seus obstáculos." O resultado está aí de forma espampanantemente emocional e com a mensagem feminista da moda. Soko vai continuar a ser uma "ave rara", Depp... logo se vê. "Os meus pais tentam não me dar muitos conselhos pois sabem que a carreira é minha", conta Lily na despedida. Na noite anterior, a mãe, Vanessa Paradis, foi uma das muitas pessoas que aplaudia incessantemente o filme...

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