Uma visita à laguna em busca das lontras

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"Paciência e tempo" é a principal recomendação para quem aceitar o desafio de descobrir os "segredos dos esteiros" da zona lagunar de Salreu, em Estarreja, distrito de Aveiro, um valioso ecossistema que guarda espécies raras, algumas muito esquivas ao olhar humano.

Os caminhos de acesso aos campos agrícolas, onde ainda existem alguns arrozais em actividade, deixaram de ser apenas reduto de lavradores e caçadores, com a criação dos percursos pedestres destinados à observação da avifauna, atraindo numerosos visitantes em busca do contacto mais próximo com a natureza.

Patrocinado pela câmara local, o projecto de ecoturismo BioRia começou muito antes com o levantamento e estudo de um património natural de características únicas, quer pela existência do raro 'bocage', quer de algumas espécies raras, como uma das maiores comunidades de lontras da Europa e as colónias de garças-vermelhas que ali passam a Primavera a nidificar.

O trabalho no terreno à beira ria já valeu a inclusão na exigente rede europeia Destilink, que faz a promoção do turismo sustentável. Salreu foi o único local seleccionado entre os diversos de Norte a Sul do País visitados pelo responsável internacional, o dinamarquês Bjarne Rasmussen.

As actividades de protecção da biodiversidade desenvolvidas nos campos do Baixo Vouga lagunar são consideradas um bom exemplo de gestão equilibrada, de desenvolvimento sustentável e de conservação da natureza, para além da proximidade e colaboração com a comunidade e entidades locais.

"Reconheceram as nossas boas práticas e agora constamos na restrita listagem de vários países. É uma avaliação que nos motiva muito a continuar", contou Rui Brito, biólogo da Universidade do Porto que coordena o projecto BioRia.

O trilho deve ser feito, preferencialmente, a pé ou de bicicleta. São quase dez quilómetros por entre o caniçal que serve de abrigo para aves e mamíferos que ali encontram alimento abundante.

Em Março começa a instalação do centro de interpretação ambiental junto ao esteiro de Salreu. Orçado em 40 mil euros, será inspirado nos tradicionais palheiros, edificações características das zonas marinhas da ria de Aveiro. Um local de recepção dos visitantes e de formação ambiental. A Nestlé, com uma fábrica no concelho, associou-se como mecenas.

Os visitantes são bem-vindos pelos residentes. Manuel Correia, que instalou uma taberna em antigas casas de lavoura, só tem "uma mágoa". As entidades estão a esquecer outras acções, "mais importantes" para defender a biodiversidade, como uma intervenção de limpeza do sistema hidráulico para permitir a boa circulação das águas salgadas e evitar inundações que "queimam tudo à frente".

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