Na Conversa em Família, transmitida na RTP em 28 de Março de 1974, Marcelo Caetano define o levantamento das Caldas como um "triste episódio militar". Descontraído, pausado no falar, o último presidente do Conselho do Estado Novo, com intuito de serenar as suas hostes, lamenta a divulgação que o acontecimento teve além- -fronteiras..Os meios de informação de muito países, diz Marcelo, "seguiram e avolumaram o triste episódio militar". E, afinal, tudo não passou de uma insignificante "irreflexão", ou, "talvez, ingenuidade de alguns oficiais". O regime parecia firme, e a prova disse foi a forma como o Governo mandou prender os principais cabecilhas do movimento..Como que a olhar os portugueses nos olhos, o sucessor de Oliveira Salazar pergunta se as notícias no exterior sobre o que "lamentavelmente" aconteceu davam o retrato fiel do País. "Ficou por esses meios de informação o mundo melhor informado do que se passa em Portugal?".Não. Claro que não ficou, garantia Marcelo. E, de seguida, sempre em tom sereno, lembrava aos autores de "frequentes queixumes" sobre a censura na nossa informação que, por certo, deviam estar muito enganados. "Nada do que ao público interessa deixa de ser trazido ao conhecimento dele", garantia o presidente do Conselho. .Na clandestinidade, a direcção do PCP contestava as palavras de Marcelo Caetano. O regime "fascista e colonialista", como se provou pouco tempo depois, vivia em Março de 1974 uma das suas maiores e mais profundas crises.."Com as roturas verificadas no seio das Forças Armadas, assim como numa parte do clérigo católico" - referia um comunicado de Março de 1974 da Comissão Executiva dos comunistas - o Governo "está acossado por todos os lados". Junte-se ainda frequentes divergências entre "os clãs fascistas e colonialistas", que forçam Marcelo Caetano a constantes remodelações ministeriais.