Uma perda de tempo

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Não alterar a matriz de risco da pandemia para melhor se adaptar à nova realidade e não remodelar o governo são não decisões com algo em comum: uma enorme perda de tempo.

No caso do Executivo, há muito que uma remodelação ora está em cima da mesa ora está debaixo da mesa, assunto sobre o qual já aqui escrevi há largos meses. São vários os ministros que têm sido apontados como remodeláveis. No topo da(s) lista(s) surge, consecutivamente, Eduardo Cabrita, o governante que lidera a pasta da Administração Interna, que tem na sua alçada as polícias, o serviço de estrangeiros e fronteiras, os incêndios, etc. No passado dia 18, um barómetro da Aximage publicado pelo DN, JN e TSF apontava isso mesmo: 81% dos inquiridos pedem uma remodelação, com Cabrita à cabeça.

A amizade forte que une o governante ao primeiro-ministro, António Costa, será a sua bóia de salvação, mas veremos até quando. Este verão, os incêndios já voltaram em força, como foi o caso do que atingiu os concelhos de Portimão e Monchique, há cerca de uma semana, provocando 41 feridos e 49 desalojados e exigindo a intervenção e empenho de mais de 300 bombeiros. Já em 2018 Monchique tinha sido fortemente fustigado pelas chamas, assustando milhares de turistas nacionais e estrangeiros que procuram aquele paradisíaco destino da serra algarvia para as suas férias.

Uma vez mais, a prevenção dos fogos falhou em 2021. Depois de tudo o que sucedeu em Pedrógão, no fatídico ano de 2017, parece que pouco ou nada foi aprendido.

A esta situação junta-se agora um outro fogo: o dos festejos do Sporting. Ninguém terá defendido a proibição dos festejos, segundo a investigação desenvolvida e cujas conclusões fazem parte de um relatório da IGAI aos acontecimentos. Em causa está uma troca de mensagens e um ofício de Eduardo Cabrita, segundo o mesmo relatório da IGAI. O ministro terá informado nesse ofício o secretário de Estado que na reunião que decorreu entre o Sporting, a Câmara de Lisboa e o Ministério foi escolhida a "terceira hipótese" entre as três que foram discutidas entre o clube e a autarquia. Na sequência desse ofício, o secretário de Estado da Administração Interna, comunicou à PSP para se "articular" com o Sporting e a Câmara Municipal de Lisboa para assegurar que todas as regras, incluindo da Direção-Geral da Saúde, seriam cumpridas e postas em prática. Ora, a terceira hipótese escolhida, que foi aquela que resultou na viagem do autocarro do Sporting pela cidade de Lisboa, tinha a oposição da DGS e da PSP. Se o ministério validou os festejos ou se é puro delírio, o povo não sabe (ainda), mas viu que as celebrações não foram bloqueadas. Das duas uma: ou se optou pelo "deixa andar" ou alguém deu indicações claras. Se não deu, deveria tê-lo feito no sentido do impedimento de tais comemorações, de onde terão surgido mais contágios por covid-19. Cabrita considera "um delírio" (como afirmou na sexta-feira) dizer-se que validou os festejos do Sporting. Mas há vários juristas com opinião diferente e o líder da oposição, Rui Rio, acusou o ministro de mentir no Parlamento sobre os festejos leoninos.

Adiar remodelações de postos de comando tão importantes quanto este é apenas uma perda de tempo.

Diretora do Diário de Notícias

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