Uma noite que valeu 40 anos de telenovelas

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Uma longínqua sala maluca pela noite dentro foi o passatempo de muitos portugueses. O deputado Jair Bolsonaro, que iremos conhecer melhor como candidato às próximas presidenciais do Brasil, caprichou. Não o vou apresentar, ele encarregou-se disso. Dedicou o seu voto ("sim" pela impugnação) "ao coronel Brilhante Ustra". Não sabem quem é? Bolsonaro explica: "[Ustra] foi o pavor de Dilma Rousseff." Isto é, o coronel que torturou a presidente brasileira, quando ela esteve presa durante a ditadura. Barbaridade dita num parlamento, com o povo eleitor a assistir pela televisão. Mas, em vez de nos indignarmos com o furúnculo, devíamos dar atenção à doença endémica. Raquel Muniz, deputada de Minas Gerais, também foi pela queda de Dilma: "O meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós com a sua gestão." Ela referia-se ao marido, que a acompanhou a Brasília, para a ver votar "sim, sim, sim", aos saltos. Horas depois, ontem, o prefeito Muniz foi preso, acusado de vigarice na sua empresa, um hospital particular em Montes Claros. Ontem, ainda, vários deputados declararam que Eduardo Cunha - indiciado como corrupto - já não deverá ser demitido de líder do parlamento porque dirigiu bem o impeachment de Dilma. Acusar outra livrou-o de acusado... Corrupção, um caldo que foi cultivado e generalizado pelo PT, o partido da vítima de domingo, Dilma. O Brasil precisa não sei de quê, mas precisa.

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