As árvores ficam onde estão. O oposto sucede no coração humano.Afinal, não é a única. Longe disso. Já Rui Veloso avisava: "Nunca voltes ao lugar onde foste feliz, por muito que o coração diga não faças o que ele diz." Santa Montefiore voltou e deu-se conta de que havia perdido algo especial. Queria repetir o passado mas pretender bisá-lo numa nova história é impossível... o presente estará sempre em comparação. Daí ocorreu-lhe escrever um livro que lhe permitisse recuperar o seu amor pela Argentina, o país que lhe roubou o coração. .Assim nasceu o livro AÁrvore dos Segredos, que a escritora inglesa apresentou, na terça-feira, em Lisboa. Um romance entre duas pessoas que se amam, separam-se, encontram-se anos depois e tratam de recuperar o passado, à semelhança de Amor em Tempos de Cólera de Gabriel García Márquez, o favorito da autora. Tal como Santa, quiseram recuperar o passado, a novela é por isso "um paralelo, uma alegoria", da sua experiência, como disse ao DN gente..Mas, amor, que novidade é essa? Já nos dizemos apaixonados desde há... bem, sempre. Até a Bíblia enfatiza o assunto. Então para quê mais um livro sobre a vida de uma família, os seus amores e consequentes misérias, à flor da pele? Apesar do aparente lugar- -comum, Meet me Under the Ombu Tree - no seu título original - parece um passo ambicioso porque se trata de "uma carta de amor às Pampas". Santa - na época Palmer-Tomkinson - aventurou-se até à Argentina com apenas 19 anos, naquela que seria a sua primeira viagem a solo, para ensinar inglês a três crianças de uma família com ascendência suíça. .Depois de anos no colégio interno Sherborne School for Girls, em Inglaterra, "fui viver com uma família incrível. O pai tinha quatro irmãos, cada um com cinco filhos que viviam naquela herdade nas Pampas. Partilhavam o campo de pólo, de ténis, a piscina e cinco deles tinham a minha idade", recordou a escritora. Já trazia de Inglaterra este amor pela ruralidade. Também o seu pai era se- nhor de extensa propriedade com casa grande onde passou a infância. Mas na Argentina as férteis planícies, os odores dos eucaliptos, dos jasmins, a humidade e a diferença cultural marcaram- -na para sempre. No seu regresso, um ano depois de voltar a Inglaterra, tudo tinha mudado. E, com a mudança, o desejo de escrever um livro de sensações. .Passados 15 anos e oito livros desde que escreveu AÁrvore dos Segredos, reconhece que o começo não foi fácil: "Mandava as minhas histórias para as editoras e eram rejeitadas." Até que uma saiu da emoção e valeu a publicação. Antes de ganhar a vida como escritora era assistente de marketing nas jóias Theo Fennell, designer que cria as cruzes para Elton John. "Tinha um trabalho que podia fazer sem pensar muito porque a minha verdadeira vocação era escrever", explicou. Mais tarde trabalhou com Ralph Lauren e foi no seu elegante escritório que escreveu o livro: "Os meus agradecimentos ao computador de Ralph Lauren.".Por amor voltou a mudar, não a geografia mas a religião, convertendo-se ao judaísmo. "Não sou muito religiosa, sou mais espiritual. Creio em Deus, no amor, no perdão... mas não identifico Jesus como um deus, para mim é um profeta." Depois de se converter, viajou como o marido - o historiador Simon Sebag Montefiore - a Israel, e confessa que a nova fé lhe abriu muitas portas..Entre os seus amigos contam--se membros da monarquia inglesa. O príncipe Carlos foi uma das pessoas que estiveram no seu casamento com Simon. Tudo pela proximidade que a mãe de Santa tem com o príncipe, sendo a sua confidente. .Quanto ao futuro, espera escrever um livro por ano. Tudo depende da imaginação.