James Higgins tem oito anos e adora basebol. Como muitos fãs dos Red Sox, a equipa de Boston, quando for grande quer ser jogador profissional. Um sonho que, no entanto, concilia com outro menos convencional: ser Papa. Na quinta-feira, James vai assistir a uma missa em Washington celebrada por Bento XVI, que hoje inicia uma visita de cinco dias aos Estados Unidos. Recebido com pompa e circunstância pelo Presidente George W. Bush, o Papa encontrará naquele país uma Igreja em crise, abalada por escândalos de pedofilia e pela falta de fundos..Quando Joseph Ratzinger foi eleito Papa, James Higgins não largou a televisão. Segundo o Washington Times, o menino (então com 5 anos) não queria ver o novo Papa ficar com o nome que quer escolher: Pio XIII. Os pais de James, como dezenas de milhares de americanos, participaram numa lotaria cujo prémio era bilhetes para a missa celebrada por Bento XVI em Washington. E na quinta-feira, o menino poderá ouvir aquele a que ambiciona suceder . .À chegada à base militar de Andrews, o Papa terá Bush à sua espera. Uma honra que Bento XVI será o primeiro visitante estrangeiro a ter. Numa visita rodeada de medidas de segurança - ou não tivesse a Al-Qaeda ameaçado Bento XVI - o Papa irá jantar na Casa Branca. Amanhã, dia do seu 81.º aniversário, 12 mil pessoas esperarão para ouvir o seu discurso; mais do que as que ouviram a Rainha Isabel II. "Primeiro, fala para milhões. Segundo, não vem como político, mas como homem de fé", disse Bush à Global Catholic System quando inquirido sobre estas honras. .Líder de mil milhões de católicos, Bento XVI recebe a aprovação de 80% dos católicos americanos, segundo uma sondagem da Universidade de Georgetown. Mas é uma Igreja em crise que esperava ontem a sua visita. Minada pelos escândalos de pedofilia, que vieram a público em 2002, a Igreja católica americana atravessa problemas financeiros. Foram mais de cinco mil vítimas e dois mil milhões de dólares em indemnizações, que deixaram muitas dioceses na falência. Uma crise que parece longe do fim. Segundo o New York Times, as famílias de dois rapazes apresentaram há dias queixa contra um padre do Massachusetts que acusam de ter molestado os meninos em 2005. A falta de dinheiro levou ao encerramento de paróquias e escolas. ."Jovem e imprevisível", como especialistas em religião a descreveram ao Washington Post, a Igreja católica americana é feita de contradições. Representando 24% da população, os católicos são o maior grupo religioso (se dividirmos os protestantes nos vários ramos). Mas são também os que mais mudam de religião - um em cada dez já deixou a Igreja católica. Em crise de vocações, os católicos estão em crescimento devido ao fluxo de imigrantes latinos. Estima-se que em 2030, estes representem 50% dos católicos americanos. Mas a sua chegada aos enclaves urbanos até agora dominados por italianos, irlandeses ou polacos nem sempre é pacífica. .A visita de Bento XVI - que raramente viaja, ao contrário do seu antecessor, João Paulo II, que visitou os EUA seis vezes - revela a importância da Igreja americana para o Vaticano. Apenas 6% dos católicos no mundo, os americanos superam essa percentagem em termos de peso cultural e financeiro. Talvez por isso Bento XVI decidiu levar até eles a sua luta: provar que a modernidade não é incompatível com a fé. Uma sondagem Washington Post-ABC News revelou que os americanos são católicos atípicos: 62%, por exemplo, defendem que o aborto deve ser legal (contra 57% no total da população). E enquanto esperam para saber como será o seu futuro, centenas de milhares de católicos - do Texas à Costa Leste - já começaram a preparar a "peregrinação" para ver o Papa. De Washington, este segue para Nova Iorque, onde irá falar na ONU.|