Uma arma só é útil se tiver munições

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O país pode chegar aos quatro mil casos diários de covid-19 em apenas duas semanas. Um alerta da ministra da Saúde, Marta Temido. Nem o facto de a vacinação estar a acelerar - ainda ontem foi atingido um novo recorde de inoculações diárias de 141 500 - tem permitido um controlo da situação.

O contraciclo em que o país esteve acabou. Portugal iniciou uma escalada perigosa de transmissibilidade e os jovens dos 20 aos 29 anos estão a registar elevado pico de contágios, bem como a franja com menos de 20. Os internamentos voltaram a subir esta semana e as projeções admitem uma situação muito próxima da que foi registada na terceira vaga ou até pior do que aquela que sucedeu em janeiro. Agora o problema já não está só na Área Metropolitana da Lisboa, mas também na região Norte e no Algarve.

A Ordem dos Médicos defende uma nova matriz de risco, essencial para proteger a saúde e a economia, considera o bastonário, Miguel Guimarães. Alerta ainda para a necessidade de medidas alternativas, desde uma comunicação eficaz a medidas de prevenção, higiene e distanciamento, a manutenção do teletrabalho, um maior controlo e mais testes em massa, inclusive por parte das empresas privadas que exigem que os seus trabalhadores estejam presencialmente no emprego. São propostas da Ordem dos Médicos que fazem sentido, antes de se avançar, eventualmente, para um novo confinamento rígido e que precisaria do respaldo jurídico do estado de emergência, solução que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem vindo a afastar.
Já todos sabemos que uma dose da vacina não está a ser suficiente para nos proteger deste novo vírus. A vacina é a arma que nos vai defender desta pandemia, mas essa arma só é útil e só pode disparar se tiver as munições certas, que, neste caso, são duas doses.

Para controlar a situação, ajudará o facto de as crianças ficarem todas de férias nos próximos dias. Mas se, por um lado, o fim do calendário escolar contribuirá para conter os surtos, que em junho estavam a proliferar em estabelecimentos de ensino, por outro lado é preciso saber onde vão ser deixadas as crianças durante todo o verão, o que vão fazer e com quem ou com quantas pessoas irão estar. Esse controlo é determinante para conter novas situações de contágio dentro das próprias famílias.

Este ainda não será o verão normal que tanto desejávamos. E, provavelmente, vamos ter de nos habituar a conviver com o coronavírus. Vejamos o que está a acontecer na China: a Comissão Nacional de Saúde daquele país anunciou ontem que detetou mais de duas dezenas de novos casos de covid-19, em apenas 24 horas, na província de Yunnan. A preocupação deste ressurgimento de infeções está a deixar de novo o país em estado de alerta. E quando a Ásia se constipa, já se sabe, pode voltar a contagiar o resto.

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