Um retrato espirituoso da terceira idadeSobreviver no quotidiano da favela Prego a fundo e carros estampados Um grande filme sobre os anos 80

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O quarto filme da série iniciada com Velocidade Furiosa (2001) volta a juntar o quarteto original (Paul Walker, Vin Diesel, Michelle Rodriguez e Jordana Brewster) em mais uma história que serve apenas de pretexto para que as personagens carreguem no prego a fundo, queimem borracha, contribuam para a poluição atmosférica e façam as delícias dos bate-chapas e sucateiros. Só que o espírito "B" que animava a série abandonou-a no segundo filme.

Um esplendoroso exercício do mais genuíno e ancestral realismo do cinema britânico, aqui aplicado na elaboração de uma crónica desencantada dos anos 80 de Margaret Thatcher e, mais especificamente, na desmontagem da odisseia de um rapaz de 12 anos que descobre as convulsões da vida através da sua "adopção" por um grupo ligado à extrema-direita. Aqui há o fôlego e a intensidade de uma epopeia sobre a difícil arte de sair da infância.

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Uma mãe solteira grávida e os quatro filhos que teve de outros tantos homens aguentam o calvário do dia-a-dia enquanto tentam resistir ao desespero, e sobretudo à omnipresente tentação da delinquência, numa favela de São Paulo. Sandra Corveloni, que interpreta a mãe, ganhou o Prémio de Interpretação Feminina no Festival de Cannes pelo seu papel em Linha de Passe, que tem um gene de telenovela "social" e outro de realismo não miserabilista.

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Gianni di Gregorio estreia-se na realização com um filme que faz a crónica de um imaginado fim-de--semana do feriado de 15 de Agosto em que, para pagar um favor ao administrador do condomínio onde vive com a sua idosa e possessiva mãe, tem que receber em casa a mãe deste (e outras vetustas senhoras). Gianni vê-se, assim, obrigado a dedicar todo o seu tempo a um grupo de idosas caprichosas que fazem dele um autêntico pajem! Contudo, Gianni é um homem bom, e aceita as suas cruzes com paciência e incansável solicitude, tudo fazendo para servir e agradar às suas velhas damas. A história tem inspiração na vida real do realizador (e também protagonista), nomeadamente nos muitos anos em que viveu sozinho com a sua idosa mãe num apartamento em Roma. Produzido por Matteo Garrone, este é um retrato castiço e espirituoso da terceira idade com uma dimensão singelamente caseira. Contando com actrizes amadoras (todas elas espantosamente naturais), Almoço de 15 de Agosto possui também a arte de conseguir fazer muito com muito pouco.

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