Um príncipe italiano que se converteu ao islão

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Felice Pallavicini foi o primeiro príncipe italiano a converter-se ao islão. E também o primeiro italiano em cuja família existiram cardeais, bispos e até um Papa, a professar que Alá é o único Deus e Maomé o seu Profeta. Pallavicini nasceu em 1926, em Milão, no seio de uma família nobre, mas tornou-se Shaykh 'Abd al-Wahid 25 anos depois.

Católico praticante e antifascista monárquico, Pallavicini esteve detido numa prisão em Turim durante a ditadura de Benito Mussolini. O príncipe conseguiu, contudo, escapar ao fuzilamento e acabou por ser libertado a 25 de Abril de 1945, com a queda do ditador.

Foi nessa altura que sentiu a necessidade e a "sede de conhecer" mais sobre o "misticismo e a transcendência". O encontro com um filósofo francês esotérico, René Guénon, convertido ao islão, e a leitura das suas obras levaram finalmente o príncipe Pallavicini a abraçar a religião muçulmana.

O primeiro convertido moderno ao islão afrontou o horror e o escândalo da sua família, para quem o islão era sinónimo de árabes sujos, ignorantes, ladrões e malcheirosos. Depois de um longo percurso espiritual mudou o nome para xeque 'Abd al-Wahid, o "Servo Mestre do Único" e em 1980 recebeu uma autorização para organizar na Europa um ramo autónomo da confraria islâmica AhmadiyyaIdrisiyyahShadhiliyyah.

Shaykh 'Abd al-Wahid é presidente da CO.RE.IS (Comunidade Religiosa Islâmica), a confraria islâmica com sede em Milão a que pertence a maioria dos italianos muçulmanos e que conta com dez delegações regionais em toda a Itália. A CO.RE.IS é o único organismo islâmico que apresentou um pedido para o reconhecimento jurídico como entidade moral em Itália.

Em 1986, o Centro Cultural Islâmico de Itália, o organismo que administra a mesquita de Roma, nomeou Pallavicini responsável pelo diálogo inter-religioso, em especial com o cristianismo. De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o príncipe é também o representante do Islão em todas as principais reuniões institucionais em Marrocos, Egipto, Argélia, Tunísia, Líbia ou Irão.

Aos 79 anos continua elegantíssimo com a sua longa barba branca sempre penteada, com o vigor e entusiasmo de um jovem. Veste a tradicional jallabia preta, até aos pés, que lhe acentua um certo aspecto oriental, mas mantém o anel de brasão no dedo mínimo. Casado com uma japonesa muçulmana, Shaykh 'Abd al-Wahid tem participado sempre nos encontros de paz em Assis, promovidos pelo Papa João Paulo II, que considera "um muçulmano como nós", pois reza "ao mesmo Deus".

Em 2001, em Paris, na sede da UNESCO, o príncipe Shaykh 'Abd al-Wahid, participou na constituição da Conferência Islâmica da Europa, a primeira organização não governamental islâmica reconhecida pela União Europeia. Depois dos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos a CO.RE.IS deu ênfase ao valor e dignidade da religião islâmica e lembrou que o islão é contra toda a violência que tem como objectivo explorar as crenças religiosas.

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