José Filipe Torres. Criou uma empresa de marketing de países (country branding) há cinco anos. Hoje, a companhia está na lista das cem mais inovadoras de Espanha e tem escritórios em vários países. Chegou a Madrid sozinho, mas continua a dizer que é a melhor cidade para viver . .Quando os portugueses lhe perguntam porque, gostando tanto do seu país, prefere estar em Madrid, José Filipe Torres, 31 anos, tem duas respostas: "Porque aqui as pessoas estão contentes. E porque posso fazer mais por Portugal estando fora." Chegou a Madrid há cinco anos e a sua empresa, Bloom Consulting, entrou na lista das cem companhias mais inovadoras de Espanha. Tem escritórios em seis cidades - Madrid, Lisboa, Copenhaga, São Paulo, Sofia e Miami -, empregados de oito nacionalidades e trabalha com centros de estudos do consumidor em Tóquio, Washington e Estocolmo..Mas o que José Filipe faz - branding -, é ainda algo pouco conhecido do público e mesmo das empresas. E o que ele deseja fazer - country branding, ou seja, trabalhar a marca de países -, é qualquer coisa ainda mais recente, com raros especialistas. José Filipe trabalha marcas, muitas delas portuguesas, como a Renova ou a Delta. E agora, ambiciona que o sucesso que teve com essas companhias, se transporte para as suas contas com países - trabalha com a região de Madrid, Espanha, Bulgária, e Letónia..Num restaurante da capital espanhola, aponta para a primeira página do El País, que anuncia como os trabalhadores portugueses, despedidos de fábricas de têxteis falidas, procuram trabalho no outro lado da fronteira. Um deles dizia: "É uma tristeza, aqui não há esperança." José Filipe estava incomodado: "É isto que não quero que aconteça, se estas empresas tivessem trabalhado as suas marcas esta gente tinha emprego. Não quero que os portugueses tenham de vir apanhar morangos em Espanha.".José Filipe cresceu entre o Estoril e uma quinta em Ourém. Nunca estudou na universidade e, aos 18 anos, cortava papel na agência de publicidade Novo Design (Brandia). Mas começou a interessar-se pelo trabalho dos designers e os responsáveis da empresa perceberam o seu potencial - ajudaram-no a estudar em Nova Iorque e Londres. Começou então a procurar emprego na capital inglesa. .Fê-lo de uma forma persistente, durante dois anos, indo 20 vezes a Londres para entrevistas, até que uma dessas companhias lhe ofereceu um lugar em Madrid. Dois anos mais tarde, porque descobriu o branding, e achava que podia fazer melhor, fundou a Bloom Consulting: "No início, os bancos nem olhavam para mim. Ia a Lisboa duas vezes por semana, de autocarro (nove horas), para ter reuniões com clientes.".Um dos seus desejos profissionais é trabalhar a marca de Portugal, algo que já fez em mais que uma ocasião. Mas quer, com as metodologias que criou, aplicar a sua estratégia. Por isso, no final do ano passado, abordou Cavaco Silva na visita do Presidente a Madrid. José Filipe defende que a marca de um país tem de estar por cima das políticas partidárias, e que o Chefe do Estado tem de funcionar como CEO. E explica: "Se falarmos em Espanha ninguém pensa em biotecnologia, mas em praias. A identidade de um país já existe, se quisermos mudar não conseguimos. O branding de um país não tem a ver com os valores da nação.".José Filipe dá conferências por toda a Europa. Há duas semanas, no conceituado Instituto de Empresas, em Madrid, falou de Portugal. Disse que, num estudo recente, a maioria das pessoas identificavam Portugal com a pesca, sendo que a pesca é menos de um por cento do PIB. E mostrou que Portugal pode ser mais que turismo. Portugal tem que ser as suas marcas (deu o exemplo da Nokia na Finlândia). E mostrou invenções portuguesas de sucesso em todo o mundo, como as pen usb, ou a descoberta de uma molécula marinha que permite manter a roupa quente. Para ele, Portugal é engenho. Portugal deveria ser, para o mundo, a imagem da criatividade. É a Real Criativity (marca registada). No início da intervenção, José Filipe dissera, diante de uma plateia especializada e multinacional: "Se quando acabar vocês não mudarem a vossa opinião sobre Portugal, então o country branding não funciona." E eles mudaram. |